Velório de Preta Gil marca o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

A cantora Preta Gil, que morreu no último domingo (20), aos 50 anos, será velada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, lugar que a própria artista escolheu ainda em vida. Sua despedida aos fãs reserva um significado especial.

História de luta

O velório de Preta marca o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, destacando a representatividade de uma das maiores referências femininas da negritude brasileira. A cantora deixa um legado histórico de luta constante contra o racismo, sempre pautada no fortalecimento da autoestima, no amor-próprio e no empoderamento das mulheres negras.

O Especial Mulher Negra 2024, do canal E!, apresentado por Zezé Motta, contou com a presença de Preta Gil. Na época, ela ressaltou a importância de abordar sobre a resistência.

O Especial Mulher Negra é o sinal de uma geração que resistiu, lutou e que venceu. É representatividade para uma série de mulheres e homens que vão assistir à gente e entender como vale a pena lutar, se arriscar, se expor. A Zezé é um símbolo disso, e todas nós também. É um especial de representatividade e inspiração para muita gente’’, declarou a cantora em julho de 2024.

A cerimônia de despedida da cantora acontecerá nesta sexta-feira (25), no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, das 9h às 13h. Não tem apresentações ou trio elétrico previstos, segundo a assessoria da família ao site Quem, algo que, conforme o site, poderia ser um desejo da artista, pois em uma entrevista antiga, Preta indicava o desejo de ter um cortejo.

Além disso, eles afirmaram que o corpo de Preta Gil será cremado. Segundo o mesmo site, a cerimônia será feita no saguão do teatro e encerrará às 13h para todos os presentes, tanto público quanto família. Outros detalhes não foram divulgados.


Homenagem de Zezé Motta a Preta Gil (Foto: reprodução/Instagram/@zezemotta)


A data

No ano de 1992, para reverter os dados de violência e desigualdades, um grupo decidiu se organizar em uma união de mulheres. A partir disso, surgiu o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana, marcado por debates sobre problemas enfrentados pela população preta, sobretudo, por mulheres.

Segundo o Ministério da Cultura, este encontro gerou a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas. Com apoio da ONU, a Rede lutou para ser reconhecido o dia 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. A data promove reflexão e fortalecimento das lutas das mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais. No Brasil, também há a homenagem à Tereza de Benguela, símbolo de resistência, por meio da Lei n.º 12.987/2014.

Empoderamento econômico da população negra pode aumentar PIB em até 30%

Se o Brasil eliminasse a desigualdade econômica entre negros e brancos, o país poderia ter uma economia bem maior. Especialistas que participaram do seminário “Empoderamento Econômico da População Afrodescendente” nesta segunda-feira (9), evento esse realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destacaram que sem a inclusão econômica da população negra, o Brasil não alcançará seu potencial de desenvolvimento.

Empoderamento econômico é chave para o desenvolvimento

O Brasil poderia ter um Produto Interno Bruto (PIB) até 30% maior se a população negra, que compõe 52% do país, tivesse as mesmas oportunidades econômicas que a população branca. Especialistas afirmam que a desigualdade racial impede o desenvolvimento econômico, reduz a produtividade e limita o consumo interno. Durante um seminário em Brasília, foram discutidas políticas públicas para fomentar o empoderamento econômico e reverter essas perdas.


Mulheres negras unidas contra a desigualdade (Foto: reprodução/Isabem Clavelin/ONU Mulheres)

Durante o seminário, a presidenta do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo, destacou a necessidade de investir no empoderamento econômico da população negra. Para ela, trata-se de um requisito básico para o Brasil poder ser considerado um país desenvolvido. “Fazer o empoderamento econômico da população negra não é uma opção, é uma necessidade. Sem isso, não teremos aumento de produtividade nem crescimento sustentável do PIB”, afirmou.

Ponto esse que foi reforçado pela diretora Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Tereza Campello, que classificou a desigualdade racial como um “obstáculo ao crescimento do país”. Ela ressaltou que superar essa barreira não é apenas uma questão de justiça social, mas também de viabilizar o desenvolvimento econômico brasileiro.

Desigualdade racial e o crescimento do mercado


A igualdade racial é um requisito para a economia (Divulgação/DreamWorksStudios)

A exclusão econômica da população negra não afeta apenas quem vive sob essas condições. Segundo Tereza Campello, o Brasil perde oportunidades de fortalecer seu mercado interno, uma vez que milhões de consumidores são impedidos de participar da economia de forma plena. “Estamos perdendo capacidade de trabalho, inovação e criatividade ao deixar essa parte da população à margem”, lamentou.

Para Ana Carolina Querino, da ONU Mulheres, essa exclusão atrapalha os próprios princípios do capitalismo, que dependem do consumo para gerar crescimento. “Como pensar no ganho do capitalismo se você ignora quem pode gerar esse ganho?”, questionou.

Empreendedorismo sustentável como solução

Carolina Almeida, assessora da ONG Geledés, defendeu que políticas públicas focadas em geração de renda são essenciais para mudar essa realidade. Ela destacou a importância de fomentar um empreendedorismo sustentável entre a população negra, evitando iniciativas de “sobrevivência” que não trazem benefícios a longo prazo. “Queremos um empreendedorismo que promova desenvolvimento, não apenas subsistência”, disse.

José Henriques Júnior, economista do Ministério da Fazenda, afirmou que bancos de fomento como o BNDES têm papel essencial nesse processo, ajudando a alavancar políticas públicas que possam transformar essa realidade.