Auditoria expõe descontrole milionário do Corinthians na gestão de materiais da Nike

Uma auditoria interna realizada no Corinthians revelou um grave descontrole na gestão dos materiais esportivos fornecidos pela Nike, expondo falhas administrativas, riscos fiscais e um uso irregular da cota contratual. O relatório, obtido pelo “GE”, aponta que o vice-presidente Armando Mendonça, responsável pelo gerenciamento dos itens no clube, retirou 131 produtos entre junho e outubro sem os devidos registros e autorizações. Em paralelo, um funcionário do clube chegou a ser flagrado vendendo materiais, enquanto equipes de base e outras modalidades enfrentam escassez ou utilizam uniformes em condições precárias.

Algumas inconformidades graves

Os auditores identificaram sete inconformidades classificadas como graves. Entre elas, o acúmulo de materiais de coleções antigas sem destinação definida, a distribuição desigual dos uniformes e a ausência de um inventário físico formal no Parque São Jorge há mais de quatro anos. Também foram detectadas notas fiscais não registradas no sistema, o que gera inconsistências contábeis e amplia o risco de penalidades fiscais. Segundo o relatório, há ainda pedidos realizados à Nike sem planejamento e retiradas feitas antes da conclusão da cadeia de aprovações internas, enfraquecendo o processo de governança.

O documento coloca Armando Mendonça no centro de parte dessas falhas. Ele teria realizado retiradas diretas no almoxarifado sem registro formal e, segundo relatos, demonstrado resistência aos trabalhos de auditoria, adotando, inclusive, tom agressivo em conversas com Marcelo Munhoes, diretor de Tecnologia e responsável por conduzir a investigação. Mendonça nega irregularidades, afirma que não é responsável pela política de distribuição dos materiais e classifica o relatório como tendencioso.

Receberam mais produtos

Os números revelam a dimensão do problema. Entre janeiro e 10 de outubro de 2025, o Corinthians recebeu 41.963 itens da Nike, volume 24% superior ao de 2024. Somados os dois anos, o clube acumulou R$ 23,7 milhões em materiais  quase 300% acima da cota anual de R$ 4 milhões prevista em contrato. Ainda assim, há relatos internos de falta de camisas do uniforme principal para partidas oficiais.


Escudo do Corinthians (Foto: reprodução/Vanderlei Almeida/AFP/Getty Images Embed)


Outra irregularidade alarmante é o montante de notas fiscais não lançadas nos sistemas do clube: R$ 6,4 milhões somente entre 2024 e 2025. O relatório ressalta que o não registro compromete a precisão dos estoques e expõe a instituição a riscos fiscais significativos. Procurada, a diretoria do Corinthians não se manifestou. A Nike, segundo o clube, não cobra pelos itens excedentes solicitados. A investigação segue em andamento.