Manifestantes protestam na Avenida Paulista contra PL do aborto

A Avenida Paulista foi palco de protestos neste sábado (15), contra o Projeto de Lei nº 1.904/2024, conhecido como PL do Aborto. O projeto fixa em 22 semanas de gestação o prazo máximo para abortos legais e equipara o procedimento após esse período ao crime de homicídio. A manifestação, organizada por 60 coletivos da sociedade civil, teve início às 15h em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Protesto reúne milhares de manifestantes 

A Lei do Aborto atraiu milhares de pessoas à Avenida Paulista, que se tornou um mar de vozes dissidentes adornadas com cartazes e slogans. “Criança não é mãe, estuprador não é pai” foi um dos lemas mais repetidos pelos manifestantes.


Ato contra o PL 19041 na Avenida Paulista (Foto: reprodução/Paulo Pinto/Agência Brasil)

Entre os presentes, destacaram-se parlamentares do PSOL, como os deputados federais Sâmia Bomfim e Ivan Valente. “A força do movimento feminista nas ruas vai derrotar esse projeto maldito”, declarou Sâmia através de sua plataforma social X (antigo Twitter). Suas palavras serviram como um grito de guerra entre aqueles que lutam pelos direitos das mulheres contra a legislação iminente.


Manifestação na Avenida Paulista (Vídeo: reprodução/X/@samiabomfim)


O ato seguiu em direção à Rua Augusta por volta das 16h15, com manifestantes ocupando as faixas da Avenida Paulista e causando alguns transtornos com os motoristas. A presença de policiais militares foi necessária para controlar o trânsito e garantir a segurança dos participantes. O protesto terminou às 18h na Praça Franklin Roosevelt, na Consolação, de forma bastante pacífica.

O que é o PL 1.904/2024?

O Projeto de Lei nº 1.904/2024 estabelece o limite de 22 semanas para o aborto legal no Brasil. O aborto é permitido no país quando a gravidez é resultado de estupro, representa risco à vida da mulher ou em casos de anencefalia fetal, mas atualmente não há restrições quanto à idade gestacional para esses casos. O projeto sugere a utilização da técnica de assistolia fetal recomendada pela OMS para abortos após 20 semanas; no entanto, levantou polêmica no Brasil. O procedimento envolve a utilização de medicações para interromper os batimentos cardíacos do feto antes de sua retirada do útero. Apesar do endosso da OMS, essa técnica permanece controversa em certos países.


Cartazes de protesto contra o PL do Aborto na avenida Paulista (Foto: reprodução/Instagram/@xuniorl)

Desdobramentos e impactos do PL do Aborto

A aprovação do PL 1.904/2024 tornaria o aborto após 22 semanas punível com seis a 20 anos de prisão – mesmo nos casos atualmente permitidos pela legislação brasileira. A pena é equivalente à de um assassinato comum, podendo ser maior do que a pena que o estuprador receberia pelo seu ato. Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), deputado federal que propôs o projeto, afirma que ele visa salvaguardar a vida do feto. No entanto, a oposição vê a medida como um um retrocesso nos direitos reprodutivos das mulheres.

Reações da sociedade civil e especialistas

Muitos especialistas alertam que a aprovação deste PL prejudicará principalmente as meninas mais pobres, que são vítimas de abuso e demoram a descobrir a gestação.

A advogada Luiza Martins diz que “As principais prejudicadas serão meninas que só conseguem acessar serviços de saúde após 22 semanas. Elas serão obrigadas a manter a gravidez, mesmo em casos de estupro”.


Manifestantes na Avenida Paulista (Foto: reprodução/Frente SP Pela Legalização do Aborto)

Maria das Neves, membro da União Brasileira de Mulheres, também criticou: “É um retrocesso civilizatório. Usam nossos corpos como moeda de troca e avançam com a política do estupro. Mas as mulheres brasileiras vão colocar para correr esse PL.”

Juliana Bruce, 40, grávida de 18 semanas, participou do protesto e destacou a importância do movimento: “Esse é um movimento importante para defender crianças, mas também mulheres adultas. Queremos ter nossos direitos mantidos, não dá para retroceder.”

A gestora ambiental Ana Paula Cutolo Cortez, que levou seus filhos ao ato, reforçou a necessidade de levantar a voz contra o silêncio que favorece os opressores: “É terrível pensar em mulheres que não escolheram gerar uma vida se verem obrigadas a criar uma criança em contexto hostil.”


Manifestantes na Avenida Paulista (Foto: reprodução/Frente SP Pela Legalização do Aborto)

Arthur Lira é o principal alvo dos manifestantes

Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, tornou-se o principal alvo dos manifestantes na Avenida Paulista. Conhecido por seu papel central na articulação de projetos polêmicos, Lira é visto como um dos maiores apoiadores do PL 1.904/2024. Os protestantes acusam Lira de ser um dos principais responsáveis por pautar e avançar com propostas que representam um retrocesso nos direitos das mulheres.

