Demna encerra sua era na Balenciaga com alta-custura pura

Na manhã em que Paris ainda respirava os ecos da alta-costura, Demna Gvasalia colocou seu ponto final na história que escreveu com a Balenciaga — e o fez como sempre prometeu: sem concessões. Seu último desfile, apresentado na histórica sede da maison na Avenue George V, foi mais do que uma coleção. Foi uma carta aberta sobre evolução, encerramentos e a coragem de mudar.

Durante quase uma década, Demna redefiniu o conceito de luxo contemporâneo: trouxe o street para o salão, fez da provocação sua ferramenta narrativa e transformou silhuetas brutas em desejo de passarela. Mas agora, escolheu o silêncio, a técnica e o corte preciso para sua despedida.

Joias, memórias e espetáculo

Longe dos visuais conceituais que viralizavam nas redes, Demna apostou aqui no atemporal. Casacos retos, cinturas marcadas, alfaiataria exímia, tecidos como couro couture, crepe de chine e lã pied-de-poule mostraram o verdadeiro valor do feito à mão. Cada peça foi elaborada com mais de 300 horas de trabalho nos ateliês, com silhuetas que flertavam com a origem da maison, mas com uma leitura sutilmente futurista. O desfile dispensou trilha sonora impactante. No lugar, o som dos passos no chão e do tecido sendo tocado, uma homenagem ao ofício.

Um dos momentos mais emblemáticos do desfile foi a entrada de Kim Kardashian. A socialite e empresária, figura constante nas criações de Demna, desfilou um vestido slip de cetim acetinado com casaco volumoso de pele (fake), evocando a imagem de Elizabeth Taylor reforçada pelos brincos usados no look: joias históricas da própria atriz, avaliadas em quase 400 mil dólares. No pescoço, dois colares exuberantes somavam mais de 250 quilates de diamantes, emprestados por Lorraine Schwartz especialmente para o momento. O glamour old-Hollywood em pleno 2025.


Desfile Balenciaga primavera 2026 (Foto: reprodução/Launchmetrics/spotlight/Fashion Network)


Demna costura sua última mensagem a Balenciaga

Na carta manuscrita deixada aos convidados, Demna foi direto: este desfile não era só uma despedida, mas um ato de transição.

Senti a necessidade de me reinventar. Essa coleção é sobre vestir o futuro antes que ele tenha nome”, escreveu.

O estilista encerrou o show à sua maneira de moletom e boné, jogando beijos silenciosos à plateia. Foi um gesto simples, mas simbólico: após anos de ruído estético e provocação midiática, ele escolheu o silêncio da técnica e a potência do gesto como assinatura final.

Agora, Demna segue rumo à Gucci, onde deve abrir um novo capítulo de experimentação e ruptura. A Balenciaga, por sua vez, entra em uma fase de reconfiguração sob comando de Pierpaolo Piccioli, prometendo um respiro mais lírico e romântico. No fim, sua despedida foi menos sobre o fim de uma era e mais sobre a maturidade de saber quando encerrar uma narrativa e a elegância de transformar o próprio adeus em manifesto.

Balenciaga anuncia novo diretor criativo

Nesta segunda-feira (19), o grupo Kering, conglomerado francês que detém várias marcas de luxo, anunciou a contratação do novo diretor criativo da Balenciaga, Pierpaolo Piccioli. O estilista, que havia deixado a Valentino em março de 2024, assume o posto a partir do dia 10 de julho. A coleção de estreia do italiano será lançada em outubro, destinada à temporada de primavera/verão em Paris.

Piccioli na Balenciaga

O estilista ocupará o cargo que antes era de Demna Gvasalia, que trocou a Balenciaga pela Gucci, marca que também faz parte do grupo Kering, em março deste ano. Pela primeira vez em sua carreira, Pierpaolo Piccioli assume a direção de uma grife não italiana. Anteriormente, já havia trabalhado na Fendi e passou 25 anos no comando da Valentino.


