Irã cobra ação da ONU após ataques à instalação nuclear

Em carta aberta direcionada à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã (AEOI), Mohammad Eslami, informou ontem, quinta-feira (19), que tomará medidas legais contra a agência. A ação, segundo informou, deve-se à inação do órgão em fiscalizar os ataques realizados por Israel às instalações nucleares iranianas nas regiões de Arak e Khondab.

Críticas à AIEA

Em comunicado, Eslami critica o diretor-geral da agência, Rafael Grossi, acusando-o de trair o regime de não proliferação nuclear, informando que Grossi precisa “cumprir seus deveres constitucionais, encerrando imediatamente essa inação”. As falas seguem condenando as ações realizadas por Israel, alegando serem “contrárias às regulamentações internacionais”.


Críticas feitas pelo Irã à AIEA (Foto: reprodução/X@EnglishFars)

 O ministro das Relações Exteriores do Irã, Esmaeil Baqaei, também utilizou suas redes sociais para criticar e acusar Rafael Grossi de traição ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Em suas falas, Baqaei declara que Grossi “transformou a AIEA em uma ferramenta de conveniência para que membros não pertencentes ao TNP” fossem privados de direitos básicos.


Declaração de Esmaeil Baqaei, em relação ao diretor geral da AIEA, Rafael Grossi (Vídeo: reprodução/X/@IRIMFA_SPOXa)

Conforme publicação, autoridades iranianas acusam Grossi de elaborar um relatório tendencioso e instrumentalizado pelos EUA, referente a investigações por parte da AIEA, sobre armamento nuclear desenvolvido pelo Irã ou não. Esmaeil Baqaei alerta que as ações de Grossi tiveram consequências terríveis à população iraniana, exigindo que o diretor da agência seja responsabilizado.

Resposta da AIEA

Em discursos publicados em suas redes sociais, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informa realizar o monitoramento de instalações nucleares iranianas constantemente. Declara, ainda, que técnicos da Agência estão no país para avaliar a situação de perto assim que possível. Grossi declara, inclusive, que viajará ao Irã para avaliar as instalações nucleares e confirmar se estão sendo utilizadas para fins não armamentistas.


Discurso do diretor diretor-geral da AIEA perante o Conselho de Governadores da ONU (Vídeo: reprodução/Instagram/@grossirafaelmariano)


Desde o início da ofensiva de Israel contra o Irã, e ataques mútuos, a AIEA se diz apreensiva com uma possível radiação nuclear afetando o meio ambiente e a população local. Em nota, a Organização das Nações Unidas (ONU) informa que outras instalações nas cidades iranianas de Tesa Karaj e Teerã, atingidas por Israel, já haviam sido monitoradas pelo órgão como parte do Plano de Ação Conjunta Global (Jcpoa). 

O Jcpoa é um acordo firmado em 2015 com o Irã, a fim de retirar as sanções impostas ao país em troca da não proliferação de armas nucleares, que limita a capacidade para enriquecimento de urânio, além do monitoramento por vários órgãos internacionais às suas instalações nucleares.

A preocupação tanto do Conselho de Segurança da ONU quanto da AIEA é a de que haja vazamento radioativo nos locais atingidos pela ofensiva israelense. A vice-comissária do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Nada Al-Nashif, solicitou negociações urgentes para acabar com os ataques, evitando uma escalada militar a nível global e danos irreversíveis às pessoas e ao meio ambiente.

Nível de urânio enriquecido no Irã é próximo ao de armas nucleares

A Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA, órgão da ONU, publicou nesta segunda-feira (27), que o Irã tem enriquecido e armazenado urânio nos moldes da fabricação de armas nucleares. A morte do presidente Ebrahim Raisi interrompeu o diálogo entre a agência e o país.

Entenda o enriquecimento do urânio

De acordo com a AIEA, aproximadamente 42 kg de urânio enriquecido a 60% são suficientes para confeccionar uma arma nuclear. Tecnicamente falando, é muito simples alcançar uma pureza de 90%, para o que já está em 60%. O urânio enriquecido a 90% de pureza é usado para fabricar armas mais potentes.

