Com a estreia de “Jurassic World: Recomeço” nesta quinta-feira (3), os cinemas brasileiros foram infestados por fãs de longa data desta saga clássica. Assim, com suas 2h14 de duração, a obra dirigida por Gareth Edwards e roteirizada por David Koepp, prometeu uma melhora dos efeitos especiais com o avanço do CGI e novos dinossauros propostos. No entanto, o apelo à nostalgia dos fãs ficou nítido a cada frame do longa e com o uso da trilha sonora nostálgica de Jurassic Park, composta por John Williams.
Clássicos da franquia de Jurassic World
Cinco anos após “Jurassic World: Domínio”, onde nos despedimos dos protagonistas interpretados por Chris Pratt (“Guardiões da Galáxia”) e por Bryce Dallas (“Histórias Cruzadas”), adentramos em uma nova era em que dinossauros coexistem com a humanidade no dia a dia. Sendo assim, na nova proposta de Edwards e Koepp somos apresentados a um mundo em que um saurópode fica “encalhado” no meio da rua e atrapalha o trânsito de Nova York, algo que é já naturalizado no cotidiano de uma sociedade que aparentemente odeia os animais “pré-históricos”.
No entanto, surge Martin Krabs (Rupert Friend), um agente contratado por uma grande empresa para entrar em contato com uma militar especialista em caçar dinossauros. Consequentemente, conhecemos Zora Bennett, interpretada por Scarlett Johansson (“Viúva Negra”), que aceita a proposta de ir até uma ilha remota no litoral do Equador, quase que imediatamente, após ser convencida por uma quantia significativa e a esperança de salvar a humanidade. Ademais, um paleontólogo civil, que trabalha em um museu falido, entra na equipe com a promessa de realizar o sonho de estar realmente de frente com uma dessas feras magníficas em seus habitats “naturais”.
–Equipe de “Jurassic World: Recomeço” relata experiência das filmagens (Vídeo: reprodução/Instagram/@universalpicsbr)
Portanto, unidos aos companheiros de Zora, eles colocam a vida em risco em uma jornada típica pela “salvação da humanidade”. Porém, os planos de Krabs são frustrados e os aliados precisam desviar o percurso quando tomam a decisão de atender o pedido de socorro de uma família. Enquanto isso, somos apresentados a Ruben Delgado (Manuel Garcia-Ruffo), Isabella Delgado (Audrina Miranda), Teresa Delgado (Luna Blaise) e Xavier Dobbs (David Iacono) que viajam juntos em família para realizar o sonho do patriarca de cruzar o atlântico com as herdeiras e o genro. Sonho esse, que em um universo infestado por dinossauros tem tudo para dar errado.
Clichê com crianças e dinossauros
Desde o clássico Jurassic Park ao atual Jurassic World, o telespectador se confunde com a sensação de que todo filme da franquia aborda uma temática familiar e que em quase toda trama, as crianças sempre irão lutar pela sobrevivência e terão que suportar as consequências depois de uma experiência traumática causada pelos próprios responsáveis. Desse modo, a proposta atual não foge muito da essência de “Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros” de 1993, onde conhecemos as primeiras crianças da franquia que são apresentadas como Lex (Ariana Richards) e Tim Murphy (Joseph Mazzello), netos de John Hammond. E há dez anos, em “Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros” houve o primeiro e único contato com os irmãos Zach (Nick Robinson) e Grey (Ty Simpkins), sobrinhos de Claire Dearing. Para, em seguida, Isabella Sermon viver Maisie Lockwood nas sequências de “Jurassic World: Reino Ameaçado” e “Jurassic World: Domínio”.
Consequentemente, a produção demonstra que ainda segue com a ideia de se diferenciar da essência do livro, que aborda a temática dos dinossauros de forma mais sombria e adulta. Então, quando a família Delgado surgiu na telona, não foi surpresa para muitos que haveria alguma dinâmica de superação e confiança ou que a caçula que odiava os animais acabaria fazendo algum “amiguinho” pelo caminho na tentativa de suavizar o enredo para que se tornasse acessível para o público em geral.
Além da clássica família de férias que acaba em uma ilha cheia de animais mortíferos, o admirador da obra também se depara com a chegada de Dolores, uma pequena triceratops bípede que é a principal responsável por arrancar risadas do público. Em contrapartida, a atuação da jovem Audrina Miranda (“The Phoenix”) enriquece a personagem infantil ao passo que a atriz mirim consegue transmitir o medo real da jovem Isabella Delgado, de perder seu pai, interpretado por Manuel Garcia-Ruffo (“Pedro Páramo”) e sua irmã mais velha, vivida por Luna Blaise (“Manifest”). Inclusive, sua interação com David Iacono (“O Verão que mudou minha vida”) que viveu o inicialmente relaxado Xavier Dobbs, surpreendeu o telespectador com as interações leves, naturais e comuns do cotidiano de uma família com um novo membro.
Investimento no horror
Buscando uma aproximação maior do livro escrito por Michael Crichton em 1990, Jurassic World 4 nos trouxe uma perspectiva mais aterrorizante e uma aposta suave no suspense principalmente durante as cenas finais onde a neblina aumenta a dramaticidade da cena e arranca suspiros de aflição da platéia. Além disso, a nova trama abrange de forma mais “monstruosa” os testes genéticos realizados pela indústria fictícia “In Gen”, criada por John Hammond e Benjamin Lockwood, assim, essa nova narrativa poupa o clássico T-Rex (que marcou sua presença) do papel de vilão principal. Desta vez, a criatura pré-histórica apareceu mais como um animal em seu habitat de caça, onde os dirigentes grandiosamente resolveram trabalhar uma curiosidade pouco comentada sobre a espécie: supostamente os tiranossauros eram excelentes nadadores.
Além da preocupação da equipe de tentar transmitir uma naturalidade nos gestos comportamentais dos animais, foi possível captar o avanço da tecnologia e o cuidado em tentar transmitir uma pele mais real o possível, como na cena em que o doutor Henry Loomis (Eterno “Anthony Bridgerton”) acaricia a perna de um Braquiossauro. Assim, a sensação de um perigo maior se aproximando foi possível juntamente com a fotografia impecável que ajudou a transmitir as nuances dramáticas e assustadoras da obra. Porém, como no início da sessão às luzes vermelhas ganharam destaque na face monstruosa de uma mutação genética entre um T-rex e outras criaturas, o público assustado teve a certeza de que o final do filme contaria com alguma cena onde algum dos heróis precisaria erguer um sinalizador vermelho para escapar, assim como Claire Dearing fez no primeiro filme da continuação de Jurassic Park.
Em resumo, a criatura final cumpriu seu papel de parecer uma fera mais cruel que o aposentado T-Rex. Mas, o enredo entregou uma narrativa previsível e aconchegante —clássica de um filme genérico de ação para uma família assistir em uma tarde chuvosa. Sendo assim, “Jurassic World: Recomeço” não fugiu das demais tramas da extensa franquia de sete filmes, pelo contrário, decidiu abraçar a trajetória já contada a décadas e escolheu uma forma nostálgica para pedir permissão ao público para abrir espaço para uma nova cadeia de histórias.