Pierpaolo Piccioli esteve na Valentino por 25 anos (Foto: reprodução/Instagram/@pppiccioli)

Agora, o italiano tem a função de dar continuidade ao sucesso alcançado pela marca durante a direção de Demna e ao legado de Cristóbal Balenciaga. Em comunicado oficial publicado nas redes sociais do estilista e da grife, Francesca Bellettini, vice-CEO da Kering, expressou sua felicidade em ter Piccioli como diretor criativo: “Não poderia estar mais feliz por receber Pierpaolo no Grupo. Ele é um dos designers mais talentosos e ilustres da atualidade”.

Na mesma publicação, Pierpaolo disse: “Em todas as fases, mesmo em constante evolução e mudança, Balenciaga nunca perdeu a noção de seus valores estéticos. O que estou recebendo é uma marca cheia de possibilidades e incrivelmente fascinante”. O estilista ainda aproveitou para demonstrar admiração por Demna e pedir passagem ao antecessor. 

Pierpaolo Piccioli

Pierpaolo Piccioli, de 57 anos, é um renomado estilista italiano. Iniciou os estudos em moda no Istituto Europeo di Design, em Roma, onde pode trabalhar com Brunello Cucinelli. Posteriormente, esteve ao lado de Maria Grazia Chiuri no departamento de acessórios da Fendi, onde exerceu atividades por 10 anos. 

Em 1999, foi convidado por Valentino Garavani para se juntar à equipe de acessórios da Valentino. Após a aposentadoria do criador da grife em 2008, Piccioli assumiu a direção criativa da marca. Em março de 2024, depois de 25 anos no cargo, o italiano anunciou a saída da maison. 


Brasileira Livia Nunes surge em nova campanha da Balenciaga

Nesta última quarta-feira (27), A influenciadora Lívia Nunes Marques, um dos nomes mais quentes da moda brasileira atualmente, foi destaque na nova campanha global da Maison espanhola, Balenciaga, para a bolsa-hit, Le City.

Mineira e com grandes aspirações internacionais, Livia já marcou presença em diversas semanas de moda pelo mundo, em exemplo da última Copenhagen Fashion Week, em que desfilou para a marca (di)vision e co-criou uma coleção ao lado do diretor criativo Simon Wick. Agora, ela se junta a outras personalidades de renome em campanha global que simula a atmosfera da primeira fila de um desfile da grife.


Campanha da “Le City Bag” da Balenciaga (Vídeo: reprodução/YouTube/Balenciaga)


A Le City Bag é uma reedição do icônico modelo Motorcycle, criada por Nicolas Ghèsquiere e originalmente apresentada na coleção de inverno de 2001. Desde então, o bolsa passou por diversas releituras, incluindo a simplificada Le Cagole, lançada em 2021 e que virou febre entre diversas influenciadoras de moda. Sob a direção criativa de Demna Gvasalia, a peça foi reformulada e relançada como Le City, reafirmando seu status como um item de desejo.

A campanha foi desenvolvida em uma atmosfera de desfile, onde a fila A da grife conta com personalidades, como as tops models Mika Schneider e Paloma Elsesser, além das influenciadoras Pernille Teisbaek e Devon Lee Carlson, amiga da grife e dona da famosa marca americana de capas de celular, Wildflower Cases.

Parcerias internacionais

Com essa parceria, Livia Nunes solidifica sua posição como uma das principais influenciadoras da moda, representando o Brasil de uma forma bastante significativa. A influenciadora tem visado bastante sua carreira internacional, e desta vez não foi diferente, em que ativamente, vem trabalhando com inúmeras marcas internacionais, exemplo disso está em suas últimas parcerias com a marca italiana Calzedonia, conhecida pelas suas peças de categoria legwear e beachwear e a (Di)vision, onde desfilou e apresentou sua primeira collab internacional que leva sua assinatura.

“Estar aqui fazendo o que amo. Minha primeira collab internacional assinada em uma semana de moda referência em criatividade e originalidade. Unindo moda e sustentabilidade. No meu lugar favorito do mundo”, escreveu em post no Instagram.


Colaboração entre Livia Nunes e (Di)Vision (Foto: reprodução/Instragram/@di_vsn)

Livia durante a semana de moda

Antes dessa campanha, Livia marcou presença no desfile da Balenciaga durante a Semana de Moda de Paris. Para prestigiar a Maison, a brasileira elegeu um vestido azul que integra a coleção de inverno 2024 da grife. O destaque ficou por conta da fita adesiva transparente transpassada sob a peça. Veja foto abaixo.


