STJ adia julgamento sobre patente da semaglutida e genéricos do Ozempic seguem indefinidos

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) adiou, nesta terça-feira (9), o julgamento que decidiria se a patente da semaglutida, princípio ativo do Ozempic, será prorrogada no Brasil. O impasse é crucial para o mercado farmacêutico, pois definirá se medicamentos genéricos e similares poderão ser produzidos após o vencimento atual da proteção, previsto para março de 2026.

A sessão, que analisaria um recurso da farmacêutica Novo Nordisk, foi suspensa sem nova data definida. A empresa defende que houve prejuízo devido ao longo atraso do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) na análise do pedido de patente, o que justificaria uma extensão no prazo de exclusividade.

Exclusividade da indústria e acesso dos pacientes

A Novo Nordisk afirma que o INPI levou mais de uma década para concluir a avaliação da patente, o que teria encurtado o período efetivo em que a empresa poderia explorar comercialmente o medicamento com exclusividade. A defesa pede que o prazo seja estendido para compensar os anos perdidos.

A semaglutida tornou-se uma das substâncias mais procuradas no país graças ao uso indicado para diabetes tipo 2 e à crescente prescrição off label voltada ao emagrecimento. Com alta demanda, o Ozempic tornou-se caro e, por vezes, difícil de encontrar. Por isso, a possibilidade de entrada de genéricos é vista como um passo fundamental para ampliar o acesso.

Especialistas em políticas de saúde destacam que, com o fim da patente, os preços poderiam cair significativamente, permitindo que pacientes de baixa renda e o próprio sistema público tivessem acesso mais amplo ao tratamento.

Precedentes jurídicos e impacto no mercado nacional

O debate ocorre após decisões anteriores do Supremo Tribunal Federal (STF), que já considerou inconstitucional a prorrogação automática de patentes por atrasos administrativos. Esse entendimento fortalece a posição de quem defende o fim da exclusividade da semaglutida em 2026.


Disputa por extensão (Foto: reprodução/X/@g1)


A indústria farmacêutica nacional acompanha atentamente a disputa. Caso o STJ mantenha o prazo original e permita a fabricação de genéricos, laboratórios brasileiros poderão iniciar a produção e competir com a versão importada, reduzindo preços e ampliando o mercado interno.

Entretanto, enquanto não houver decisão definitiva, laboratórios interessados permanecem impossibilitados de avançar com o registro de seus produtos. Para consumidores, planos de saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS), o adiamento prolonga a incerteza sobre quando os tratamentos mais acessíveis estarão disponíveis.

Incerteza prolongada e expectativa de impacto nos próximos meses

O adiamento do julgamento reforça a sensação de espera em um momento em que a demanda por medicamentos à base de semaglutida cresce no país. Para especialistas, a definição jurídica terá efeito direto no planejamento da indústria e no custo final para o consumidor.

Até que a Corte marque uma nova data, milhões de pacientes convivem com preços elevados e dependência da importação. Enquanto isso, a discussão sobre inovação, concorrência e acesso à saúde segue no centro do debate nacional.

Fundador da Ultrafarma é preso em operação contra corrupção fiscal em SP

O empresário Aparecido Sidney de Oliveira, fundador da rede de farmácias Ultrafarma, foi detido aos 71 anos nesta terça-feira (12) durante ação do Ministério Público de São Paulo. Ele é alvo de investigações por possível envolvimento em um esquema de corrupção que teria a participação de auditores fiscais da Secretaria da Fazenda estadual. A prisão temporária ocorreu em sua chácara, localizada em Santa Isabel, na região metropolitana de São Paulo.

Trajetória pessoal

Natural de Nova Olímpia, no Paraná, Oliveira cresceu em uma família numerosa, com dez irmãos, enfrentando dificuldades financeiras. Aos 9 anos, começou a trabalhar em uma farmácia para ajudar em casa. Foi alfabetizado por meio do Movimento Brasileiro de Alfabetização para Jovens e Adultos, criado por Paulo Freire, e não cursou ensino superior. Sua trajetória empresarial se destacou pela aposta pioneira na venda de medicamentos genéricos.

Fundada em 2000, a Ultrafarma se consolidou como uma das maiores redes de farmácias do país, com e-commerce ativo 24 horas por dia e grande presença publicitária. Segundo dados da empresa, são mais de 1 milhão de clientes ativos e um catálogo com mais de 15 mil produtos. Em 2007, recebeu o prêmio “Top of Mind Internet”, sendo reconhecida como a primeira marca de farmácia online no Brasil.


Dono da Ultrafarma é preso em operação do MP-SP (Vídeo: reprodução/Youtube/@cnnbrasil)


Detalhes da operação

A operação do MP-SP busca desmantelar um esquema de fraudes tributárias que teria movimentado cerca de R$ 1 bilhão em propinas desde 2021. Entre os detidos está um auditor fiscal estadual de alto escalão, acusado de manipular processos administrativos para favorecer empresas do setor varejista. Entre os detidos está também o diretor estatutário do grupo Fast Shop, Mario Otávio Gomes. Agentes cumpriram mandados de busca e apreensão em residências e sedes de empresas.

De acordo com as investigações, o auditor fiscal recebia pagamentos mensais de propina por meio de uma empresa registrada no nome de sua mãe. Em troca, facilitava a quitação de créditos tributários para empresas beneficiadas. A apuração, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão aos Delitos Econômicos (Gedec), se estendeu por meses, envolvendo quebras de sigilo, análise documental e interceptações autorizadas judicialmente.

Procurada pela imprensa, a Ultrafarma não se pronunciou. Em comunicado, a Secretaria da Fazenda e Planejamento afirmou que “permanece à disposição das autoridades e contribuirá com o andamento da investigação do Ministério Público por meio de sua Corregedoria da Fiscalização Tributária (Corfisp)”. Os acusados podem ser enquadrados nos crimes de corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro. As diligências seguem em andamento.