Tarcísio faz declarações sobre a crise do Metanol

O estado de São Paulo concentra mais de 82% dos casos do país de intoxicação por metanol em bebidas: 15 confirmados e 164 em análise. A situação acende alertas sanitários, movimenta poderes e provoca reações intensas no debate público — sobretudo diante das falas recentes do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Falas de Tarcísio geram polêmica 

A crise provocada pelas intoxicações por metanol em São Paulo ganhou contornos políticos após as declarações do governador. Em meio ao aumento de casos e mortes causadas por bebidas adulteradas, Tarcísio adotou um tom leve e irônico — que gerou reações negativas de autoridades sanitárias, opositores e especialistas em comunicação pública. Durante coletiva após reunião com a indústria de bebidas, o governador disse, em tom de brincadeira: “No dia que começarem a falsificar Coca-Cola, vou me preocupar.”

Embora a declaração tenha caráter cômico, ela suscitou críticas. Num momento em que mortes já foram registradas — inclusive o óbito de uma mulher de 30 anos em São Bernardo do Campo — há quem enxergue descaso diante da gravidade do tema.  Tarcísio tentou relativizar, afirmando que não “se aventuraria nessa área” pois “não é sua praia”, e que a iniciativa privada demonstrou “vontade enorme de colaborar” nas investigações.


Governador Tarcísio de Freitas (Foto:Reprodução/Getty Imagens Embed/Ton Molina)

Repercussão imediata e críticas

Após a repercussão negativa, o governador tentou esclarecer suas declarações, afirmando que a frase foi “mal interpretada” e que o governo está empenhado em investigar os casos. “De maneira alguma quis ironizar. Tenho total respeito pelas famílias e pelas vítimas. O que eu disse foi apenas que o Estado não fabrica bebida, e que o problema vem de falsificação criminosa. Estamos combatendo isso com rigor”, afirmou.

Ele também reforçou a parceria com o setor privado: A indústria de bebidas demonstrou vontade enorme de colaborar. Todos estão mobilizados para encontrar a origem do metanol. Não é momento de politizar a tragédia.”

Mesmo assim, a fala seguiu repercutindo. Para alguns parlamentares da oposição, a ironia foi  desrespeitosa. O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) criticou o governador nas redes sociais: “É inaceitável que um governador se porte dessa maneira!”

As hipóteses investigadas

A Polícia Civil de São Paulo trabalha com duas linhas principais:

  1. Reutilização de garrafas — hipótese de que garrafas reaproveitadas, sem descarte adequado, foram higienizadas com metanol de forma incorreta.
  2. Injeção deliberada de metanol — possibilidade de adulteração consciente, usando a substância para aumentar o volume das bebidas.

A perícia já confirmou a presença de metanol em bebidas de duas distribuidoras no estado. Além disso, mais de 7 mil garrafas suspeitas foram recolhidas recentemente. Tampas, rótulos, lacres e selos estão sob análise. Tarcísio afirmou que pedirá à Justiça a destruição dos materiais apreendidos.

O risco invisível ao consumidor

O metanol é uma substância extremamente perigosa: metabolizado pelo fígado, forma compostos tóxicos que afetam o cérebro, nervos, fígado e rins. Pode causar cegueira, insuficiência respiratória, coma e morte. O agravante é que não há cheiro, cor ou sabor perceptível que denuncie sua presença em uma bebida.

As autoridades recomendam:

  • Desconfiar de preços muito baixos;
  • Verificar se há lacre e selo fiscal adequados;
  • Comprar apenas em pontos de venda confiáveis;
  • Exigir nota fiscal sempre.

Em caso de sintomas — como visão turva, náuseas ou dores abdominais — é essencial buscar atendimento médico imediato, informando a origem da bebida. 

Responsabilidade em tempos de crise

A crise das intoxicações por metanol em São Paulo vai muito além de uma questão sanitária. Ela expõe falhas históricas de fiscalização, negligência preventiva e a fragilidade de uma comunicação pública que deveria proteger, e não confundir. A tragédia mostra o quanto o Estado ainda reage mais do que antecipa — e como a população se torna refém de um sistema que só se mobiliza depois que vidas são perdidas.

Com isso, ao ironizar a gravidade da situação, Tarcísio de Freitas acaba transmitindo a ideia de que o problema é menor do que realmente é, enfraquecendo a confiança pública e diminuindo o senso de urgência da população diante de um perigo real.

Mais do que uma gafe ou um “tom mal interpretado”, as declarações do governador revelam um descompasso entre linguagem política e responsabilidade institucional. Em tempos de desinformação e medo, cada palavra dita por uma autoridade tem o poder de acalmar ou agravar uma crise.