Vítimas da fraude do INSS devem contestar e pedir ressarcimento de valores descontados

Os aposentados e pensionistas que foram vítimas da fraude do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) poderão verificar os valores dos descontos de entidades associativas em seus benefícios nos últimos cinco anos e contestá-los a partir desta quarta-feira (14) pelo aplicativo Meu INSS. 

As pessoas que foram lesadas pela fraude receberam uma notificação no aplicativo nesta terça-feira (13) e poderão informar a instituição se haviam autorizado os descontos ou não. 

O objetivo do governo federal é identificar todas as vítimas da fraude e, assim, ressarcir os valores desviados. 

Como notificar o governo

Acesse o aplicativo do Meu INSS e faça login com o seu usuário e senha da conta gov.br. Assim que tiver logado sua conta, siga os seguintes passos:

  1. Vá para a opção “Do que você precisa?” e digite “consultar descontos de entidades”. O aplicativo mostrará quais associações realizaram os descontos em seus benefícios e os valores descontados entre março de 2020 e 2025.
  2. Marque se autorizou o desconto ou não em cada uma das entidades que aparecerem na lista.
  3. Informe e-mail e telefone para contato.
  4. Declare se os dados são verdadeiros.
  5. Clique em ‘enviar declarações’ para finalizar. 

A princípio, o governo não exigirá a inclusão de nenhum documento ou comprovante para confirmar que não autorizou a cobrança. 


Os perfis do governo federal nas redes sociais estão comunicando amplamente o passo a passo do processo (Reprodução/X/@govbr)

Caso o aposentado ou pensionista não quiser seguir todo o processo pelo aplicativo, é possível entrar em contato com o canal telefônico 135, de segunda a sábado, das 7h às 22h

Prazo de ressarcimento

O governo não comunicou a data exata do início da devolução dos valores, porém quem teve descontos irregulares em abril receberá a devolução do dinheiro entre 26 de maio e 6 de junho. 

Assim que o segurado informar que não autorizou o desconto pelo sistema, o INSS vai notificar automaticamente a associação que recebeu o dinheiro, pelo novo Portal de Desconto de Mensalidades Associativas (PDMA), com ciência automática.


As entidades precisarão apresentar documentos que comprovem a autorização do beneficiário (Reprodução/YouTube/CNN Brasil)

A empresa terá 15 dias úteis para comprovar o vínculo com o segurado, comprovar a restituição do valor descontado ou informar que o desconto é objeto de ação judicial, mediante apresentação comprobatória.

O beneficiário tomará conhecimento sobre a resposta da entidade a respeito de seus descontos pelos canais de atendimento do INSS. O segurado poderá contestar a decisão mediante apresentação de motivos e documentos que comprovem a discordância. 

 No caso de não comprovação de vínculo com o beneficiário, a associação terá que restituir os valores ao segurado. 

O INSS enviará à entidade uma Guia de Recolhimento da União (GRU) pelo PMDA para que os valores descontados de maneira indevida sejam pagos, em valores corrigidos pelos índices da inflação. 

A guia será anexada ao processo do requerimento e o INSS repassará os valores ao segurado na conta cadastrada para receber o benefício mensal. 

Esquema da fraude

Uma investigação da Polícia Federal (PF) descobriu um grande esquema de fraude e desvios de dinheiro de aposentadorias e pensões do INSS. As investigações revelaram que associações que oferecem serviços a segurados faziam cadastros dos beneficiários sem autorização, com assinaturas falsas, e descontavam valores dos beneficios pagos mensalmente pelo INSS. 

A Polícia Federal (PF) prevê que o desvio pode totalizar o valor de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. 

Tebet não descarta uso de dinheiro público para ressarcir lesados pelo INSS

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, anunciou nesta quinta-feira (8) que o governo federal está trabalhando para compensar aposentados e pensionistas afetados por descontos irregulares no INSS. Ela explicou que, na próxima semana, sua pasta definirá a origem dos recursos para a devolução dos valores.

Inicialmente, o plano prevê a utilização de bens apreendidos para viabilizar o ressarcimento. Entretanto, caso o montante não cubra totalmente os prejuízos, o governo federal poderá complementar a quantia necessária para garantir o pagamento aos beneficiários.

Tebet detalha plano de compensação

Ainda, de acordo com a ministra, o governo está na segunda fase do processo de identificação dos prejudicados por descontos indevidos. Neste momento, está sendo aberto um prazo para que as vítimas possam se manifestar e comprovar que foram lesadas. A partir da próxima semana, as equipes do Orçamento e da Fazenda assumirão a condução da solução para o ressarcimento.

Ressarciremos todos os prejudicados. No entanto, devemos considerar que os recursos não virão apenas da apreensão de bens, pois podem ser insuficientes. Se for necessário, a União complementará o valor, utilizando dinheiro público”, afirmou Tebet.


Simone Tebet garantiu o ressarcimento, mesmo que a União cubra uma parte (Foto: reprodução/Instagram/@simonetebet)


Operação “sem desconto”

Além disso, Tebet também comentou sobre a “Operação Sem Desconto”, da Polícia Federal. Segundo ela, a investigação só foi possível graças à cooperação do governo federal, que incentiva a punição dos responsáveis.

A força-tarefa da Polícia Federal, em parceria com a Controladoria-Geral da União, apura um esquema de descontos indevidos no INSS. As investigações indicam que, entre 2019 e 2024, diversas entidades realizaram cobranças sem autorização dos beneficiários, causando um prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões.

Consignados liberados em 2023 estão sob suspeita

À medida que as investigações avançam, a Polícia Federal questiona a legitimidade dos empréstimos consignados, que totalizaram quase R$ 90 bilhões só em 2023. É importante frisar, mais uma vez, que o montante de quase R$ 90 bi refere-se a todo valor liberado em consignados pelo INSS em 2023, e não que essa seja a quantia desviada.

Contudo, Tebet — que participo do leilão de concessão da Rota da Celulose, na sede da Bolsa de Valores de São Paulo, comentou sobre a polêmica entorno desse valor. Ela disse que a PF apura um possível vínculo entre as cobranças indevidas realizadas por associações e a contratação irregular de empréstimos sem autorização de aposentados.

Entretanto, a principal hipótese é que essas práticas fraudulentas estejam interligadas, permitindo que as empresas ampliassem o número de vítimas. Estima-se que cerca de 4,1 milhões de aposentados e pensionistas podem ter sido vítimas do esquema de fraudes no INSS.