Nesta quarta-feira (20), foi aprovada a construção de uma usina dessalinizadora em Fortaleza, o que preocupa a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) por uma razão simples: na Praia do Futuro, local do projeto governamental, se localizam os cabos submarinos que conectam o Brasil à internet no resto do mundo.
“Com a construção dessa usina, há o risco de haver rompimento dos cabos com a vibração da água caso os dutos da usina não estejam a uma distância segura desses cabos,” argumentou a Anatel, contra o projeto da usina.
“Além disso, o aumento da demanda por internet no país deve resultar no aumento considerável de cabos submarinos instalados nos próximos anos”, complementou.
A discussão entre o governo estadual do Ceará e as empresas telefônicas nacionais vem ocorrendo desde setembro. O objetivo da dessalinizadora em si, comforme a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), seria tratar a água do mar e utilizá-la como fonte de água potável no abastecimento da Grande Fortaleza, ampliando a oferta do recurso significativamente.
O problema da Anatel está não só no conflito de infraestrutura, mas também no próprio processo de dessalinização, que pode acabar afetando os cabos submarinos.
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Cabos submarinos
Embora satélites atuem em parte da rede de Internet, os cabos submarinos são os verdadeiros responsáveis mais de 90% do tráfego digital nacional. Na Praia do Futuro, em Fortaleza, estão localizados 17 dos 400 cabos submarinos globais, que lá se concentram devido à proximidade geográfica com os outros continentes.
De acordo com o diretor de Arquitetura de Rede e Engenharia Óptica da Google, Vijay Vusirikala, eles atuam como “rodovias” de dados, que conseguem transportar mais de 17 milhões de pessoas transmitindo vídeos em alta qualidade ao mesmo tempo. Desde mídias de WhatsApp até serviços de streaming, os satélites e antenas (4G ou 5G) atuam principalmente como suportes secundários e relays, até chegar nesses cabos submarinos, onde o transporte de informação em massa, de fato, acontece.
Conforme a Google, os danos causados a esses cabos geralmente acontecem por causa de intevenções humanas, como a pesca, o arrasto de âncoras — e possivelmente, agora, na construção de usinas.
Devido à importância dessas conexões intercontinentais, a Anatel continua sendo oposta ao projeto, mesmo após Neuri Freitas, diretor da Cacege, afirmar que “isso está totalmente resolvido, não vamos trazer nenhum risco,” após alterar a distância entre a infraestrutura e os cabos de 40 para 500 metros.
Visão interna dos cabos submarinos. (Foto:Reprodução/Google Cloud/O Globo)
Recomendações da Anatel
As recomendações da Anatel incluem, entre outras medidas:
- Reforçar a vigilância marítima para detectar e prevenir ameaças;
- Realizar auditorias de segurança para fiscalizar o comprometimento na operação;
- Investir em rotas alternativas e redundantes para minimizar os danos se um dos cabos se romper.
Foto Destaque: Mapa dos cabos submarinos globais. Reprodução/Infrapedia/O Globo