Sven Bölte, professor de Ciência Psiquiátrica Infantil e Adolescente do Krolinska Istitute, em Estocolmo, afirma que os sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade não se tornaram mais comuns. “A prevalência desses traços parece ser bastante constante na população”, ele diz.
“Minha área de pesquisa há mais de 30 anos é predominantemente transtornos do neurodesenvolvimento, especialmente transtorno do espectro autista e TDAH. Trabalho amplamente nessas áreas, desde pesquisa biomédica básica sobre etiologias até pesquisa aplicada de intervenção, garantia de qualidade e implementação, embora eu descreva cognição/neuropsicologia, instrumentos de diagnóstico, avaliação e psicometria como meus principais interesses.”
Sven Bölte
Sven Bölte participando da Reunião Anual do INSAR 2023, reunião científica anual (Foto: reprodução/X/bolte_sven)
Bölte estuda e pesquisa os distúrbios do neurodesenvolvimento
Além de professor de Ciência Psiquiátrica Infantil e Adolescente, Bölte dirige o Centro de Distúrbios do Neurodesenvolvimento no KI (KIND) e chefia a Divisão de Neuropsiquiatria no Departamento de Saúde da Mulher e da Criança, na Noruega. Ele trabalha como consultor sênior em psicologia clínica e especialista em neuropsicologia na psiquiatria infantil e adolescente de Estocolmo.
Para o professor, não importa o número de diagnósticos, os quais apenas indicam que alguém tem um certo número de sintomas dentro do Transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O crucial é que “a pessoa diagnosticada receba uma revisão de sua situação específica e então receba informações e sugestões individualizadas com acompanhamentos ao longo do tempo, se isso acontecer. Mas é possível conseguir isso. Não é nem ciência de foguetes”, ele diz.
O aumento surpreendente dos diagnósticos poderia ser explicado por oito motivos:
1. Vários diagnósticos feitos em uma mesma pessoa
Diferente do que era feito no passado, atualmente, é prática fazer os diagnósticos necessários para abranger e descrever significativamente os sintomas e desafios de uma pessoa.
2. Aumento do conhecimento e da conscientização dos profissionais
A nova geração de pesquisadores e estudiosos conseguem detectar mais cedo o transtorno e diagnosticar meninas, mulheres e adulto; pessoas que eram negligenciadas, anteriormente.
3. Redução do estigma
Com a democratização do conhecimento, o transtorno tem menores conotações negativas e está sendo visto como uma parte natural da identidade das pessoas.
4. A sociedade moderna exige mais das habilidades cognitivas
Portadores do Espectro de TDHA têm uma composição defeituosa de traços cognitivos: controle de atenção, habilidades organizacionais e autorregulação. A rápida expansão tecnológica exige muito dessas características cognitivas. Os neurodivergentes costumam ter limitações para lidar com as demandas cotidianas e costumam ser diagnosticados com TDHA.
5. Expectativas mais altas em relação à saúde e ao desempenho
A linha de base social de saúde e desempenho médio é mais alta nos dias de hoje. Quando o desempenho não corresponde às expectativas, há um interesse maior em descobrir uma causa. O TDHA pode ser presumido como uma explicação.
6. As mudanças nas escolas levaram a que mais alunos tivessem dificuldades
A educação mais autodirigida resultou em um ambiente de aprendizagem menos claro. Exige-se que o aluno esteja mais motivado e use suas habilidades cognitivas. Portadores de TDHA podem enfrentar dificuldades. As escolas começaram a encaminhar alunos parar avaliação.
7. Os formuladores de políticas priorizam a avaliação
Muitos países já estão tornando os pareceres médicos mais acessíveis, para que as pessoas recebam o diagnóstico mais rápido.
8. O diagnóstico garante o acesso a apoio e recursos
Na maioria das vezes, o diagnóstico clínico é a única maneira de as pessoas e suas famílias obterem suporte, acesso a apoio e recursos. Os profissionais estão mais inclinados a ajudá-los.
Trabalhar com a neurodivergência é um grande desafio
As pesquisas têm como objetivo encontrar um método de ensino que funcione para todos, em que os neurotípicos possam conviver com os neurodivergentes (portadores de TDHA, autismo e outros transtornos do neurodesenvolvimento e suas comorbidades) em um ambiente de aprendizagem harmônico.
Espera-se que os professores possam trabalhar de forma mais contínua, fazer avaliações de forma mais assertiva, tenham melhores dados para avaliar a classe que está ensinando, possam fazer ajustes com a ajuda dos serviços de saúde estudantil.
De acordo com a demanda, espera-se que alunos possam ter coisas explicadas individualmente, outros possam receber ferramentas para controlar o tempo, enquanto outros ainda possam ganhar um assento especial na sala de aula.