Ministro do TCU manda Secom suspender licitação de quase R$ 200 milhões após suspeita de fraude

Foi determinado nesta quarta-feira (10), pelo ministro do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz, que a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República paralise uma licitação voltada à contratação de quatro empresas para atuar na comunicação digital do Sicom (Sistema de Comunicação de Governo do Poder Executivo Federal). A licitação tem cerca de R$ 200 milhões e dever suspensa após suspeitas de fraude.

O que diz o Tribunal de Contas da União

Segundo o Tribunal, existe indicadores de possível violação ao sigilo do procedimento e em nota, a Secom informou que não havia sido informada sobre a representação até o momento além de aguardar o processo a fim de tomar providências cabíveis.

Concedo a medida liminar pleiteada e determino à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República que suspenda o procedimento licitatório

Aroldo Cedraz em declaração

O ministério responsável pela publicidade do governo federal é comandado por Laércio Portela de forma interina, contudo, o processo de licitação iniciou durante a gestão de Paulo Pimenta, atualmente na função de ministro temporário para a Reconstrução do Rio Grande do Sul.


Ministro Paulo Pimenta (Foto: reprodução/ Ton Molina/ Foto Arena)

A decisão do ministro do Tribunal de Contas da União foi endossada pelo plenário do TCU, de acordo com os jornais “UOL” e G1.

O ministro ainda afirmou que os fatos narrados pela representação do Ministério Público junto ao Tribunal “revestem-se de extrema gravidade e demandam atuação imediata” com a finalidade de evitar possíveis desvios. Cedraz também concedeu à Secom um prazo de 15 dias para prestar informações sobre o caso após a intimação.

Não só o Ministério Público, mas parlamentares da oposição como os senadores Rogério Marinho (PL – RN), Eduardo Girão (Novo – CE) e Flávio Bolsonaro (PL – RJ) assim como os deputados federais Gilson Marques ( Novo – SC) e Adriana Ventura (Novo – SP), também pediram pela apuração das irregularidades pelo TCU.

Em declaração, a Secom comunicou que não foi notificada sobre a representação do MPTCU, e, por isso, a Advocacia-Geral da União (AGU) não teve como se manifestar previamente sobre a decisão. Ainda segundo a Secretaria, espera-se a notificação do Tribunal para que juntamente com a AGU, providências sejam tomadas.

Sobre a licitação

A Secom tinha como planejamento contratar empresas de comunicação para trabalhar na área digital do governo desde o ano passado, 2023. A ideia era dispor de materiais de comunicação para que houvesse mais eficácia na entrega segmentada de informações a fim de aumentar a presença nas redes e estar mais presente em regiões do interior do país.

Em janeiro deste ano, o governo abriu o processo de licitação para contratar quatro empresas com o objetivo de realizar tais tarefas e como consequência, foi recebido pelo Palácio do Planalto em torno de 24 propostas. Em abril, no dia 23, em relatório feito pela área técnica do Tribunal de Contas da União, um jornalista do portal “O Antagonista” divulgou — apenas sob o uso de iniciais — que de acordo com a classificação da licitação, as empresas vencedoras seriam Moringa Digital, BR+, Área Comunicação e Usina Digital. As propostas só foram abertas no dia seguinte com as quatro empresas sendo vencedoras pela classificação.

Entretanto, durante a sessão pública em que as empresas foram anunciadas, a comissão de licitação anunciou a inabilitação das empresas Moringa e Área por não existir comprovação da capacidade técnica. Em resposta, foram habilitadas as empresas Consórcio ICOMxIdeas, pela Icomunicação Integrada, e Clara Serviços Integrados de Vídeo, Conteúdo e Web Ltda. No dia 25 do mesmo mês, o Ministério Público juntamente com o TCU pediu ao tribunal de contas a suspensão da licitação.

Treze pessoas são presas em operação contra fraude de licitações

Na manhã desta terça-feira (16) o Ministério Público de São Paulo lançou uma nova operação para fragmentar uma ordem criminosa com ligação ao Primeiro Comando da Capital, popularmente conhecido como PCC, sob suspeita de fraudar licitações em todo o estado paulista. 

