Fraude na Itália: brasileiros usavam casas falsas para cidadania

A polícia italiana revelou um esquema que usava endereços falsos para ajudar brasileiros a conseguir cidadania. A investigação ganhou força quando agentes públicos notaram um aumento incomum de registros ligados a imóveis pequenos, onde moravam poucas pessoas, mas que apareciam como residência oficial de muitos brasileiros que nunca tinham passado por ali.

A operação chamou a atenção por envolver dezenas de brasileiros que acreditavam estar seguindo os trâmites legais. Muitos buscaram empresas que prometiam facilitar todo o processo de reconhecimento, mas acabaram enganados por grupos que fabricavam documentos, manipulavam registros e criavam residências que não existiam de verdade.

O caso expôs uma prática que vinha crescendo de forma silenciosa e alertou as autoridades para a necessidade de reforçar a checagem das solicitações.

Como funcionava o esquema

A polícia explicou que os golpistas vendiam pacotes que prometiam registrar brasileiros como moradores de cidades da Itália. Esses registros seriam usados como comprovantes oficiais no processo de cidadania. Mas quando as autoridades começaram a conferir os endereços, perceberam que havia algo errado. Alguns imóveis tinham dezenas de pessoas registradas no mesmo local, enquanto outros estavam vazios ou nem tinham condições de moradia.

Muitas vítimas pagaram caro acreditando que estavam contratando uma assessoria séria. Elas só descobriram o golpe quando os pedidos de cidadania foram recusados ou quando agentes visitaram os endereços e viram que ninguém conhecia as pessoas registradas ali. Foi nesse momento que muitos perceberam que haviam sido enganados.

A polícia italiana também descobriu que moradores locais participavam do esquema ao aceitar incluir nomes de estrangeiros em seus endereços em troca de dinheiro. Além deles, havia intermediários que cuidavam da documentação e das instruções para tentar dar aparência de legalidade ao processo. A intenção era fazer parecer que as pessoas realmente viviam no país, algo essencial para pedir a cidadania.

O Ministério Público informou que os envolvidos podem responder por falsidade ideológica e outros crimes ligados ao uso de documentos irregulares. A operação ainda está em andamento e deve ter novos desdobramentos. A polícia disse que continuará verificando registros de residência em várias cidades para impedir que golpes parecidos se repitam.

Especialistas em imigração afirmam que fraudes assim acontecem porque muita gente tem dificuldade de entender as regras e procura soluções rápidas. Eles recomendam que todo processo seja feito pelos canais oficiais e alertam que qualquer oferta que prometa agilidade demais deve levantar suspeita. Também orientam que interessados busquem ajuda em consulados e sempre verifiquem a reputação de quem oferece serviços de assessoria.


Passaporte e dinheiro europeu (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Dr T J Martin)

Consequências para brasileiros envolvidos

A operação na Itália atingiu diretamente muitos brasileiros que estavam no meio do processo de cidadania. Quem teve o nome ligado aos endereços falsos agora precisa provar que não participou do esquema de forma consciente. Mesmo as pessoas que foram enganadas podem enfrentar atrasos, novas entrevistas e até a suspensão do pedido, dependendo da análise das autoridades.

O prejuízo financeiro também preocupa. Muitas famílias juntaram dinheiro por anos para pagar taxas, viajar e contratar serviços. Agora, além de estarem com o processo parado, ainda precisam procurar advogados e tentar recuperar o valor que gastaram. Esse tipo de ação costuma ser longo e nem sempre garante o reembolso.

Advogados lembram que a cidadania italiana continua garantida para quem segue todas as regras, mas reforçam que é importante ter cuidado. Eles orientam que ninguém aceite ofertas de facilidade sem checar a procedência. A recomendação é sempre pedir contrato, verificar o registro profissional da assessoria e guardar todos os comprovantes, incluindo recibos e conversas de orientação.

A investigação também movimentou prefeituras italianas. A grande quantidade de registros falsos sobrecarregou os serviços locais e fez com que as autoridades anunciassem novas verificações presenciais para confirmar quem realmente vive nos endereços informados pelos estrangeiros. A expectativa é que essas ações deixem o processo mais seguro e evitem novas fraudes.