Cartazes e gritos de ordem direcionados a Lira foram frequentes durante o protesto, com palavras como “Lira, o sangue das mulheres está em suas mãos” e “Fora, Arthur Lira!” ecoando pelas ruas. Os manifestantes exigem que ele retire o projeto da pauta e abra um diálogo mais amplo com a sociedade civil, considerando os impactos negativos que o PL pode trazer para a saúde e os direitos reprodutivos das mulheres brasileiras.


Arthur Lira é o principal alvo dos manifestantes (Foto: reprodução/Theo Saad/Metrópoles)

“Arthur Lira está ignorando as vozes das mulheres que serão diretamente afetadas por esse projeto. Não vamos permitir que nossos direitos sejam retirados por interesses políticos,” afirmou Júlia Souza, uma das organizadoras do protesto. Os manifestantes prometem continuar pressionando Lira e outros parlamentares para que o PL seja definitivamente arquivado.

Debate na Câmara dos Deputados

O debate sobre o PL 1.904/2024 continua na Câmara dos Deputados. Caso aprovado, seguirá para análise do Senado. Os manifestantes e os grupos feministas prometem continuar mobilizados contra o projeto, defendendo os direitos reprodutivos das mulheres e a legalização do aborto seguro e acessível.

Lei contra aborto é revogada no Arizona após 160 anos 

Após uma votação acirrada de 16 a favor à 14 contra no Senado do Arizona, a lei que impedia o procedimento de aborto sob qualquer motivação além do extremo risco de vida da gestante, foi revogada. A lei de 1864 deu lugar ao direito da realização de tal procedimento até 15ª semana de gravidez. 

Posicionamento do Senado

Nesta quarta-feira (1), ocorreu a votação pela revogação de uma lei antiabortista de 1864, século XIX, no Senado do Arizona. A lei secular, que impedia a realização do procedimento a menos que a vida da gestante estivesse em perigo deu lugar ao mantimento da legislação de 2022, sancionado pelo antigo governador Doug Ducey, onde há permissão do procedimento somente entre as 15 primeiras semanas de gravidez, com exceção de risco à vida da gestante. 


Manifestantes pró-aborto em frente ao Capitólio do Arizona, em 2023 (Foto: reprodução/ D. Franklin/ AP)

A Câmara Baixa do Estado do Arizona já havia aprovado a medida na semana passada, em fervorosa disputa que teve apoio de três republicanos moderados.  A lei do século XIX havia sido restabelecida pela Suprema Corte do estado no início de abril, sob logrado da queda da decisão Roe vs. Wade em 2022. O medida agora aguarda a sanção da governadora Katie Hobbs, democrata e pró-escolha que já disse ter altas expectativa de que assinará assim que estiver consigo.  

Mesmo com o vencimento para o movimento pró-aborto, a situação não deixou de ter caminhado por um fio muito fino considerando a votação de 16 a favor e 14 contra desta quarta-feira (1). Graças ao apoio de dois republicanos, sendo eles o presidente pro tempore — aquele que conduz audiências na ausência do vice-presidente — Thomas “T.J.” Shope e a senadora Shawnna Bolick. A senadora republicana justificou sua motivação ao votar a favor em razão de experiências pessoais: 

Essa lei do Arizona teria me permitido ter acesso a esse procedimento médico, mesmo que minha vida não estivesse em perigo na época?

 indagou Bolick, que foi vaiada várias vezes pelo público no Senado.

Durante a votação, a governadora atuante, Katies Hobbs, se pronunciou em suas redes sociais alegando que tal acontecimento era apenas o começo em consequência a luta pela proteção da saúde das mulheres. Ainda, a procuradora-geral Kris Mayes proclamou a votação como “uma vitória para a liberdade do estado”. 

O olhar conservador norte-americano

Com a maioria republicana ganhando mais espaço e força nos últimos tempos, especialmente em virtude da corrida presidencial para este ano, vários questões consideradas “democratas” estão sendo constantemente exterminadas de debates ou explicitamente rejeitadas por diversos representantes políticos. Um deles, Anthony Kerny, correligionário de Shawnna Bolick, que atacou a senadora após suas exprimir suas motivações ao equilibrar a balança na votação e influenciar o vencimento da revogação, defendeu a lei de 1864 e atacou os dois senadores que se dispuseram votar, comparando-os com autoridades da Alemanha Nazista e alegando-os a ter posição discricionária.  

Com o Arizona sendo um estado importante e quase decisório, e ainda tendo sido palco das disputa acirrada de 2020, o embate no estado se direciona para as pautas centrais debatidas e defendidas pelos candidatos. Com o aborto uma questão central da campanha de Biden e de seu rival republicano, Trump, a recente revogação da lei acaba influenciando reações no ano eleitoral. Alguns republicanos, incluindo o próprio ex-presidente Donald Trump, também candidato nas eleições de 2024, afirmaram que queriam a eliminação rápida da medida pelo Legislativo para tentar evitar essa possível reação no período eleitoral. Pode-se dizer até que a medida criou uma rachadura dentro do partido, que aflorou durante a audiência na câmara de semana passada.