Lula reage ao “tarifaço” de Trump em pronunciamento e defende soberania do Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou na data de ontem, quarta-feira (16), um pronunciamento a ser veiculado em rede nacional. A filmagem ocorreu no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente e será transmitida hoje à noite, quinta-feira (17), em horário nobre, à nação brasileira, reforçando a soberania do país.

Em seu pronunciamento, Lula abordará questões relacionadas às tarifas de 50% a serem aplicadas pelos EUA aos produtos importados brasileiros e reforçará que o país norte-americano, ao longo dos anos, alcançou superávit nas relações comerciais com o Brasil. 

Outra questão a ser abordada é referente ao processo judicial do qual o ex-presidente Jair Bolsonaro é réu. Lula ratificará a independência da justiça brasileira, rechaçando qualquer interferência externa aos órgãos julgadores da ação penal. 

Alinhando os discursos

O discurso do presidente brasileiro era aguardado desde que Donald Trump anunciou a sobretaxa ao Brasil na semana passada. No entanto, Lula decidiu aguardar o alinhamento dos discursos junto à sua base aliada, aos demais parlamentares e ao empresariado, para dar uma resposta concreta à população brasileira.

Importante ressaltar que, em pesquisa realizada pela Quaest, nos últimos dias, 72% dos entrevistados são contra as tarifas aplicadas pelo presidente estadunidense, enquanto 19% concordam com os atos de Trump. Os demais, 9%, não quiseram ou não souberam responder.


Pesquisa Quaest, veiculada ontem, quarta-feira (16), sobre o “tarifaço” do presidente Donald Trump contra o Brasil (Foto: reprodução/X/@profFelipeNunes) 



Além do pronunciamento do presidente Lula, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) do Brasil, enviaram na data de ontem, quarta-feira (16), uma carta assinada conjuntamente ao Departamento de Comércio dos EUA, reforçando a indignação contra as políticas tarifárias aplicadas por Donald Trump.

Carta conjunta aos EUA

Geraldo Alckmin, vice-presidente do Brasil e Ministro do Desenvolvimento, e Mauro Vieira, Ministro das Relações Exteriores, em carta direcionada a Howard Lutnick, Secretário de Comércio dos EUA e a Jamieson Greer, Representante de Comércio estadunidense, contestam as declarações do governo Trump. No documento, reforçam que a aplicação tarifária terá impacto “muito negativo em setores importantes de ambas as economias”. 

As declarações das autoridades brasileiras seguem afirmando que a relação comercial bilateral entre as “maiores economias das Américas”, ao longo de décadas trouxe prosperidade ao Brasil e aos EUA. Ressalta, ainda, que a sobretaxa coloca “em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda” entre os países.


Carta conjunta do MRE e do MDIC do Brasil à autoridades estadunidenses (Foto: reprodução/X/@ItamaratyGovBr)

Na última terça-feira (15), o Governo Federal regulamentou o decreto de Reciprocidade Econômica, onde prevê igualdade tarifária a países que utilizam tarifas coercitivas contra a economia brasileira, a fim de proteger os interesses econômicos-comerciais da nação. O discurso do presidente Lula e a carta conjunta enviada ao governo estadunidense somam-se a estas e outras medidas tomadas por autoridades brasileiras, no intuito de coibir e encontrar uma solução referente a política tarifária dos EUA relacionadas ao Brasil.

EUA justificam inquérito para investigação formal contra o Brasil

Nesta terça-feira (15), o governo dos Estados Unidos anunciou a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil. A motivação do inquérito seriam as práticas comerciais brasileiras, consideradas pelo país, como desleais. O inquérito está sendo conduzido pelo USTR (Representante de Comércio dos Estados Unidos), mas foi iniciado por orientação direta do presidente em exercício, Donald Trump. 

As principais áreas a serem investigadas são: comércio digital e serviços de pagamentos eletrônicos; tarifa preferencial aplicada a outros países (como México e índia); fortalecimento a anticorrupção no Brasil; proteção à propriedade intelectual; acesso ao mercado de etanol; e desmatamento ilegal. 

Setores investigados

Motivados pelas leis brasileiras impostas a plataformas digitais – que responsabilizam as redes pelos conteúdos postados nelas -, os EUA apontam que essas políticas atrapalham operações de empresas americanas no Brasil. De acordo com o USTR, existem ordens judiciais secretas para bloqueio de contas e remoção de conteúdos que afetam cidadãos americanos.

No âmbito das tarifas preferenciais, os norte-americanos dizem que o Brasil estaria dando vantagem nas tarifas de importação a parceiros estratégicos, como o México e a índia, o que também atrapalharia a economia americana. Segundo os agentes americanos, a tarifa média imposta sobre produtos vendidos por eles chega a ser de até 100%.

Os EUA apontam um retrocesso no combate à corrupção no Brasil, citando acordos judiciais pouco transparentes e intervenções que anulam condenações importantes por suborno. Segundo o USTR, a percepção do retrocesso cria uma insegurança para empresas norte-americanas.

Também é apontado pela investigação, falhas na proteção e fiscalização de direitos de propriedade intelectual no Brasil. Entre os problemas citados por eles, estão a demora na concessão de patentes, a ampla circulação de produtos piratas no país e uma falta de resposta considerada por eles suficiente à pirataria digital.

A tarifa brasileira para o etanol americano é de 18% e isso foi um dos motivos citados na investigação. Segundo o inquérito, houve uma queda de US$ 761 milhões para US$ 53 milhões nas exportações do etanol americano, decorrente do fim de um acordo bilateral entre os EUA e o Brasil.

O desmatamento ilegal também é citado no inquérito como um dos alvos da abertura. O governo Trump diz que 91% do desmatamento registrado no ano de 2024 ocorreu de forma ilegal, favorecido por falhas na fiscalização ambiental e sugestões de corrupção no setor madeireiro. A justificativa da investigação dessa área é de que a competitividade dos produtos de madeira e agrícolas podem ser prejudicados.


Publicação no perfil da USTR na rede X sobre o inquérito contra o Brasil (Foto: reprodução/X/USTradeRep)


Tarifas impostas pelo governo americano

O presidente norte-americano, Donald Trump, publicou na Truth Social – sua rede social – no dia 9, uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, onde ele anuncia que a partir de 1º de agosto, tarifas de 50% serão impostas às exportações brasileiras.

No documento, Trump diz que os números de trocas comerciais estão “longe” de serem recíprocas, acusando de haver um défice na economia americana. Ainda no documento, é citado o ex-presidente Jair Bolsonaro, onde Trump diz que a investigação contra ele é uma “caça às bruxas”.

Durante reunião nesta terça-feira com empresários, o governo Lula disse que não pretende aplicar a Lei de Reciprocidade em resposta às tarifas, mesmo que não haja negociação com os EUA até agosto.