Psicólogo americano aponta que reconsiderar opinião melhora relações e saúde ‘Pensar é como você evolui, repensar é como se atualiza’

Isabela Barros Por Isabela Barros
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O psicólogo americano Adam Grant, professor da Wharton School e autor do livro “Pense de novo” (editora Sextante), recentemente lançado no Brasil, apoia a importância de reconsiderar opiniões. Para ele, a ação é essencial não só para o bom relacionamento no trabalho e com a família, mas impede as polarizações e faz bem para a saúde.

“Repensar pode nos libertar de prisões que nós mesmos fazemos. Ficamos comprometidos com ideias, decisões e opiniões que já não nos servem bem”, diz Grant em entrevista ao GLOBO.

Quais os benefícios de mudar de ideia?

“Não devemos ter medo de mudar de ideia. E quanto mais rápido você reconhecer que está errado, mais rápido poderá estar certo. Pensar é como você evolui, repensar é como se atualiza. Se estiver disposto a rever seus conceitos, estará preparado para mudanças, em vez de ser surpreendido por elas. E repensar faz bem para a saúde. Pode nos libertar de prisões que nós mesmos fazemos. Ficamos comprometidos com ideias, decisões e opiniões que já não nos servem bem. Às vezes estamos presos à carreira errada, ou na empresa, no relacionamento ou até na cidade errada, porque nos recusamos a questionar uma opinião que uma versão menos sábia de nós mesmos formou. E se formos rápidos em repensar, podemos evitar arrependimentos, cometer menos erros e nos preparar para quem sabe, uma vida mais interessante, em que estejamos constantemente crescendo, evoluindo e aprendendo.”

O senhor diz no seu livro que as pessoas preferem se sentir certas do que realmente estarem certas. É isso que nos impede de mudar de ideia?

“Em boa parte, sim. Uma das coisas que impede a pessoa de dizer que você está certa é admitir que ela está errada. Muita gente é apegada às suas crenças porque elas deixam o mundo mais previsível. Se ela mudar de ideia sobre algo, no que mais pode estar equivocada? É uma ameaça a seu sistema de crenças. Isso assusta.”

Muitos acreditam que as redes sociais estimulam bolhas de opiniões e a polarização. O senhor concorda?

‘As mídias sociais não causam isso sempre. Os dados mostram que podemos cair em outras bolhas por acidente, por quem seguimos no Twitter, pelas hashtags que nos interessam ou algo que os conhecidos compartilham no Facebook, mas não quer dizer que vamos respeitar ou ouvir uma história ou pessoa que nos desafia a pensar de outra forma, que de repente vamos ficar humildes quanto às nossas crenças e curiosos a respeito dos outros.’

“O debate sobre as redes sociais vai na direção errada, sobre se usa filtros, cria bolhas, quando, na verdade, falhamos dramaticamente em abrir nossas cabeças para a possibilidade de que estejamos errados.”


Psicólogo americano aponta que reconsiderar opinião melhora relações e saúde (Foto: Reprodução/Pexels)


No Brasil, para além de redes sociais, há uma polarização política muito grande. Como mudar isso?

“É uma pergunta difícil. Fui ao Brasil antes da Covid e já era muito claro que vocês estavam enfrentando os mesmos desafios que enfrentamos nos EUA. Para melhores conversas com pessoas próximas algumas coisas podem ajudar. Uma é deixar claro que, mesmo não tendo a mesma opinião, vocês compartilham os mesmos valores. Pessoas que discordam sobre vacinas podem querer saúde e liberdade, embora não concordem sobre o que são essas coisas. Então um jeito e começar essa conversa é dizer “sei que você quer o melhor para nossa segurança, saúde e liberdade, eu também”. Aí você estabelece esse ponto de convergência, cria confianças.”

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“Outra coisa válida é moldar o comportamento que eu quero ver nos outros. Eu estava tendo uma discussão com um amigo ontem e disse, antes de começarmos: “Queria avisar que tenho o mau hábito de fazer bullying de lógica, rebatendo argumentos e expondo dados sem parar e não quero mais fazer isso. Se você me pegar fazendo isso, por favor me avise”. Ele riu e disse que era muito teimoso e também não queria isso. Então nos comprometemos a ser mais cabeça aberta. As vezes também começo falando sobre a nossa última conversa: “há alguma coisa que você reconsiderou ou que eu deveria repensar?” Partilho algo que pensei de novo e tento estabelecer que repensar alguma coisa é normal, todos fazemos, não significa que você é fraco ou que você tem falta de confiança, significa que você é sempre curioso e aberto.’

Foto destaque: Reprodução/Marla Aufmuth/Getty Images

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