Livia Nunes durante semana de moda de Paris usando Balenciaga (Foto: reprodução/Instagram/@joaokopv)

A brasileira também fez parte da lista que aponta as principais influenciadoras com o maior Media Impact Value (Valor de Impacto de Mídia, em português) da semana de moda dinamarquesa em 2023, pela Launchmetrics, ferramenta que mede o impacto das comunicadoras em eventos de moda e lifestyle mundo afora.

Balenciaga sustenta tom irônico e subversivo com lingerie e ‘bonés-máscaras’ em Paris

Após a polêmica no final de 2022, quando a Balenciaga, sob o comando de Demna, foi acusada de veicular ideais pedófilos em uma de suas campanhas, a marca enfrentou um intenso boicote e cancelamento. Desde então, a grife tem buscado reconquistar o público, seja por meio de seus designs irônicos, que sempre geraram discussões, ou com peças mais acessíveis ao gosto do público que um dia foi fiel à marca.

Nesta segunda-feira (30), com Ludmilla, Lindsay Lohan e Nicole Kidman na fila A, a grife espanhola apresentou uma coleção ousada em um cenário inovador: em vez da tradicional passarela, o designer transformou o desfile em um verdadeiro banquete, com uma longa mesa de jantar onde os convidados, acomodados ao redor, puderam apreciar cada detalhe dos looks de perto.

Elementos antigos presentes na coleção

A obsessão de Gvasalia por sua infância é evidente, com frequentes referências aos anos 90 e 2000, como o uso de samples de “Gimme More”, de Britney Spears. Em um diálogo constante com essa era, até os aspectos mais controversos voltam às passarelas da Balenciaga, incluindo a valorização da magreza extrema, com várias modelos desfilando apenas de lingerie.


Look 3 (Foto: reprodução/Instagram/@balenciaga)

Sem abandonar o apelo sexy, característica que costuma impulsionar vendas, o designer investe em símbolos clássicos de sua trajetória na marca, como bombers volumosas, habilmente combinadas com lingeries, criando um contraste ousado e contemporâneo.


Look 17 (Foto: reprodução/Instagram/@balenciaga)

Afastando-se momentaneamente do apelo sexy, a coleção evolui ao incorporar outro símbolo icônico da grife: os sneakers gigantes, que adicionam uma nova camada de irreverência ao desfile.


Look 21 (Foto: reprodução/Instagram/@balenciaga)

À medida que o desfile avança, os looks tornam-se mais cobertos. Se no início a lingerie dominava como peça central, agora as produções apresentam uma composição mais complexa, com várias camadas de diversas peças unidas em uma única peça, criando uma espécie de patchwork de peças.


Look 35 (Foto: reprodução/Instagram/@balenciaga)

Com referências claras à Maison Margiela, Demna inspirou-se na modelagem estruturada, especialmente nas peças em jeans. Essa inspiração, vinda diretamente da Balenciaga, é mais uma provocação de seu caráter irônico, já que as duas marcas já foram comparadas diversas vezes e até colaboraram no passado.


Look 14 (Foto: reprodução/Instagram/@balenciaga)

Outro elemento nostálgico incorporado à nova coleção foi a ironia presente nas frases estampadas nas peças, mantendo o humor característico da marca sempre em evidência.


Look 31 (Foto: reprodução/Instagram/@balenciaga)

Elementos novos presentes na coleção

Seguindo na linha do pensamento irônico, Demna inovou ao aprofundar sua relação com a figura de linguagem. Não se limitando apenas a frases estampadas, ele incorporou essa ironia em seus designs. Um exemplo disso são as leggings e os tops faixa, que, individualmente, já são considerados polêmicos. Juntas, essas peças formam um combo que, se não fosse da Balenciaga, dificilmente seria visto como fashion, sendo mais frequentemente rotulado como “fubango”, estética tão comentada atualmente.