Mesmo assim, as autoridades italianas afirmam que os brasileiros que estiverem com a documentação correta não serão prejudicados. O objetivo é punir quem organizou a fraude e proteger quem foi enganado. A orientação geral é revisar os próprios documentos com atenção e procurar ajuda especializada sempre que houver dúvidas.

A operação segue em andamento e novas medidas podem ser anunciadas nos próximos dias. Para especialistas, o caso serve como alerta. Quanto mais as pessoas buscarem orientação segura e seguirem apenas os caminhos oficiais, menores serão as chances de cair em golpes como este no futuro.

Zambelli apela à Justiça italiana e pede prisão domiciliar por motivos de saúde

A defesa da deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) vai solicitar à Justiça italiana que ela seja transferida para prisão domiciliar ou liberada até que o pedido de extradição feito pelo Brasil seja analisado. A parlamentar, que foi detida na Itália, enfrenta uma condenação por invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O pedido será apresentado em audiência marcada para esta sexta-feira (1º), com base no estado de saúde da deputada. Segundo o advogado Fábio Pagnozzi, Zambelli está sem acesso aos medicamentos de uso contínuo, o que pode comprometer sua saúde nas próximas 48 horas.

Advogados afirmam que Zambelli não representa ameaça

Outro argumento da defesa é que a parlamentar não oferece risco aos cidadãos italianos nem intenção de fugir do país. “Ela está na lista vermelha da Interpol, não teria como sair da Itália. Nossa intenção é colaborar com a Justiça”, afirmou o advogado à CNN.

Zambelli também havia se manifestado, destacando que se apresentou voluntariamente às autoridades italianas. “Aqui temos Justiça e democracia. Não temos um ditador no poder. Estou tranquila, sei que vão perceber minha inocência ao analisar o caso. Não estou fugindo, estou resistindo”, declarou.


Defesa de Carla Zambelli detalha pedido de prisão domiciliar (reprodução/YouTube/CNN Brasil)

Defesa não pode pedir asilo devido à cidadania italiana

Por possuir cidadania italiana, a deputada não pode solicitar asilo político. Ainda assim, a defesa vai alegar que ela sofre perseguição política no Brasil e pedirá que seus direitos como cidadã italiana sejam respeitados, permitindo que ela permaneça no país.

Desde que o pedido de extradição foi protocolado, o Ministério do Interior da Itália iniciou a análise da documentação enviada pelo governo brasileiro. Em seguida, o caso foi encaminhado a um tribunal, que decidirá se há base legal para a extradição com base na sentença brasileira.

Justiça italiana avalia pedido de extradição do Brasil

A decisão final sobre a extradição cabe inicialmente ao Ministério da Justiça da Itália, que pode arquivar o caso ou manter a prisão provisória de Zambelli. Se o processo seguir adiante, será submetido à Corte de Apelação de Roma, onde a Justiça italiana e a defesa apresentarão seus argumentos. A instância máxima, a Corte de Cassação, pode ainda ser acionada para o julgamento final. Mesmo com parecer favorável dos tribunais, o Ministério da Justiça italiano tem a palavra definitiva e pode negar a extradição por razões políticas. Especialistas apontam que o processo pode durar até dois anos, mas há chances de a deputada ser liberada antes, especialmente se surgirem obstáculos políticos ou considerações governamentais, como ocorreu em casos anteriores de extradição internacional.

Senado da Itália aprova decreto para restringir naturalização de estrangeiros

Nesta quinta-feira (15), o Senado da Itália aprovou um projeto de lei que impõe novas restrições ao reconhecimento da cidadania italiana para descendentes nascidos fora do país. A proposta confirma um decreto do governo publicado em março e agora segue para votação na Câmara dos Deputados, que decidirá se o decreto será convertido em lei definitiva.

Mudança nas regras

A nova norma prevê que apenas filhos e netos de italianos possam solicitar a cidadania, desde que atendam a condições específicas. Uma delas é que o ascendente direto — pai, mãe, avô ou avó — tenha nascido na Itália. A outra possibilidade é que, se o parente nasceu fora da Itália, ele precisa ter residido no país por ao menos dois anos consecutivos antes do nascimento do requerente.


