Senadores brigam no México após debate sobre intervenção dos EUA

O presidente do Senado mexicano, Gerardo Fernández Noroña, da esquerda governista, e o líder do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Alejandro “Alito” Moreno, de viés opositor e minoritário, trocaram agressões físicas na quarta-feira (27), diretamente do Congresso, após acusações de que a oposição seria favorável a uma invasão estrangeira ao território nacional. Um jornalista ficou ferido e precisou de ajuda médica.

Governistas acusam opositores de estimular invasão dos EUA

Na sessão de quarta, uma parte majoritária do Senado, ligada à presidente Claudia Sheinbaum, sustentou que o PRI e o conservador PAN estariam agindo em prol de uma intervenção militar dos EUA após a senadora de oposição Lilly Téllez conceder entrevista ao canal estadunidense Fox News no domingo apontando uma suposta presença de cartéis no governo de seu próprio país.


Senadores mexicanos entraram em confronto físico ontem, na Casa legislativa nacional, causando confusão generalizada (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)


O dia foi finalizado de forma acalorada, sem que, alega o opositor, Moreno pudesse proferir suas últimas palavras. Nesse sentido, ele se levantou durante a execução do hino nacional, que sinaliza o fim dos trabalhos diários da Casa legislativa mexicana, e empurrou o líder governista repetidamente, que também revidou. Um jornalista acabou empurrado, caiu no chão e, depois, recebeu assistência médica.


Registro do momento da briga entre senadores na Casa Legislativa Nacional (Foto: reprodução/Stringer/Getty Images Embed)


Trump envia forças estadunidenses ao Caribe

O presidente americano, Donald Trump, enviou tropas militares para o sul do Caribe há cerca de duas semanas, a fim de combater facções ligadas ao narcotráfico, como o Tren de Aragua (da Venezuela) e MS-13 (de Los Angeles, com origens em imigrantes ilegais da América Central). Trump considera a atuação desses grupos uma modalidade de terrorismo. A decisão ocorreu sem a autorização do Congresso dos EUA, que, pela Constituição, deve autorizar a incursão militar em territórios estrangeiros. 

Frente à atitude, o líder venezuelano Nicolás Maduro convocou cerca de 4,5 milhões de mercenários, aprofundado a já conturbada relação entre Caracas e Washington.

Claudia Sheinbaum, do México, por sua vez, disse ter sido informada sobre as movimentações, mas que elas não ocorreriam. A julgar pelos recentes acontecimentos no Senado mexicano, no entanto, a tensão permanece.

México cria centros de imigração para as deportações em massa dos EUA

Rosa Icela Rodríguez, Ministra do Interior do México, anunciou nesta terça-feira (28), durante a conferência La Mañanera del Pueblo, que os dez centros de acolhimento destinados aos mexicanos deportados dos Estados Unidos já estão em funcionamento, mas, até o momento, estão vazios. O evento foi presidido pela presidente Claudia Sheinbaum.

A iniciativa prevê a instalação de dez centros de acolhimento ao longo da fronteira, com a expectativa de que quase todos os ramos do governo mexicano contribuam com serviços, como transporte de retorno às cidades de origem, cuidados médicos e a inclusão dos deportados em programas de assistência social. Entre os serviços oferecidos estão pensões, cursos de aprendizagem remunerados e cartões de auxílio financeiro.

“Estamos prontos para recebê-los deste lado da fronteira”, afirmou a ministra, em recente pronunciamento.


Presidente do México apresenta plano de acolhimento aos refugiados (Vídeo: reprodução/Youtube/Claudia Sheinbaum)


México te Abraça

A presidente Claudia Sheinbaum também participou do anúncio e ressaltou que aqueles que decidirem retornar de forma voluntária também serão repatriados.

“Os imigrantes mexicanos não são criminosos. Eles atravessaram a fronteira, contribuíram para a economia dos Estados Unidos e também para o México. São pessoas trabalhadoras, que se esforçam todos os dias para progredir. Hoje, o México os espera”

Claudia Sheinbaum

Até o momento, abrigos já foram construídos em Ciudad Juárez, na fronteira com El Paso, no Texas, e os primeiros centros estão em construção em Nogales, no México, em frente à cidade homônima do estado do Arizona, além de Piedras Negras e Matamoros. A informação foi confirmada pela Associated Press.

