Após ataques terroristas feito por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, no domingo (8), especialistas estão com opinioes divergêntes sobre os possíveis impactos no avanço da pauta econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Alguns especialistas afirmam que que a dissolução dos atos antidemocráticos exige uma prioridade no governo, podendo causar um atraso nas discussões sobre a política fiscal e na negociação de reformas no Congresso. Outros defendem que essa resposta rápida do presidente aos atos antidemocráticos e a união dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário trouxe uma maior segurança no mercado e um ganho político ao novo mandato de Lula, facilitando o desenrolar dos planos governamentais.
Bolsonaristas invadindo o Congresso em tentativa de golpe. (Foto: Reprodução/Evaristo Sá/AFP)
O pacote economico, com auxílio da maior segurança no mercado, anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), na semana passada, foi bem recebido. Logo, alguns especialistas dizem que os ataques não impediram as instituições de continuarem trabalhando e de estarem focadas agora.
O presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), Pedro Afonso Gomes, explica que os ataques têm pouca importância para o progresso do debate fiscal e das discussões sobre ajustes no orçamento e reforma tributária. Temas que o governo Lula está sendo cobrado para achar uma solução.
“Do lado do mercado, se a resposta do governo [para os atos antidemocráticos] tivesse atrasado ou demorado, acho que os efeitos poderiam ser piores. Mas a questão foi resolvida rapidamente e a maioria dos agentes econômicos trabalha no médio e longo prazo. O mesmo acontece do ponto de vista do fiscal, onde já vemos o quadro começar a evoluir”, esclarece o presidente do Corecon-SP.
O advogado, economista e conselheiro deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alessandro Azzoni, disse que já perceberam um posicionamento mais firme do Lula, que tem pedido que os ministros apresentem resultados. “Houve um freio por conta dos atos antidemocráticos e é natural, já que o governo precisa dar uma resposta à altura, não só na política, mas na parte criminal também. Mas agora, já vemos o pessoal mostrando trabalho“.
Entre as medidas trazidas por Haddad, para tentar reduzir o rombo das contas públicas e conter a dívida alta no setor público, há um novo programa de parcelamento extraordinário de dívidas, a intenção de reduçao de R$50 bilhões em despesas, entre outros.
Alguns economistas acreditam que as medidas anunciadas pelo governo trouxeram uma maior força política para Lula, podendo diminuir eventuais divergências no Congresso, atenuando os posicionamentos mais radicais e facilitando a articulação com os parlamentares. Logo, facilitando o encaminho de pautas para a agenda econômica.
Outros especialistas enxergam ainda desarticulação com os parlamentares para o novo governo. O cientista político do Insper, Carlos Melo, disse que os ataques terroristas desviam parte da atenção das medidas econômicas necessárias.
“Primeiro que não tem como fazer um ajuste mais sustentado e duradouro [na economia] com tudo o que está acontecendo no Distrito Federal. Não dá para pensar que veremos um grupo invadindo a Praça dos Três Poderes, intervenção federal e tudo o que aconteceu nos últimos dias, e acreditar que o país vai respirar normalmente”, explica Carlos Melo.
A leitura também diz que o perfil mais liberal do Congresso no novo mandato de Lula é diferente do primeiro mandato, em 2003, do presidente. A aprovação de pautas na agenda econômica pode ser dificultada mesmo com o ganho político para Lula pelas rápidas respostas aos ataques.
O cientista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, afirma que o novo governo já nasce com capital político limitado por conta de uma rejeição ainda alta do presidente, das sinalizações do cenário de desaceleração econômica e dos problemas institucionais que precisou já lidar com. “Assim, boa parte do esforço desse capital político será empregado em questões mais espinhosas que já estão batendo à porta já no início desse governo. Então, acredito que a alternativa será um ajuste fiscal mais gradual, de médio e longo prazo”, diz.
Foto destaque: Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Reprodução/Mauro Pimentel/AFP.