Em meio à crescente fragmentação do comércio global e à instabilidade geopolítica, bancos centrais ao redor do mundo estão repensando suas estratégias de reserva internacional. Um novo relatório do Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras (OMFIF), que será divulgado nesta terça-feira (25), revela uma tendência significativa de diversificação das reservas cambiais, com menor dependência do dólar americano.
Segundo o estudo, realizado com 75 bancos centrais que juntos administram cerca de US$ 5 trilhões em ativos, um em cada três planeja aumentar sua exposição ao ouro nos próximos um a dois anos. O metal precioso, que já vinha sendo adquirido em ritmo recorde nos últimos anos, deve continuar se beneficiando dessa reconfiguração. Cerca de 40% dos entrevistados afirmaram que pretendem ampliar suas reservas de ouro na próxima década.
“O movimento é claro: após anos de compras robustas, os gestores estão dobrando a aposta no ouro como proteção em tempos incertos”, afirma o relatório.

Dólar perde espaço
A pesquisa do OMFIF também sinaliza uma queda acentuada no apetite pelo dólar. A moeda americana, que no ano passado liderava a preferência entre os bancos centrais, caiu para a sétima posição no ranking de popularidade. Sete em cada dez gestores de reservas afirmaram que o ambiente político dos Estados Unidos é um fator de desestímulo ao investimento em dólar, mais que o dobro da proporção registrada no ano anterior.
A desvalorização do dólar e a instabilidade nos Treasuries (títulos do Tesouro dos EUA), considerados tradicionalmente como ativos seguros, foram agravadas após as tarifas anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump no chamado “Dia da Libertação”, em 2 de abril. O episódio gerou turbulência nos mercados e acendeu alerta entre os responsáveis pelas reservas internacionais.
Max Castelli, chefe de estratégia e consultoria para mercados soberanos globais no UBS Asset Management, afirmou à Reuters que recebeu um volume incomum de chamadas após o anúncio das tarifas. “Pela primeira vez, gestores de reservas questionaram se o status de porto seguro do dólar está em risco — algo que nem ocorreu após a crise de 2008”, disse.

Ouro, euro e iuan ganham força
Na corrida por alternativas, o euro e o iuan surgem como os maiores beneficiários da diversificação. Cerca de 16% dos bancos centrais planejam ampliar investimentos em euro nos próximos 12 a 24 meses, mais que o dobro da fatia registrada no ano passado. Em seguida vem o iuan, que também se fortalece como opção viável.
A longo prazo, no entanto, o protagonismo tende a mudar. O iuan chinês é visto como a principal aposta para a próxima década, com 30% dos bancos centrais indicando intenção de aumentar sua exposição à moeda, cuja participação nas reservas globais pode triplicar para 6%.
Especialistas ouvidos pela Reuters acreditam que o euro pode recuperar a relevância perdida após a crise da dívida de 2011. Estima-se que sua participação nas reservas cambiais globais possa voltar a cerca de 25% até o final da década, contra os atuais 20%.
Apesar da tendência de diversificação, o dólar deve continuar sendo a principal moeda de reserva mundial, embora com queda projetada para 52% das reservas cambiais globais até 2035, segundo a pesquisa do OMFIF — uma redução em relação aos atuais 58%.