Em comunicado oficial, a presidente mencionou que o número de deportações na terça-feira foi inferior à média diária de 500, do ano anterior, e que os abrigos estavam menos ocupados em comparação ao mesmo período de 2024, quando o número de imigrantes aumentou significativamente.

México e EUA

O governo de Claudia Sheinbaum se antecipou às ordens executivas de Washington e condenou a adoção de medidas unilaterais” no contexto da relação bilateral. O México já se prepara para mitigar os impactos dos recentes anúncios de Washington.

A presidente anunciou, semanas atrás, que um dos principais pontos da negociação com o governo de Donald Trump será evitar que o México tenha que absorver toda a responsabilidade pelo acolhimento dos deportados. Sheinbaum afirmou que o país só assumirá a responsabilidade por um pequeno grupo de imigrantes. Autoridades mexicanas resistem à ideia de se tornar um “país terceiro seguro”, o que tem gerado críticas internas.

Entre as prioridades do governo mexicano estão os impactos dessas medidas na população nacional, especialmente entre os mais de cinco milhões de imigrantes mexicanos sem documentos, e aqueles que vivem nos Estados Unidos há muitos anos.

Salma Hayek celebra vitória feminina para presidência do México

No último domingo (02), Claudia Sheinbaum venceu as eleições presidenciais no México. Após a vitória, a atriz Salma Hayek se manifestou por meio de uma postagem em seu Instagram, utilizando uma imagem do Anjo da Independência, um monumento simbólico na Cidade do México. Na legenda, Salma fez um apelo pela abolição do feminicídio no México, um problema persistente no país latino-americano.


Publicação de Salma Hayek sobre a vitória de Claudia Sheinbaum (Reprodução/Instagram/@salmahayek)


Normalmente, a atriz não se posiciona em assuntos políticos. No entanto, Hayek é ativista no combate à violência contra a mulher.

Após a mensagem esperançosa de Salma Hayek, um questionamento é levantado: o porquê do povo mexicano acreditar tanto em Claudia Sheinbaum.

Claudia Sheinbaum

A atual presidente, Claudia Sheinbaum, é doutora em física, o que lhe rendeu o apelido de “La Doctora”. Como ex-prefeita da Cidade do México e cientista, ela fez parte de um painel climático das Nações Unidas que recebeu o Nobel da Paz.

Além de ter sido a primeira mulher a ocupar o cargo na nação mexicana, também é a primeira pessoa com herança judaica. Tais fatos surpreendem, pois quando falamos de México, a cultura patriarcal e conservadora é bastante presente no território. Ambos pilares são derrubados com a eleição de Sheinbaum.

Seu companheiro de partido, o ex-presidente, Andrés Manoel López Obrador, passa o bastão para doutora em um momento bastante positivo do partido Morena, a esquerda do México. Esse olhar positivo só foi conseguido por meio de práticas em prol do bem-estar social bem sucedidos.

Feminicídio no território mexicano

Com um perfil tão distinto em comparação aos presidentes anteriores do México, Claudia Sheinbaum traz a esperança de mudanças significativas para o país. Entre tantas prioridades, a luta contra o feminicídio precisa estar em foco, dado que é uma questão premente no território.

Contudo, no mesmo domingo em que se comemorava a vitória de Sheinbaum, a prefeita de Cotija, Yolanda Sánchez Figueroa, foi assassinada enquanto voltava da academia para casa. Esse contraste marcou o dia com duas polaridades: o progresso e o retrocesso.

Tal fatalidade traz um maior holofote para a questão a ser resolvida no mandato de Claudia Sheinbaum, assim como foi expresso pela ativista e atriz, Salma Hayek.

Claudia Sheinbaum é eleita presidente do México

As eleições presidenciais mexicanas tiveram seu resultado até mesmo antes da apuração da totalidade dos votos na noite deste domingo (02). A nova presidente do país é Claudia Sheinbaum, com vantagem significativa nas urnas. Apadrinhada pelo atual presidente Andrés Manuel López Obrador, a política é a primeira presidente mulher a ser eleita no país, alcançando um feito e uma vitória histórica.

