ONU reativa sanções contra o Irã após dez anos de suspensão

As sanções da ONU contra o Irã voltaram a vigorar neste sábado (27), encerrando uma década de suspensão. A medida foi acionada pelo mecanismo conhecido como “snapback”, previsto no Acordo Nuclear de 2015 (JCPOA), que permite reativar restrições caso Teerã descumpra suas obrigações.

A iniciativa partiu das potências europeias, Reino Unido, França e Alemanha, que acusam o Irã de violar quase todos os compromissos assumidos no tratado, especialmente no que diz respeito à transparência de seu programa nuclear e à cooperação com inspetores internacionais.

Como foi a votação da ONU

O chamado mecanismo de “snapback”, aprovado pelo Conselho de Segurança na sexta-feira (26), reativa as sanções da ONU impostas entre 2006 e 2010. Na reunião, China e Rússia apresentaram uma proposta para estender por mais seis meses a validade da resolução que sustenta o acordo nuclear de 2015 com o Irã que vence em 18 de outubro.

A ideia era prolongar o prazo até abril de 2026, mas a medida não avançou: apenas quatro dos 15 membros apoiaram o texto, enquanto nove votaram contra e dois se abstiveram.

França, Alemanha e Reino Unido foram contrários ao projeto, reforçando acusações de que Teerã descumpriu compromissos firmados em 2015, cujo objetivo era evitar que o país desenvolvesse uma arma nuclear. O Irã rejeita essas alegações e sustenta que seu programa tem fins exclusivamente pacíficos.


Votação do Conselho de Segurança da ONU sobre sanções ao Irã (Foto: reprodução/Leonardo Munoz/AFP)


Após a votação, o embaixador francês na ONU declarou que o reestabelecimento das sanções não deve ser interpretado como o fim da via diplomática. Já o chanceler iraniano, Abbas Araqchi, pediu ao presidente do concelho que considerasse a decisão inválida e acusou as potências europeias, junto aos Estados Unidos, de criarem um cenário de instabilidade.

Em seu discurso, classificou a medida como “ilegal, imprudente e frágil” e alertou que a postura ocidental estaria dificultando qualquer possibilidade de diálogo.

No dia anterior, o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, havia dito que o país estava pronto para responder a qualquer cenário, caso as sanções fossem de fato restabelecidas, mas manteve certo otimismo de que a decisão poderia ser revertida.


Presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, durante coletiva de imprensa, em Nova York (Foto: reprodução/AP/Angelina Katsanis)


Ainda na quinta-feira (25), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores criticou Washington, chamando de contraditórias as declarações sobre negociações diplomáticas. “Não é possível bombardear um país e ao mesmo tempo alegar disposição para o diálogo”, disse no X.

Qual é a situação do programa nuclear iraniano?

Depois da ofensiva israelense contra o Irã, que se estendeu por 12 dias em junho, e dos bombardeios dos Estados Unidos à usina nuclear de Fordow, o real estado do programa nuclear iraniano permanece incerto.

Trump afirmou que a usina de Fordow foi totalmente destruída, enquanto outras análises indicam que o local sofreu sérios danos, mas que o impacto real teria sido apenas o atraso de cerca de dois anos no programa nuclear iraniano.

Segundo o chanceler do Irã, boa parte do urânio enriquecido permanece soterrada sob os escombros. Ainda não há clareza, porém, sobre a situação do maquinário em Isfahan, responsável por enriquecer urânio em nível militar e convertê-lo em metal.

Desde os ataques de junho, inspetores internacionais não conseguiram retomar as visitas às instalações nucleares iranianas.

 Estados Unidos apresentam proposta de “cessar-fogo imediato” para a guerra entre Israel e Palestina

Nesta quinta-feira (21), o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, confirmou que os Estados Unidos solicitaram um pedido ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para um “cessar-fogo imediato” na Faixa de Gaza. 

Em viagem a Arábia Saudita, Blinken disse que há possibilidade de paralisação dos bombardeamentos em Gaza caso o Hamas concorde em liberar reféns que estão sob poder do grupo terrorista desde os ataques que deram início a guerra, no último dia 7 de outubro. 

“Acabamos de apresentar uma resolução perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que apela a um cessar-fogo imediato ligado à libertação de reféns. Claro, apoiamos Israel e o seu direito de se defender, de garantir que o 7 de outubro nunca mais aconteça. Mas, ao mesmo tempo, é imperativo que nos concentremos nos civis que estão em perigo e que sofrem tão terrivelmente”, declarou Blinken em viagem a Arábia Saudita. 


Antony Blinken em encontro em Jeddah, na Arábia Saudita, discute sobre a tentativa de cessar-fogo na Faixa de Gaza. (Foto: Reprodução/Evelyn Hockstein/AFP)

Mudança de tom em relação a postura de Israel 

Com a oficialização do pedido dos Estados Unidos por um cessar-fogo em Gaza ao Conselho de Segurança da ONU, esta será a primeira vez, desde o início da guerra, que o presidente americano, Joe Biden,  solicitará a interrupção dos bombardeamentos vindos de Israel em direção ao território palestino.

Nas últimas semanas, Biden vem mudando o tom em relação à postura de Israel no conflito, isso porque, a escalada do número de mortes de civis palestinos vem afetando, inclusive, a reputação do presidente americano, que concorrerá à reeleição ainda neste ano. 

No início de março, durante uma entrevista, Joe Biden criticou a postura do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em relação aos ataques de Israel diante dos civis da Faixa de Gaza. “Ele tem o direito de defender Israel, o direito de continuar perseguindo o Hamas, mas ele precisa prestar mais atenção às vidas inocentes que estão sendo perdidas como consequência das ações tomadas”, enfatizou o presidente americano. 

Exército israelense estuda para atacar Rafah

Há semanas, as tropas de Israel vêm se preparando para atacar o território de Rafah, situado no sul da Faixa de Gaza, cidade localizada na fronteira do Egito. No entanto, a ação que vem sendo orquestrada pelo exército israelense não tem apoio internacional, isso porque, Rafah possui cerca de 1 milhão de civis palestinos que se deslocaram até a cidade em busca de abrigo. 

Nesta terça-feira (19), Netanyahu rejeitou o pedido de Biden para cancelar os planos de um ataque terrestre em Rafah. O primeiro-ministro israelense deixou claro que está determinado em concluir a extinção do Hamas em toda região.