O esquema 

Conforme informações do Ministério Público, o grupo conectado ao PCC dispunha de várias empresas, forjando concorrência para vencer licitações e assinar contrato com diferentes prefeituras e órgãos municipais com o intuito de contratar mão de obra terceirizada.

Os contratos somam mais de R$ 200 milhões e atuavam na área de serviços gerais, limpeza e também na fiscalização, como segurança de prédios públicos.

“As empresas investigadas ou estão associadas a integrantes do PCC, ou em nome de laranjas”, contou Yuri Fisberg, explicando em seguida que existiam concorrências e simulações de licitações por partes dos funcionários das empresas, prefeituras e também do estado de São Paulo.

Prisões e apreensões 

A operação prendeu mais de 10 pessoas, entre elas três vereadores sob suspeita do recebimento de propina para favorecer empresas do grupo criminoso. Os nomes citados foram Ricardo Queixão (PSD), de Cubatão, Flávio Batista de Souza (Podemos), Ferraz de Vasconcelos e Luiz Carlos Alves Dias (MDB), de Santa Isabel, presos por cinco dias, no intuito da preservação das investigações, entretanto, com possibilidade de ampliação do prazo. 

Além de Ricardo Queixão, na baixada santista houve outras duas prisões, como exemplo, o advogado Aureo Tupinamba, atuante na defesa de traficantes, como André do Rap, apontado como um dos chefes do PCC e condenado a 25 anos de prisão, além dele também foi presa Fabiana de Abreu Silva, servidora pública. 

Em operação organizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Ministério Público de São Paulo e pela Polícia Militar, além dos mandados de prisão, a 5° Vara Criminal de Guarulhos também expediu mandados de busca e apreensão em 42 endereços. 

Neles, foram apreendidos 4 armas, 22 dispositivos celulares e notebooks, R$ 3,5 milhões em cheque, R$ 600 mil em espécie e 8 mil dólares.


Dinheiro apreendido na operação desta terça-feira (16), pela manhã (reprodução/arquivo pessoal/G1)

Análise contratual 

Em decorrência das investigações, alguns municípios entraram em análise contratual de licitações. Confira a seguir alguns deles: Guarulhos, São Paulo, Ferraz de Vasconcelos, Cubatão, Arujá, Santa Isabel, Poá, Jaguariúna, Guarujá, Sorocaba, Buri, Itatiba, entre outros. Além deles, um contrato com o governo do Estado de São Paulo também entrou na lista de investigados. 

Conforme informações dos promotores, o grupo trabalhava com simulação de concorrência não apenas com as próprias empresas, mas também com terceiras, as chamadas empresas parceiras, e também do mesmo ramo econômico. Ainda há evidências de corrupção de agentes de cargos públicos e políticos, como secretário, procuradores, presidentes de Câmaras de Vereadores, etc., assim como fraudes documentais e lavagens de dinheiro. 

“Empresários e funcionários das empresas, com uma liderança vinculada à facção criminosa. Os advogados que atuavam para essas organizações (empresas) e os agentes políticos, que facilitavam a infiltração por meio de pagamento de propina”, contou Yuri Fisberg, detalhando os três núcleos do esquema.

Na chamada Operação Fim da Linha, realizada na semana passada, quatro dirigentes de empresas de ônibus da capital paulista foram presos, também acusados de ligação ao PCC. 

Em decorrência da operação, a Justiça determinou que a Prefeitura de São Paulo e a SPTrans realizassem uma intervenção tanto na Transwolff quanto na UP Bus, com o objetivo de manter as linhas ainda em funcionamento. Dois interventores da SPTrans estão trabalhando na direção e operação das duas empresas, ambos nomeados pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB). 

Quando contatada, a defesa de Ricardo Queixão (PSD) disse que irá pedir a revogação da prisão temporária, ainda destacou que seu cliente está como averiguado e não como suspeito. 

Já a assessoria de Luiz Carlos Alves Dias (MDB) e Flávio Batista de Souza (Podemos), não retornaram as tentativas de contato do Jornal G1. 

A Câmara Municipal de Santa Isabel e a Prefeitura de Ferraz afirmaram colaborar com as investigações.