A eleição da primeira presidente mulher

De acordo com as projeções feitas pelo Instituto Nacional Eleitoral, Sheinbaum derrotou sua principal adversária, a candidata Xóchitl Gálvez, obtendo entre 58,3% e 60,7% dos votos dos eleitores mexicanos. Gálvez chegou a desconfiar da demora do anúncio dos resultados oficiais, mas reconheceu a derrota em discurso, chegando a ligar para a nova presidente eleita para parabenizá-la.


A população mexicana foi em peso às urnas para escolher o novo presidente da nação (Foto: reprodução/Hector Vivas/Getty Images embed)


Claudia Sheinbaum teve grande popularidade desde o início, sendo apoiada por uma coalizão de partidos, incluindo Morena, Trabalhista e Ecologista Verde, além do atual presidente, Andrés Manuel López Obrador, que não pôde concorrer, pois no México não há reeleição. 

Hoje é um dia de glória porque o povo do México decidiu livre e democraticamente que Claudia Sheinbaum se torne a primeira mulher presidente em 200 anos de vida independente da nossa República. Parabéns a todas e todos nós que temos a alegria de viver nestes tempos estelares de orgulho e transformação”, escreveu Obrador em sua conta oficial no X.

Em seus discursos, Sheinbaum afirmou que pretende dar continuidade ao legado de Obrador, que inclui projeto que traz benefícios sociais às populações de baixa renda. Sheinbaum afirma que deseja dar estímulo à economia, promover políticas de energia renovável, lutar contra a corrupção e apaziguar a violência ligada ao narcotráfico, que é um dos maiores problemas do país. Ela se diz contra às políticas de punição mais severas, que teriam aumentado a violência no país, e advoga por uma proposta de construção de paz. 

De acordo com o Instituto Nacional Eleitoral, a eleição de domingo foi “o maior processo eleitoral que o México já teve”, com cerca de 98 milhões de mexicanos indo às urnas. Além da presidência, o país elegeu mais de 20 mil cargos neste fim de semana, incluindo assentos na Câmara dos Deputados e no Senado. Governadores, chefes de governo e vários outros cargos nas várias cidades dos 32 estados mexicanos também foram eleitos pela população.

Quem é Claudia Sheinbaum

Antes de entrar para o mundo da política, a primeira presidente mulher do México construiu uma carreira acadêmica. Graduada em física e com doutorado em engenharia ambiental em uma das mais prestigiadas universidades mexicanas, a presidente tem uma conceituada carreira como cientista. Sheinbaum também fez pós-doutorado nos Estados Unidos e participou do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU em 2007, que inclusive ganhou o Prêmio Nobel da Paz naquele ano. O prêmio de 1,5 milhão de dólares foi dividido entre o painel e o ex-vice-presidente Al Gore.

Os pais de Sheinbaum eram cientistas e ativistas de esquerda, então ela cresceu ouvindo discussões políticas em casa. “Essa dualidade entre fazer política para transformar o mundo e, ao mesmo tempo, esse senso acadêmico, científico, foi onde eu cresci“, disse Sheinbaum em um documentário sobre sua vida lançado ano passado.


Claudia Sheinbaum era uma das candidatas mais populares dentre as escolhas à presidência mexicana (Foto: reprodução/Manuel Velasquez/Getty Images embed)


Sheinbaum teve seu primeiro cargo na política em 2000, como secretária do Meio Ambiente da Cidade do México, sob a liderança de Andrés Manuel López Obrador, que era prefeito na época. A aliança dos dois vem desde essa época e Sheinbaum o acompanhou em todas as suas candidaturas presidenciais. Sheinbaum foi eleita chefe de governo da Cidade do México em 2018, a primeira mulher a assumir o cargo, mas deixou o cargo no ano passado para se concentrar em sua campanha para presidente.

Ao longo de sua campanha, Sheinbaum se mostrou como alguém forte e capaz de lutar pelo direito das mulheres, usando o slogan “México se escreve com ‘M’ de ‘Mãe’ e de ‘Mulher”. Apesar de ter semelhanças com Obrador, Sheinbaum disse querer ter uma “marca própria” que, ao que tudo indica, terá um apego à ciência e uma empatia mais feminina, que valoriza a conciliação ao invés do confronto.