México se preocupa com Amazon e Mercado Livre, que dominam 85% do e-commerce

Alexandre Kenzo Por Alexandre Kenzo
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Amazon poderá alterar seus pacotes de streaming por causa da regulação (Reprodução/Shutterstock/latinus)

Na terça-feira passada (13), a organização que regula o direito da concorrência no México identificou alguns problemas e “possíveis barreiras” no setor do e-commerce, onde atualmente a Amazon (AMZO34) e o Mercado Livre (MELI34) detém 85% de todas as vendas e transações realizadas.

Cofece

De acordo com o órgão regulador Cofece (Comisión Federal de Competencia Económica), a atuação das duas empresas representa um “desafio praticamente intransponível para a expansão de players menores,” uma vez que as outras empresas do setor simplesmente não possuem os números e a infraestrutura necessária para competir de forma adequada.

Há, por exemplo, entraves de desenvolvimento tecnológico para novos empresários. Desenvolver as ferramentas, estoques, sistemas de logística, e publicidade, requer um nível de investimento elevado, o que hoje em dia não é tão viável somente a partir dos próprios lucros da empresa: com o “singlehoming” de compradores e vendedores em um único mercado, a Amazon e o Mercado Livre são praticamente donas do setor.


O Mercado Livre já respondeu ao órgão, afirmando que irá cooperar. (Foto:Reprodução/Shutterstock/Alison Nunes Calazans)

O Mercado Livre já respondeu ao órgão, afirmando que irá cooperar (reprodução/Shutterstock/Alison Nunes Calazans)


Medidas corretivas

Em recomendação do órgão ao governo mexicano, foram apresentadas algumas “medidas corretivas” que poderiam ser implementadas em um prazo de seis meses para regularizar a situação economicamente precária. Entre elas, estão as seguintes:

As empresas devem separar o streaming e outros serviços não relacionados ao marketplace do pacote de serviços do marketplace; as empresas devem ser mais transparentes sobre o funcionamento do algoritmo que recomenda produtos aos seus usuários; as empresas devem remover a possibilidade de escolher um parceiro logístico específico, e abrir mais opções para a integração de redes logísticas de terceiros.

No total, são medidas pensadas de forma a regularizar os serviços prestados pelas empresas. O primeiro ponto, por exemplo, serve para que a Amazon e o Mercado Livre tenham seus serviços de marketplace buscados e utilizados somente por causa das funções de marketplace.

É possível pensar no caso de risco que limita a concorrência no setor de e-commerce: se o pacote de uma das grandes empresas oferece serviços adicionais (como o streaming) e benefícios de fidelidade, este é mais desejável do que o de uma empresa que oferece apenas o seu próprio marketplace, que acaba perdendo espaço. Mas o ponto principal, claro, é que tais serviços e benefícios adicionais são coisas que apenas a Amazon e o Mercado Livre conseguem oferecer, após anos de investimentos e expansão horizontal para diferentes mercados – algo que novas empresas simplesmente não possuem, e portanto, não conseguem se firmar no setor.

Necessidade de competição

Na terça-feira (13), o Mercado Livre já respondeu à Cofece dizendo que iria cooperar, mas que sanções econômicas deveriam estar fora do radar, uma vez que a empresa não possui nenhuma investigação sobre práticas monopolistas. Ainda assim, permanece um fato que a empresa, junta com a Amazon, detém 85% do mercado.

Para o usuário, inicialmente não parece ser um problema grave: se essas empresas podem oferecer serviços adicionais (devido ao investimento tecnológico ao longo de anos) e mais baratos (devido a sua infraestrutura e logística já estabelecida), então faz certo sentido que seus serviços mereçam dominar o mercado. No entanto, a questão com que a Cofece se preocupa – e foi criada em parte para regular – trata justamente, se não do monopólio, do estabelecimento de um oligopólio na economia, e do fim da concorrência entre empresas no setor.

Embora as várias políticas empresariais de fidelidade que vem ganhando espaço na última década sejam incríveis para o lucro das empresas individuais, a falta da concorrência no longo-prazo significa que as poucas empresas que dominam o mercado podem aumentar seus preços ou precarizar seus serviços sem se preocupar com seus consumidores buscando alternativas – elas não existem. Com isso, o setor pode muito bem estagnar, sem incentivo individual para a empresa dominante aumentar a eficiência ou gastar com investimentos em inovação: este é, enfim, o principal cenário que órgãos como o Cofece se preocupam em evitar.

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