Nesta sexta-feira (06), a ativista iraniana Narges Mohammadi foi anunciada como a vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2023. Solidificando seu papel como uma das principais vozes na luta pela igualdade e pelos direitos das mulheres no Irã, Mohammadi é a 19ª mulher a receber o prestigioso prêmio, que foi concedido 92 vezes a homens ao longo de sua história de 122 anos.
A premiação de Mohammadi ocorre cerca de um ano após o início da onda de protestos no Irã, desencadeada pela morte da jovem Mahsa Amini, presa em 2022 por “uso incorreto” do véu islâmico obrigatório no país. Amini, de apenas 22 anos, foi abordada pela polícia da moralidade e, dias depois, morreu sob custódia policial.
Protestos se espalham pelo país islâmico depois da morte de Mahsa Aminini (Foto: Reprodução/Ricardo Corrêa/Veja)
Narges Mohammadi, atualmente detida, lidera a luta histórica das mulheres no Irã contra a opressão do regime, enfrentando um histórico de prisões e sentenças severas. Ela foi condenada a um total de 31 anos de prisão e 154 chibatadas por seu ativismo em prol dos direitos humanos e da abolição da pena de morte no país. Desde janeiro de 2022, cumpre pena de 10 anos e 9 meses de prisão por espalhar propaganda contra o governo no presídio de Evin, em Teerã, conhecido por abrigar críticos do regime.
O governo iraniano reage à decisão do comitê do Nobel com críticas, acusando o Ocidente de premiar uma prisioneira por suas ações contra a segurança nacional do Irã.
Quem é Narges Mohammadi
Narges Mohammadi é uma ativista iraniana conhecida por seu trabalho em defesa dos direitos humanos, especialmente em questões relacionadas às mulheres e à abolição da pena de morte no Irã. Ela nasceu em 21 de abril de 1972, na cidade de Zanjan, Irã, e se tornou uma figura proeminente na luta pelos direitos das mulheres e contra a opressão do regime iraniano.
Ao longo de sua vida, Narges Mohammadi enfrentou perseguições e prisões frequentes devido a suas atividades de defesa dos direitos humanos. Ela foi presa pela primeira vez há mais de duas décadas, em 2001.
Entre suas atividades, Narges Mohammadi trabalhou como vice-diretora do Centro de Defensores dos Direitos Humanos do Irã, uma organização não governamental dedicada à promoção dos direitos humanos no país. Ela também desempenhou um papel importante na defesa das mulheres e na luta contra as duras restrições impostas às mulheres no Irã, incluindo o uso obrigatório do véu islâmico.
Berit Reiss-Andersen, presidente do Comitê do Nobel, elogiou Mohammadi como uma defensora dos direitos humanos e uma lutadora pela liberdade. Ela declarou: “Nós queremos apoiar sua luta corajosa e reconhecer milhares de pessoas que se manifestaram contra o regime teocrático de repressão e discriminação que tem como alvo as mulheres no Irã”.
Polícia da moralidade do Irã
A “polícia da moralidade” no Irã refere-se a uma força policial conhecida como “Gasht-e Ershad”, cuja função é supervisionar e impor a conformidade com as rígidas leis islâmicas que regulam o comportamento social e moral no país. Essa força policial é encarregada de fiscalizar e aplicar as normas de vestimenta, comportamento público das pessoas, como demonstração pública de afeto, e moralidade islâmica, que é a detenção de pessoas que são consideradas culpadas de transgressões principalmente entre as mulheres.
É importante ressaltar que a atuação da polícia da moralidade tem sido objeto de controvérsia e críticas, tanto dentro quanto fora do Irã. Muitos ativistas de direitos humanos argumentam que suas ações frequentemente resultam em violações dos direitos individuais e na repressão das liberdades pessoais. As rígidas leis de moralidade no Irã continuam sendo um tópico de debate e discussão em relação às questões de direitos humanos e liberdades individuais no país.
Foto destaque: Narges Mohammadi. Reprodução/The New York Times