Na noite desta terça-feira (30), a Marinha dos Estados Unidos no Mar Vermelho foi obrigada a utilizar sua “última linha de defesa” contra um ataque que chegou perto demais: o “Phalanx Close-In Weapon System” (CWIS) do “destróier Gravely” derrubou um míssil Houthi que viajava a 965 km/h, a uma distância de 1,6 km do navio.
Sobre o ataque
Na estimativa com esses números, o míssil estava à aproximadamente seis segundos de um impacto direto.
Os dados são, no entanto, aproximados. O valor de 1,6 km vem de Tom Karako, diretor do Projeto de Defesa contra Mísseis do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, que afirmou a “preocupante” distância de “1 milha [cerca de 1,6 km]“.
Na estimativa do analista Carl Schuster, ex-capitão da Marinha dos EUA, a situação foi ainda mais grave. Ele afirmou que o míssil estava a apenas quatro segundos de atingir o navio de guerra estadunidense, e que o sistema de defesa requer certa distância para funcionar efetivamente.
“Os mísseis não evaporam quando destruídos, eles enviam milhares de fragmentos e peças da estrutura dos mísseis,” disse Schuster.
É o primeiro ataque do grupo Houthis a chegar tão perto de atingir as embarcações dos Estados Unidos. Já foram atacados mais de 30 navios comerciais desde novembro de 2023, e tudo indica que devem continuar os ataques, mesmo com a pressão dos EUA e do Reino Unido.
Canal de Suez, utilizado para o comércio global (Foto: reprodução/g1/Kayan Albertin)
Mísseis de ataque e defesa
A Marinha dos Estados Unidos ainda não divulgou porque teve que utilizar o sistema de defesa Phalanx, um armamento limitado e emergencial que foi introduzido em 1980, mas a conclusão é simples. Os mecanismos antes desta “última linha de defesa“, os mísseis de longo alcance, falharam.
De todas as formas de defesa bélica – de armadura reforçada até camuflagem – uma das mais comuns na era contemporânea são os sistemas automáticos de intercepção. Primeiro, os sensores detectam projéteis de tamanho suficiente e com velocidade perigosa. Então, os computadores utilizam a posição e velocidade detectada para calcular a trajetória dos mísseis. Finalmente, é acionado o sistema de intercepção, que lança mísseis de defesa em trajetórias correspondentes que colidem com o ataque iminente.
Tudo isso ocorre em uma questão de milissegundos.
Trata-se da mesma lógica utilizada por Israel em conter mísseis disparados pelo grupo Hamas no início do conflito – e tanto naquele incidente como neste, demonstra-se a falha em contar absolutamente com tais redes de defesa. Com certa frequência, elas acabam falhando, e deixam mísseis passar.
Quando isso ocorreu, o Gravely acionou o Phalanx, que não é um sistema automático de mísseis, mas sim de metralhadores Gatling. Com aproximadamente 75 tiros de 20 milímetros por segundo cada, o poder destrutivo foi suficiente para lidar com o míssel Houthi, mas o fato de que tiveram de ser utilizadas é preocupante. Seu alcance é muito menor, e por isso a própria fabricante Raytheon intitula o mecanismo como a “última linha de defesa“: se tudo está correndo bem, ele não precisa sequer ser utilizado.
Resposta dos Estados Unidos
O Comando Central dos EUA já afirmou, uma dia após esse ataque ao USS Gravely, que outro destróier, USS Carney, também teve de abater mísseis anti-navio e drones. Mas isso não significa que estão vencendo o conflito.
Os Houthis são um grupo que tanto o presidente americano Joe Biden quanto o governo do Iêmen – território onde realizam suas operações – considera como terrorista. Na geopolítica internacional, no entanto, são considerados de forma diferente do grupo Hamas.
Em primeiro lugar, porque suas ações não contestam um território de valor religioso, mas deliberadamente servem para interromper o fluxo comercial no Canal de Suez do Mar Vermelho, diretamente influenciando o mundo inteiro. E em segundo lugar, por causa de suas ligações com o Irã.
Ao que tudo indica, o grupo Houthis tem o suporte de Teerã: no dia 16, os Estados Unidos já anunciaram que haviam capturado um navio iraniano transportando “ajuda letal” para os Houthis, e há muito os dois vêm sido ligados. Muito provavelmente, qualquer resposta em que Joe Biden decida deve ter como alvo os vários grupos terroristas que o Irã vem financiando, o que poderá novamente expandir a escala da guerra.