Presente no interior da América do Sul, do nordeste do Brasil, leste da Bolívia, Paraguai, até o norte de Argentina e em diversos outros locais, o papagaio-verdadeiro tem uma preocupante redução na sua população causada pelo desmatamento do Pantanal.
Sendo um dos locais mais afetados pelas mudanças no ambiente e bioma, ocasionadas por ações humanas legais ou ilegais, o maior abrigo dessa espécie, o Pantanal, corre grandes riscos que podem causar seu desaparecimento.
Outro espectro sobre o destino das espécies é a mudança climática global. A ciência estima que as temperaturas médias no Pantanal podem aumentar de 5°C a 7°C até o final do século, e as chuvas podem ser severamente reduzidas. Além disso, a seca e o fogo tornaram-se mais severos no bioma.
Com a diminuição de árvores cada vez maior, se perde o espaço natural para a construção de ninhos, locais para alimentação, abrigos para o mau tempo e a proteção contra predadores como outras aves maiores ou mamíferos escaladores de árvores.
Em outras regiões, o papagaio-verdadeiro é vítima de tráfico para o mercado de animais de estimação.
O desmate sem freios coloca em pauta outros locais de servem de abrigo para a espécie, como o Cerrado, que é conhecido como a savana brasileira e tem um dos maiores índices de crescimento do agronegócio no país. Esse bioma já sofreu a perda de mais da metade da sua vegetação original, e o que ainda resta, somente 9%, está localizado em unidades de conservação estaduais, federais e municipais.
O crescimento dos bandos da ave diminuiu em 30%, pois as florestas e savanas foram desmatadas para a produção de arroz ou substituídas por pastagens exóticas para gado. Os resultados vêm do estudo mais longo das espécies que vivem naturalmente em partes do Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai.
“Os dados indicam que o desmatamento é o grande vilão responsável pela diminuição de jovens de papagaio-verdadeiro no sul do Pantanal”, descreve Gláucia Seixas, coordenadora do Projeto Papagaio-Verdadeiro (PPV) e autora principal do trabalho, publicado em junho na revista Plos One.
O esforço científico observou 791 ninhos ao longo de 22 anos, de 1997 a 2018, em fazendas de Miranda e Aquidauana, no Mato Grosso do Sul. Nesse período, os municípios perderam 5.980 quilômetros quadrados de cobertura arbórea — área semelhante ao Distrito Federal — ou 27% de sua área total. O MapBiomas mostra que os avanços na agricultura são os grandes responsáveis pelas perdas.
Localização dos ninhais avaliados (azul) no território onde foi realizado o estudo. Arte: Reprodução do artigo Plos One “A long-term study indicates that tree clearance negatively affects fledgling recruitment to the Blue-fronted Amazon (Amazona aestiva) population”
Comércio Ilegal
Todos os anos milhares de filhotes de papagaio-verdadeiro são alvos do tráfico. Eles são retirados de seus ninhos ainda dependentes de seus pais e transportados de forma irregular e perigosa do interior do Brasil até os centros urbanos, onde são vendidos no mercado ilegal de aves silvestres.
Nas apreensões, são comuns as cenas de maus-tratos em que os papagaios são encontrados em lugares sujos, com alta concentração de animais, temperatura elevada e alimentação inadequada. Muitos filhotes morrem ao longo de todo o processo, até que algum chegue vivo às mãos dos compradores finais.
No Mato Grosso do Sul , desde 1988, cerca de 9.000 filhotes de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva)
foram apreendidos pela fiscalização ambiental – Foto: Gláucia Seixas/PPV
Muitas dessas aves passam por essas situações por causa de pessoas que encomendam sua vinda, na intenção de tê-los como animais de estimação, pela sua facilidade de imitar sons que incluem a fala humana, porém, são essas mesmas pessoas que os tratam de maneira errada, ocasionando doenças e os soltando de maneira inadequada. Essas aves podem viver até 60 anos, mas por causa de um discuido, acabam por viver nem metade desse tempo.
Nos últimos 30 anos, foram apreendidos 11.500 filhotes no Mato Grosso do Sul, e em 2021, cerca de 1.000 foram extraídos do seu ambiente natural no país. De acordo com a estimativa, o número de aves traficadas pode ser muito maior do que aquele que hoje é registrado pela fiscalização ambiental.
Foto Destaque: Fábio Paschoal