A União Europeia deu um passo significativo em direção à consolidação de um dos maiores acordos comerciais do mundo ao apresentar formalmente o pacto com o Mercosul para aprovação. Este movimento estratégico visa não apenas fortalecer os laços econômicos entre os blocos, mas também responder a um cenário global de crescente protecionismo e dependência de mercados específicos. O acordo, que foi finalmente alcançado em dezembro passado após mais de duas décadas de negociações, representa uma oportunidade de ouro para impulsionar o comércio, atrair investimentos e gerar empregos e renda para ambas as regiões.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil, Geraldo Alckmin, celebrou a notícia como um “passo concreto para o Brasil e a nossa região terem acesso a um grande mercado”. Ele destacou que o acordo envia um “sinal claro para o mundo” sobre o potencial de integração e colaboração, ressaltando que a união das economias do Mercosul e da UE resultará em maior força e prosperidade mútua. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou essa visão, expressando o desejo de finalizar o acordo ainda este ano, durante a presidência brasileira do Mercosul.
Superando obstáculos e garantindo segurança para agricultores
A aprovação do acordo, no entanto, ainda enfrenta um processo formal dentro da União Europeia, que inclui a votação no Parlamento Europeu e a obtenção de uma maioria qualificada entre os governos dos 27 Estados-membros. A França, tradicionalmente um dos maiores produtores agrícolas da UE e uma voz influente no bloco, havia expressado forte oposição ao acordo, considerando-o “inaceitável”. Outros países, como a Polônia, também manifestaram preocupações, principalmente em relação ao impacto sobre seus setores agrícolas.
Para mitigar essas objeções e garantir o avanço do acordo, a Comissão Europeia propôs um mecanismo de salvaguarda. Essa medida prevê a possibilidade de impor limites temporários às importações de produtos agrícolas do Mercosul, como a carne bovina, caso os volumes de importação aumentem mais de 10% ou os preços caiam na mesma proporção em um, ou mais países membros. A Comissão se comprometeu a monitorar de perto as importações e a agir rapidamente para restringir o acesso caso os gatilhos sejam acionados.
Além disso, um fundo de crise de €6,3 bilhões (aproximadamente US$7,38 bilhões) foi anunciado para apoiar os agricultores da UE. Essas medidas parecem ter surtido efeito, com o ministro do Comércio da França reconhecendo a cláusula de salvaguarda como um “passo na direção certa”, e o primeiro-ministro polonês indicando que, embora seu país ainda se oponha ao acordo, não há mais parceiros suficientes para bloqueá-lo.
Diversificação comercial e minerais estratégicos
A importância estratégica deste acordo para a UE é amplificada pelo atual contexto geopolítico. A Comissão Europeia vê o pacto com o Mercosul como uma forma de compensar as perdas comerciais decorrentes das tarifas impostas pelos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump e de reduzir a dependência excessiva da China, especialmente no fornecimento de minerais essenciais para a transição energética. A busca por diversificar as relações comerciais tornou-se uma prioridade, levando a UE a acelerar negociações com outros países e a aprofundar laços com parceiros existentes.
Os defensores do acordo destacam o potencial do Mercosul como um mercado em crescimento para produtos europeus como carros, máquinas e produtos químicos, além de ser uma fonte confiável de minerais cruciais, como o lítio, para a fabricação de baterias. Por outro lado, os benefícios para os países do Mercosul incluem maior acesso a tarifas reduzidas para produtos como queijos, presuntos e vinhos europeus.
Apesar das preocupações de alguns setores agrícolas europeus e de grupos ambientalistas sobre a conformidade com os padrões de segurança alimentar e ecológica, a Comissão Europeia refuta essas alegações. Com as salvaguardas em vigor e a diminuição da oposição organizada, o acordo comercial UE-Mercosul avança em direção a uma nova era de cooperação econômica global.
