Manifesto Surrealista comemora centenário com presença marcante no universo fashion

Bianca P. Athaide Por Bianca P. Athaide
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Foto destaque: Estética surrealista no desfile de 2005 da marca holandesa Viktor & amp; Rolf (Reprodução/Marcio Madeira/Vogue)

No período entre as duas grandes guerras, o escritor francês André Breton, comovido pelo terror da Primeira Guerra Mundial, e igualmente convencido de que a racionalidade do universo masculino gerava tantos horrores, procurou uma alternativa “irracional”, baseada nas grandes descobertas feitas durante a época nos campos do subconsciente e da psicanálise. Assim, junto de Yvan Goll, Marcel Alland e Guillaume Apollinaire (criador da denominação), trouxe ao mundo o Manifesto Surrealista.


Capa da revista “Minotaure”, de caráter surrealista, do pintor Salvador Dali (Foto: reprodução/Elle)

O movimento começou limitado ao universo artístico, mas graças a seu caráter fantasioso, seu recorrente uso de jogos visuais e sua inteligente subjetividade, indagou criadores de outros campos de atuação a produzirem, com o propósito de questionar o mundo ao seu redor. A estética surrealista, em pouco tempo, dominou o mundo do cinema, da fotografia e, principalmente, da moda. 

Quando se lê a frase: “Neste verão as rosas serão azuis e a madeira é de vidro”, presente no Manifesto, fica mais compreensível o tamanho do apelo que a vanguarda gerou no universo fashion. 

O Surrealismo fantasioso de Schiaparelli 

Elsa Schiaparelli talvez seja o nome com mais relevância quando o tópico é a moda surrealista, e em plena efervescência desse universo no início do século XX, a estilista italiana abusou da estética irracional de maneira elegante e acentuada.


Traje desenhado por Elsa, no começo dos anos 30, com design chamativo para época (Foto: reprodução/Instagram/@schiaparelli)

Entre as marcas registradas da grife italiana, se destaca a técnica “trompe l’oeil” (metodologia artística que abusa da ilusão de ótica), e a criação de acessórios de formatos irreverentes, como luvas com unhas pintadas, sapatos com saltos em formato de patas de animais e o destaque para a anatomia do corpo humano, com peças, em tamanho exagerado, que replicaram bocas e orelhas.


Acessórios desenhados por Elsa Schiaparelli (Foto: reprodução/Instagram/@schiaparelli)

O DNA surrealista se fez tão forte durante os anos de história da casa, que até hoje, sob o comando do diretor criativo Daniel Roseberry, o espanto ao estranho e a surpresa com o novo são características presentes nos lançamentos durante as principais semanas de moda do calendário internacional. 

O universo onírico de Alexander McQueen

Em meio às turbulências e dúvidas da embaçada década de 90, o icônico estilista inglês Alexander McQueen chocava o universo da moda com suas criações absurdas e muitas vezes arrepiantes, de maneira que inquietava os telespectadores e trazia novamente a tona o princípio surrealista.

Coleção “Dante”, de Alexander McQueen, no ano de 1996, com inspiração no universo do catolicismo (Foto: reprodução/Nick Knight/Dazed)

Com coleções criadas para uma das principais grifes do mercado, a Givenchy, e, posteriormente, sua própria casa homônima, McQueen abusa de elementos irreais e desejava que o público espectador adentrasse nas maravilhas e medos de seus sonhos e pesadelos através de suas criações. Desafiava também o conceito de belo do universo da moda, enquanto frequentemente aproveitava-se do impossível.

A alta-costura desconstruída de Viktor & Rolf

A dupla holandesa é uma das principais figuras no cenário atual quando o assunto é surrealismo na moda. De maneira inovadora e provocativa, a alta-costura da casa sempre questiona padrões estéticos e de construção das peças, garantindo a cada coleção e desfile um espetáculo conceitual.


Coleção de Viktor & Rolf de 2009, primavera/verão (Foto: reprodução/Marie Claire)

De forma divertida e contemporânea, a marca brinca com medidas e posições dos elementos que compõem vestidos, que construídos de maneira tradicional, se enquadrariam no que se já é esperado em uma semana de moda de alta-costura. Essa a linha tênue que a dupla gosta de caminhar sobre, a recriação, de maneira irracional e subversiva, de conceitos esteticamente tradicionais no universo da moda. 

Outros nomes também marcam a presença surrealista no mundo fashion. Desde da dramática Thom Browne, a tecnológica Iris Van Herpen e a divertida Moschino, o Manifesto elaborado em 1924 nunca deixou de estar presente, de diversas maneiras, nesses 100 anos desde seu nascimento.

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