Ano de 2025 pode estar entre os 3 mais quentes desde 1850, diz ONU

Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que se inicia na próxima segunda (10) em Belém do Pará, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), filiada à ONU, divulgou um relatório sobre os efeitos catastróficos do aquecimento global. O documento publicado hoje (06) revelou que 2025 será o segundo ou terceiro ano mais quente desde o início dos registros, que ocorreu em 1850, atrás apenas de 2024.

Se comparado a 2024, este ano foi marcado pela desintensificação do fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico na região do Equador, o que explica porque o período anterior foi mais quente. Apesar disso, a OMM indicou que, entre junho de 2023 a agosto de 2025, houve 26 meses seguidos de recordes mensais de calor, com exceção de fevereiro de 2025. Da mesma forma, o período de 2015 a 2025 registrou os 11 anos mais quentes da série histórica. A explicação para essas temperaturas superlativas é a sistemática queima de combustíveis fósseis, apontou o documento.

Entre outros números alarmantes, o relatório apontou o aumento da concentração de gases de efeito estufa e do degelo das calotas polares e a preocupante incidência de eventos climáticos extremos.

Planeta ultrapassa 1,5ºC

Embora a temperatura média global da superfície terrestre, desde janeiro deste ano, tenha sido menor do que a do período passado (1,42 °C. em 2025, contra 1,55 °C, em 2024), especialistas já consideram praticamente impossível que a população global limite o aquecimento global, nos próximos anos, a 1,5 °C. Em outras palavras, a humanidade fracassou em impedir que o planeta aqueça mais de 1,5 °C nos quase 300 anos desde que houve a Revolução Industrial, o que, se à primeira vista pode parecer inofensivo, na realidade, representa riscos fatais e sofrimento para centenas de milhões de indivíduos.

O limite de 1,5ºC foi estabelecido pelo Acordo de Paris de 2015 para evitar impactos extremos do clima, como secas, elevação do mar e colapso de geleiras.

Em cada ano em que se ultrapassar o limiar de 1,5 °C, as economias serão severamente afetadas, as desigualdades se agravarão e ocorrerão danos irreversíveis“, declarou secretário-geral da ONU, António Guterres, hoje em Belém.


O presidente Lula e o secretário-geral da ONU, António Guterres (Foto: reprodução/Wagner Meier/Getty Images Embed)


Especialistas alertam, porém, que, embora o aumento térmico já seja uma realidade, é possível e fortemente encorajado que se trabalhe para que, ao final do século XXI, esse aumento esteja controlado.

Ainda é totalmente possível e essencial reduzir as temperaturas para 1,5 °C até o final do século“, disse Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.

2025 é marcado por eventos climáticos extremos

O aumento térmico presenciado já deixou, ainda neste ano, impactos destrutivos ao redor do mundo, à medida que influencia as dinâmicas climáticas planetárias e gera desequilíbrios catastróficos. A destruição da natureza afeta a economia, alimentação, saúde e tira milhares de vidas a cada ano.

As enchentes no Texas (Estados Unidos), em julho, deixaram 135 mortos, o pior desastre do tipo em quase meio século. 

Na região do Mar Mediterrâneo, uma onda de calor entre junho e agosto fez os termômetros atingirem 50,5 °C na Turquia e gerou incêndios que afetaram a agricultura e turismo. 

Na África, milhares de pessoas perderam suas casas devido a ciclones e inundações em Moçambique, República Democrática do Congo e África do Sul, enquanto que cerca de 1,5 milhão de paquistaneses e indianos tiveram de se deslocar por conta de enchentes na Ásia.

No Brasil, a Amazônia e o Centro-Sul sofreram com seca prolongada, ocasionando incêndios florestais e submetendo a risco os serviços de abastecimento de água e energia.

Para que os próximos anos não continuem a registrar recordes negativos, o documento da OMM divulgado hoje clamou pela priorização de energias renováveis.

 

Fundo de Florestas proposto pelo Brasil receberá investimento da China

O governo brasileiro recebeu indícios da China que o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF na sigla em inglês) receberá investimento do país, segundo o que a Reuters disse a duas fontes brasileiras. O projeto apresentado pelo Brasil é uma proposta de financiamento para preservação de florestas em risco ao redor do mundo.

