Protestos de fazendeiros europeus chegam até a Espanha

Alexandre Kenzo Por Alexandre Kenzo
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Protestantes perto de Barcelona (Reprodução/Reuters/Albert Gea)

Na última quinta-feira (1), fazendeiros protestaram em Bruxelas acampados do lado de fora de um edifício do parlamento, jogando ovos e iniciando fogos enquanto os líderes da União Europeia (UE) realizavam uma reunião sobre a situação da Ucrânia. Nesta quinta-feira (8), o protesto dos fazendeiros já se estende pela Europa e chega até à Espanha, onde tratores interrompem o tráfego nas ruas.

Protestos

A natureza dos protestos parte das várias regulações e ditas ‘burocracias’ impostas pela União Europeia, tanto para garantir a qualidade dos produtos como para combater abusos ecológicos ou medidas que possam levar a mudanças climáticas. Como resultado dessas medidas legislativas sobre o mercado, os fazendeiros europeus acabam tendo mais gastos acumulados na sua produção do que produtos importados de fora, fabricados sem tais regulações.

Desse modo, os produtos do exterior acabam ‘invadindo’ os mercados europeus com preços mais baixos do que a produção local, e acabam sendo mais competitivos. Por serem medidas da União, afetam todos os países do grupo – o que explica porque os protestos se alastraram por vários países, como França, Alemanha, Itália, e agora chegando até o Parlamento de Barcelona. Na Espanha, o tráfego foi interrompido por tratores em várias cidades, Ávila, Vitória, e Antequera.


Fazendeiro bloqueia uma rodoviária no leste da França (Foto: reprodução/AFP/Sebastien Bozon)


Europa e Ucrânia

Alguns dos protestos já se tornaram violentos, e necessitaram da interferência policial. O Ministério do Interior da Espanha já divulgou, por exemplo, que 12 pessoas foram detidas na quarta-feira por bloquear centros de distribuição de mercadorias. Existe uma forte indignação dos fazendeiros, que é agravada em especial por dois fatores.

Primeiro, há o mercado exterior com que a Europa compete, em especial, a Ucrânia. Desde o início da guerra com a Rússia, já havia certa preocupação com relação à questão das exportações ucranianas, e a União Europeia acabou renunciando as cotas e taxas de imposto sobre esses produtos como uma forma de ajudar o país a resistir à invasão, com suporte econômico.

As medidas que foram removidas existiam justamente para manter o mercado ‘justo‘ de forma a incentivar a competitividade com produtos do exterior. Em sua ausência, a crise já havia chegado, em setembro de 2023, ao ponto da Polônia proibir importações de grãos ucranianos, e até parar de fornecer armas à Ucrânia. Já na época o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, havia dito que sua decisão de baseava no “interesse do agricultor polonês.”

Mudanças Climáticas

O segundo motivo pelos protestos terem tanta força é que a pauta do meio-ambiente se torna em décadas recentes um assunto crescentemente político, e cada vez mais associado à burocracia estatal.

No atual cenário político, é comum que as ‘regulações verdes’ sobre o mercado sejam tidas como principais fatores para explicar porque os setores econômicos de certos países (ou blocos, como o da UE) não conseguem competir com produtos mais baratos de outros países sem escassez: a lógica é de que os países com menos legislações de meio-ambiente podem fabricar mercadorias mais baratas, qualificando como concorrência desleal.

Porém, o outro lado da moeda é o fato de que as regulações da União Europeia sobre seus produtos tendem a ser extremamente importantes para assegurar o consumo saudável de seus cidadãos, a sustentabilidade de seus recursos no longo-prazo, e a cooperação efetiva contra o aquecimento global e outras mudanças climáticas: o ano de 2023 foi o mais quente já registrado na história, mas caso a UE não tivesse qualquer restrição sobre suas indústrias, é possível que a situação seria ainda pior.

Para a visão global, onde interesses sociais e econômicos colidem, a lógica dita que a concorrência desleal com que os fazendeiros europeus se preocupam só pode ser solucionada de duas maneiras: ou todos os países do mercado internacional passam a impor as mesmas regulações burocráticas sobre seus produtos, ou todos deixam de cobrá-las. Infelizmente para a comunidade científica preocupada com o futuro da humanidade em um planeta cada vez mais meteorologicamente caótico, a segunda solução é muito mais desejável no caso individual, à cada nação, no curto-prazo: os atuais protestos evidenciam, se não apenas a vontade da Europa, essa tendência no panorama global.

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