Detida pela Operação Calígula, terça (10), a delegada Adriana Belém tinha em sua casa uma quantia equivalente a R$ 2 milhões em sacos de famosas grifes na sua casa, num condomínio localizado na Barra da Tijuca. Primeiro foram apresentados R$ 60 mil, mas depois de uma vasculha minuciosa os policiais encontraram R$ 1,2 milhão nas sacolas das badaladas grifes, em seguida um pouco mais de R$ 500 mil dentro de mala num dos quartos.
Adriana Belém está ligada a pessoas que estão ligadas a máfias dos jogos de azar, segundo informou a Policia Civil. Uma figura proeminente dentro dessa rede de jogos de azar que a delegada se envolveu é Rogerio de Andrade, sobrinho do lendário bicheiro Castor de Andrade , que na década de 80 e 90 era considerado uma celebridade da contravenção carioca. O sobrinho resolveu seguir e continuar o legado do tio e, investigações mostram que ele aumentou ainda mais a influencia da, família Andrade na máfia dos jogos.
Ele resolveu dar um passo e ir alem das tradicionais bancas de apontamentos de jogos do bicho que ficavam espalhadas pelas esquinas do Rio de janeiro num passado romântico e deu início a exploração das maquinas de caça-níquel, e sofisticou as engrenagens da sua lavanderia de dinheiro, instituiu novas ações e estratégias de corrupção ativa com o intuito de fortalecer os negócios e, como diria Pablo Escobar, instituiu a poilitica “Plata o Plomo”, cometendo lesão corporal de natureza grave e homicídios, além de outros crimes.
A operação Calígula, deflagrada terça (10), se fundamentou em denuncia dirigida ao Ministério Público, com mais de 14 presos e 30 denunciados. Segundo investigação, Rogério de Andrade é supostamente o chefe dessa organização que ainda conta com Ronnie Lessa, PM reformado e acusado pelo assassinato da vereadora Marielle Franco como um dos braços operacionais, o filho de Rogério, Gustavo de Andrade, além da participação de dois delegados da policia civil responsáveis por facilitar e abrir os caminhos para as operações do grupo mafioso.
Adriana Belém atuando na 16ª DP, loxalizada na Barra da Tijuca. (Foto: Reprodução/G1).
Os advogados de defesa de Rogério Andrade negam qualquer envolvimento do cliente alegando que a operação não corroborou a necessidade de uma prisão cautelar, e se apresentou como um aviltamento ao Supremo Tribunal Federal, que trancou uma ação penal contra ele. Mas no mesmo dia 10, (terça-feira), o poder judiciário do Rio de Janeiro acatou o pedido do MP que colocou o nome do contraventor na lista vermelha dos caçados pela Organização Internacional de Polícia criminal, a Interpol, agora Rogério é considerado um homem foragido.
Ascensão e reinado de Rogério de Andrade
Após a morte do tio Castor de Andrade, que teve um infarto do miocárdio fulminante enquanto jogava um carteado na casa de um amigo no Leblon, bairro da zona sul carioca, em 1997, duas facções que disputam até hoje o comando dos pontos de maquinas caça-níqueis e de jogos por toda zona oeste do Rio. A rixa já causou a morte de mais de 200 homicídios.
Num primeiro momento a herança do tio foi compartilhada entre Paulo Roberto de Andrade, filho de Castor, e Fernando Ignácio, genro de Castor de Andrade. Mas em 1998 a paz virou guerra e culminou com a morte de Paulo Roberto, assassinado, a suspeita de mandar tirar a vida de Paulo caiu sobre Rogério, que foi denunciado como mentor pelo MP à época. Em 2002 foi condenado no tribunal do júri, mas em 2013 foi absolvido.
Fernando Iggnácio disputava com Rogério Andrade o espólio do crime deixado por Castor foi assassinado a mando do algoz . (Foto: Reprodução/G1).
O ano de 2010 foi difícil para Rogério por causa de um atentado que ele sofreu na Av. das Américas, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Na ocasião o contraventor sofreu um tentado um atentado enquanto passava por uma das avenidas mais movimentadas da cidade. O carro de Andrade foi atacado por um motoqueiro que atirou granadas na direção de seu carro. Rogério não morreu, mas seu filho Digo Andrade não teve a mesma sorte e acabou morrendo na hora. Dizem que o atentado foi mais um capítulo na disputa pelo controle dos pontos de caça-níqueis.
Outra morte chamou atenção em 2020 e o nome de Rogério de Andrade foi citado depois do assassinato de Fernando Ignácio, executado em novembro com vários tiros no Recreio dos bandeirantes, outro bairro da zona oeste do Rio. Rogério foi um dos apresentados como mandante, junto com Márcio Araújo, também um dos denunciados da “operação Calígula”.
Durante todo esse tempo, a expansão dos negócios do sobrinho de Castor aconteceu por intermédio de violência, extorsão, lavagem de dinheiro, ameaça e outros estão nessa lista. E ele só conseguiu êxito em suas operações porque contou com a ajuda de sua organização criminosa, que tem como colaboradores remunerados os PM reformado e acusado pelo assassinato de Marielle Franco, Ronie Lessa, dos delegados da Polícia Civil Adriana Belém e Marcos Cipriano, que já está preso em Bangu 8.
O quatrilho do crime no Rio de Janeiro, Rogério de Andrade, os delegados Marcos Cipriano e Adriana Belém, e Ronie Lessa, acusado pelo assasinato da vereadora Marielle Franco. (Foto: Reprodução/G1).
Samba é parte de tradição da família Andrade
Rogério também herdou do tio Castor a paixão pelo mundo do samba. Ele mantém a tradição da família e continua sendo o mecenas da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, do mesmo jeito que o tio fez nos anos de 1970. Ele foi coroado presidente de honra da instituição do samba, localizada na comunidade de Padre Miguel, no Rio de Janeiro. A investigação diz que esse movimento tem o objetivo de lavar o dinheiro e exaltar o nome da família.
O que surpreendeu muita gente foi a descoberta da participação da delegada Adriana Belém, candidata a vereadora na ultima eleição, conseguindo 3,5 mil votos. Uma coisa chamou atenção na campanha da “delegada pop”, ela teve a participação de jogadores e celebridades, entre eles: Edmundo, Deco, Adriano Imperador, Djamlminha, Amoroso, Dudu Nobre, Xande de Pilares, Mc G15 e o fofoqueiro David Brazil.
Em consequência dessa prisão, Adriana, que havia sido nomeada para cargo da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer do Rio de Janeiro, com um salário de R$ 8.345,14, segundo portal da transparencia, foi exonerada ontem de suas funções na secretaria, informou a prefeitura.
Na Polícia Civil, tanto Marcos Cipriano quanto Adriana não estão exercendo nenhum cargo na policia civil, atualmente eles foram lotados em outros órgãos. Mesmo atuando em outros segmentos da administração pública ele recebem o salario através do órgão de origem, apesar da obrigação de pagamento ficar a cargo do órgão solicitante. Segundo corregedoria da Polícia Civil, para dar andamento aos processos administrativos imperativos, será solicitado acesso às investigações.
Foto destaque: Reprodução/G1.