Passaporte italiano (Foto: reprodução/Yevgen Romanenko/Getty Images embed)


Até então, o direito à cidadania era garantido por meio do princípio do jus sanguinis (“direito de sangue”) e não havia limite de gerações, desde que o vínculo familiar com um cidadão italiano vivo após 17 de março de 1861 (data de unificação do Reino da Itália) fosse comprovado. Com as mudanças, essa possibilidade será encerrada, afetando principalmente bisnetos e trinetos de italianos, grupo em que se encaixa boa parte dos solicitantes no Brasil.

Solicitações em excesso

Outro ponto importante do texto é que ele suspende o encaminhamento de pedidos de cidadania por meio de consulados e embaixadas, obrigando os interessados a entrar com ações diretamente na Justiça italiana. O governo defende as novas regras sob o argumento de que há um “fluxo descontrolado” de solicitações e que a medida visa proteger a segurança nacional.

Há, no entanto, discussões em curso sobre emendas que poderiam suavizar a proposta. Uma das alterações sugeridas busca preservar o direito daqueles que já deram entrada no processo antes de 28 de março, quando o decreto foi publicado. Já a outra propõe que o reconhecimento da cidadania seja possível mesmo que o ascendente não tenha nascido na Itália, desde que tenha mantido exclusivamente a cidadania italiana — o que significaria, na prática, que brasileiros descendentes só teriam direito se seus pais ou avós renunciassem à cidadania brasileira.

Especialistas em direito afirmam que essas alterações, se aprovadas, podem gerar disputas jurídicas, uma vez que há precedentes na Suprema Corte italiana reconhecendo a cidadania transmitida sem restrições de geração. Além disso, há entendimento de que mudanças na legislação não podem retroagir para prejudicar direitos já adquiridos.

Rodrigo Faro é citado em esquema ilegal de obtenção de cidadania italiana

Nesta segunda-feira (27), o portal de notícias italiano, RailNews, divulgou uma reportagem, abordando um esquema ilegal para obtenção de cidadania italiana. “Carioca”, como foi batizada a operação, cita Rodrigo Faro e sua esposa – Vera Viel – o jogador de futebol Bruno Duarte e outros empresários brasileiros.

As autoridades italianas já vinham suspeitando do número de brasileiros que pediam direito à cidadania por terem parentes na pequena Villarica, cidade com pouco mais de 20 mil habitantes, sem nunca ter viajado para o pequeno município italiano.

Prisão de seis integrantes do esquema

De acordo com o Ministério Público italiano, nesse esquema de corrupção, documentos falsos para conceder a cidadania e o passaporte italiano eram vendidos a partir de supostos elos com Villarica. Foram denunciados dois brasileiros, quatro policiais e dois funcionários públicos por corrupção e falsificação de documentos. A Polícia Metropolitana de Nápoles prendeu os seis acusados na data de hoje.

Faro usou as redes sociais para se defender, afirmando que comprovou laços com seus antecedentes na Itália. Segundo ele, o processo teria sido aprovado e os passaportes concedidos. Ele ainda acrescentou que tanto ele quanto a esposa, teriam sido vítimas do esquema.


Publicação de Rodrigo Faro (Reprodução/Instagram/@rodrigofaro)

Até agora, sabe-se que Silmara Fabotti, considerada líder do esquema, foi uma das pessoas presas. O escritório Diritto di Cittadinanza era quem oferecia serviços relacionados à obtenção de cidadania italiana.

Alerta para evitar golpes futuros

Especialistas no assunto afirmam que esse caso levanta sérios questionamentos sobre o processo de cidadania por descendência, inclusive em outros países. Para garantir a integridade e a confiança públicas, é premente que todos os processos sejam conduzidos de forma transparente e dentro da legalidade.

O caso segue em investigação pelas autoridades italianas subordinadas ao Ministério Público do Norte de Nápoles. O artista Rodrigo Faro e sua esposa estão tentando provar inocência.