Ajuda chinesa no Fundo de Florestas

Lan Fo’an, ministro chinês das Finanças, foi quem indicou que a contribuição poderia acontecer, durante uma reunião bilateral com Fernando Haddad, ministro da Fazenda, na última quinta-feira (3), na reunião de finanças do BRICS no Rio de Janeiro.

Uma das fontes estava presente durante a conversa, e relatou que Lan Fo’an disse a Haddad que a ideia do fundo era muito importante, e que a China colaboraria. Apesar de valores não terem sido discutidos ainda, o governo brasileiro entendeu como uma sinal de que a decisão estaria tomada, considerando que a fala veio do ministro das Finanças chinês.

A intenção chinesa de inserir recursos no fundo pode fazer com que mais países contribuam no combate às mudanças climáticas.

A embaixada da China em Brasília foi procurada, mas não respondeu a nenhum pedido de comentário. Em nota oficial, o Ministério da Fazenda informou que Haddad e Lan Fo’an conversaram, mas não foi descrito o que foi discutido.


Haddad e Lan Fo’an discutem propostas ambientais (Foto: Reprodução/X/@MinFazenda)

Problema global

Em maio, o presidente Lula visitou a China, e conversou sobre o fundo com o presidente Xi Jinping. O Brasil pretende que outros países emergentes se atraiam pelo fundo, em especial as nações do Oriente Médio.

O objetivo é resolver a discussão sobre o financiamento climático que acontece entre países desenvolvidos e países emergentes. A disputa entre os países é sobre quem caíra a responsabilidade dos custos para as medidas de adaptação, mitigação e preservação do meio ambiente, a fim de evitar que o aquecimento do mundo ultrapasse o limite de 1,5ºC.

A maior causa do aquecimento global até hoje ocorre pelos países desenvolvidos, e por isso eles deveriam ser os responsáveis e arcar com os custos, segundo o Acordo de Paris.

Todavia, vem sendo exigido cada vez mais que países emergentes com economias fortes, como a China e países do Oriente Médio também contribuam com os custos.

Lula critica ONU por não formar Estado Palestino

Na noite desta segunda-feira (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de um evento nos Estados Unidos que faz parte da iniciativa Goalkeepers, da Fundação Bill e Melinda Gates, onde foi recebido como vencedor do prêmio “Luta Contra a Fome e a Pobreza”, e criticou faltas de ações por parte da ONU da questão Palestina.

Segundo o presidente, o mundo está sem governo, sem respeito para com o próximo. Sobre a ONU, Lula declarou que, quando fora criada, a ONU teve força para gerar o Estado de Israel, e hoje não tem coragem para criar o Estado Palestino.

Ele prossegue, informando que atualmente a Organização das Nações Unidas não possui mais a força de antes para decidir, permitindo que guerras como a da Rússia e da Ucrânia e do Iraque acontecessem, tal qual a invasão da Líbia e o genocídio na Faixa de Gaza.


Luiz Inácio Lula da Silva fala durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) em Nova York, na terça-feira (24) (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Bloomberg/Jeenah Moon)


Criação de um Estado Palestino

Desde o princípio do extermínio em Gaza, Lula defendeu muitas vezes um Estado Palestino, bem como criticou Israel, responsável por provocar crise diplomática entre Brasília e Tel Aviv. Israel está há quase sete meses sem um embaixador, desde que Lula comparou os ataques de Israel em Gaza ao Holocausto.

No mesmo evento, a participação de mais países no Conselho de Segurança da ONU voltou a ser reconhecida pelo presidente, que já havia falado sobre o tópico em outros eventos, defendendo que o mundo não pode persistir com cinco países como membros deste Conselho.

Representatividade na ONU

Lula ainda defende que mais países dos continentes africano, sul-americano e asiático deveriam entrar, garantindo um poder mais plural e com representatividade, visto que, como as decisões da ONU não são mais respeitadas, as pessoas pobres não são representadas. Segundo o presidente, este tema será discutido no G20.

Sobre a inadimplência do Protocolo de Kyoto, do Tratado de Copenhague e do Acordo de Paris, Lula questiona como o planeta pode ser cuidado se as decisões a serem adotadas, decididas nos encontros, não são cumpridas. E não são cumpridas por não haver autoridade governamental mundial.