Em fevereiro, o país tinha 122 kg de urânio enriquecido a 60%. Atualmente, já são 142kg. A quantidade do elemento enriquecido a níveis inferiores a 60% é maior. Eram 5.525,5 kg no início do ano, e 6.201,3 na atualidade. Com base no acordo nuclear de 2015, as quantias excedem o limite autorizado.


Negociações sobre o Acordo Nuclear com o Irã, Viena – Áustria (Foto: reprodução/Anadolu Agency/Getty Images embed)


Acordo nuclear de 2015

Durante a gestão do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi firmado um acordo entre o governo da República Islâmica e um grupo de potências internacionais, liderado pelos EUA. Esse grupo aceitara encerrar as sanções ligadas ao programa nuclear iraniano. Em contra- partida, o país prosseguiria seu programa para fins comerciais, médicos e industriais. Donald Trump não deu continuidade nesse acordo.

O Irã continua divulgando que o programa nuclear é pacífico, mas impede que inspetores da AIEA o monitore. Rafael Mariano Grossi, presidente da agência, afirmou que, nesse ritmo, o país tem know-how suficiente para fabricar certos tipos de bombas nucleares.

Um outro fator que, também, vem dificultando as inspeções da AIEA é o clima tenso no Oriente Médio, provocado pelo conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Não tem como garantir que as centrífugas não estão sendo usadas para um programa clandestino de enriquecimento. As negociações entre ONU e Irã, por hora, são apenas para aumentar as inspeções do programa atômico.

Agência nuclear firma que Irã tem insumos suficientes para fabricar várias bombas

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) manifestou preocupação com a situação de desenvolvimento nuclear do Irã. O órgão, que delimita as atividades do programa nuclear iraniano, tomou conhecimento de um relatório confidencial nesta segunda-feira (26).

Segundo o texto, o Irã conta com 27 vezes mais material do que o permitido no acordo de 2015 para a fabricação de armas nucleares, incluindo bombas atômicas.

A relação entre o governo do Irã e a Organização das Nações Unidas (ONU) têm piorado nos últimos meses. Em documento confidencial, o diretor-geral da agência, Rafael Grossi, faz menção às “declarações públicas no Irã sobre suas capacidades técnicas de produção de armas nucleares, o que reforça as preocupações“.

Irã está sujeito a acordo nuclear

Em 2015, o Irã selou um tratado com a AIEA e a ONU envolvendo o uso da tecnologia nuclear para fins militares. A ideia é tentar assegurar que o programa nuclear em andamento tenha fins civis. 

No acordo, o país concordou em limitar as atividades nucleares e permitir a entrada de inspetores internacionais na capital Teerã. Em troca, as potências globais suspendem as sanções internacionais.

Apesar da República Islâmica negar a intenção de produzir uma arma atômica, outro documento, datado em 10 de fevereiro, revela que o país possui 5.525,5 quilos insumos nucleares, em comparação com os 4.486,8 quilos registrados no final de outubro.

Isso é 27 vezes mais do que o limite autorizado pelo acordo internacional de 2015.

Irã rejeita a visita de inspetores


Bandeira da República do Irã (Foto: reprodução/R7 Entretenimento)

Em 21 de fevereiro, o chefe da política nuclear do Irã, Mohammad Eslami, negou a entrada ao país para Rafael Grossi. Em explicação dada a jornalistas, Eslami alegou estar com a “agenda conturbada” para atender o diretor da AIEA, e que as interações do Irã com a ONU seguem “normalmente”.

Dois dias antes, em entrevista à Reuters, Grossi havia afirmado que, embora o ritmo de enriquecimento de urânio tenha diminuído desde o final de 2023, o Irã continua enriquecendo a uma taxa elevada através deste ativo usado para o desenvolvimento de armas nucleares.