Look 51 (Foto: reprodução/Instagram/@balenciaga)

Ainda na linha do irônico, o designer explora o contraponto entre o coberto e o exposto. Enquanto no início do desfile as modelos apareciam apenas em lingerie, à medida que a apresentação avançava, elas se tornavam tão cobertas que até bonés-máscaras foram incorporados à passarela de Demna. Curiosamente, os rostos só foram totalmente revelados nos últimos looks, já que, no início, as modelos usavam óculos escuros. Essa progressão pode ser vista como uma crítica social de Demna, levantando questionamentos sobre a percepção da moda e a exposição na era contemporânea.


Look 50 (Foto: reprodução/Instagram/@balenciaga)

Assim, a grande piada de Demna foi lançada, e agora resta saber se conseguirá provocar risadas não apenas do público, mas também dos executivos da Kering, uma vez que a marca ainda enfrenta sérios desdobramentos de seu cancelamento em 2022. A princípio, especialmente nos comentários das publicações dos looks no Instagram da marca, muitos usuários fazem referências ao que a Balenciaga representou no passado, utilizando um tom de desprezo em relação ao designer atual e o comparando constantemente ao fundador, Cristóbal Balenciaga.

Semana de Moda de Paris: confira detalhes do coleção de inverno da Balenciaga

A temporada de desfiles em Paris continua a todo o vapor, carregando tendências e estilos únicos. Neste último domingo (3), foi a vez da Balenciaga mostrar sua nova coleção outono/inverno de 2024/2025. Mais uma vez liderado pelo diretor criativo Demna Gvasalia – que está a frente da grife há quase dez anos – o desfile deu vida e significado à moda disruptiva e criativa.

Conceito do desfile segundo Demna


Registros das modelos apresentando as peças da nova coleção da Balenciaga (reprodução/Instagram/@balenciaga/MontagemCanva)

Com a presença de modelos como Isabeli Fontana nas passarelas e convidadas como Kim Kardashian e Serena Willians, a apresentação teve seu início com um áudio do próprio Demna, que faz reflexões sobre as estéticas e os conceitos de identificação e pertencimento no mundo fashion.

Como vocês sabem, gosto de questionar coisas que são importantes para mim através do meu trabalho, e algumas das questões que tenho pensado recentemente são: O que é luxo? O que é moda e por que isso importa? Para quem eu faço o que faço? A moda é suficiente? […] Acredito que a criatividade se tornou secretamente uma nova forma de luxo. Queria que este desfile representasse uma ligação entre o passado e o futuro da Balenciaga como uma casa baseada no valor criativo.

Demna Gvasalia

Em uma espécie de linha do tempo, como mencionado pelo próprio Demna, a Balenciaga mesclou traços importantes da marca encontradas em arquivos de 1960, como vestidos de alta costura que marcavam as silhuetas, até chegar nas costuras de atualmente.

Visuais e elementos que se destacaram durante o desfile


Peças fora do convencional já são uma marca registrada da grife espanhola (reprodução/Instagram/@balenciaga/MontagemCanva)

Durante todo o desfile, foi possível perceber peças que passeavam pelos estilos vintage e retrô dos anos 2000, mas ainda sim com um toque moderno. Exemplos claros disto, foi a utilização de camisetas estampadas escrito “Keep Calm and…” – frase muito utilizada, principalmente entre os jovens de 2010. Além disso, as calças jeans, os looks all black e peças oversized ajudaram a construir a mesma narrativa.

Por outro lado, os óculos futuristas se configuram como um elemento da moda moderna dos últimos tempos. Acompanhada quase sempre por visuais na cor preta, o item se fez presente no rosto de muitos dos modelos que desfilaram.

Por fim, as sobreposições e a integração de peças invertidas completaram a composição da coleção desta temporada da Balenciaga. Neste momento, foi apresentado as peças excêntricas como, o look composto por mochilas no lugar das roupas convencionais, as adições exageradas de moletons e saias, meia calça rasgadas e a utilização da calça jeans como top.

Toda essa desconstrução também está ligada ao conceito do upcycling, já utilizado por Demna outras vezes, que consiste na reutilização e ressignificação de peças que normalmente seriam descartadas, mas acabam ganhando um novo valor.