Antecipações do FGTS podem ser limitadas pelo Governo

O Governo Federal estuda impor restrições à prática de antecipar valores do FGTS por meio do saque-aniversário. Atualmente, quem adere ao modelo pode antecipar parcelas futuras desse benefício com desconto, como uma espécie de adiantamento financeiro. A ideia de limitar esse mecanismo surge como resposta aos riscos de endividamento e ao desequilíbrio que operações de crédito com base no FGTS podem causar aos fundos públicos e ao trabalhador.

Saque-aniversário passará por mudanças

Sob o formato de antecipações, instituições financeiras compram parcelas futuras do saque-aniversário a juros e oferecem ao trabalhador um valor presente menor, funcionando, na prática, como uma espécie de empréstimo com desconto em folha. A operação, embora pareça vantajosa à primeira vista, implica custos que nem sempre são claros para o consumidor.

A promessa é de liquidez imediata, ou seja, ter acesso rápido a um dinheiro que só poderia ser sacado em anos seguintes tem atraído milhões de brasileiros, especialmente em momentos de aperto financeiro. No entanto, ao comprometer parcelas futuras, o trabalhador perde a possibilidade de utilizar o saldo do FGTS em situações específicas, como demissão sem justa causa ou aquisição da casa própria, reduzindo sua margem de segurança.


Mudanças no saque-aniversário pode prejudicar brasileiros (Foto: reprodução/Getty Images Embed/ NurPhoto )

Além disso, os juros cobrados pelos bancos e as taxas administrativas associadas à antecipação podem corroer parte significativa do valor que o beneficiário receberia originalmente. Na prática, o ganho imediato se transforma em uma perda de poder financeiro a médio e longo prazo. Essa dinâmica, segundo técnicos do Governo, reforça a necessidade de novas regras que evitem que o FGTS, criado para ser uma reserva trabalhista, acabe funcionando como garantia de crédito de risco.

Potenciais impactos e justificativas

Uma das motivações para a restrição é proteger os trabalhadores de empréstimos predatórios, uma vez que muitos podem não avaliar adequadamente o custo real dessas operações. Com juros e taxas embutidos, a antecipação acaba diminuindo significativamente os valores que seriam recebidos sem intermediários.

Além disso, o Governo avalia que a antecipação pode comprometer o equilíbrio dos recursos do FGTS. Ao permitir que boa parte do saldo futuro seja comprometida, poderá enfraquecer a sustentabilidade do fundo, já que os valores dependem também do aporte contínuo de trabalhadores e empregadores. Manter o equilíbrio atuarial e a credibilidade do sistema é essencial para garantir que o fundo continue servindo como reserva de proteção social.

Termina hoje o prazo para os brasileiros sacarem os Valores a Receber

Durante vários meses, o governo avisou aos cidadãos sobre o “dinheiro esquecido” em bancos e instituições financeiras. Esses valores referem-se a montantes em contas bancárias fechadas, FGTS, tarifas e parcelas cobradas indevidamente dos clientes, sobras de financiamentos e cotas de cooperativas. Nesta quarta-feira (16), encerra-se o prazo para a retirada destes valores usando o sistema de valores a receber do Banco Central.

Mais de 8 bilhões a serem resgatados

De acordo com os dados do Banco Central, até o dia 07/10, havia mais de R$8, 5 bilhões aguardando resgate. Deste montante, R$6,6 bilhões pertencem a 41 milhões de pessoas físicas e R$ 2 bilhões a 3,6 milhões de empresas no Brasil.   

Os valores a serem resgatados variam, mas a maioria são de valores considerados irrisórios. Cerca de 63% dos recebedores têm até R$10, 25% têm valores até R$100 a sacar, 10% receberão entre R$100,01-R$1 mil e apenas 2% podem receber mais de R$1 mil.


A maioria dos brasileiros tem até R$10 a receber, segundo o sistema do Banco Central (Foto: reprodução/Rafapress/Freepik)

Não é necessário ter uma conta no gov.br para fazer a consulta. Para verificar se há algum valor a receber, apenas informe o número de CPF e data de nascimento próprios ou da pessoa falecida no site https://www.bcb.gov.br/meubc/valores-a-receber. Caso seja uma empresa, é preciso informar o CNPJ e sua data de abertura. Caso haja algum valor a ser sacado, a transferência será feita via chave pix informada pelo cidadão. Se não for possível fazer a solicitação pelo site valores a receber, a pessoa precisa contactar a instituição devedora para negociar a forma de devolução do dinheiro.

Se o valor a ser recebido pertence a uma pessoa falecida, é necessário que o sacador seja seu herdeiro,inventariante, testamentário ou representante legal. Daí, a pessoa precisa falar com a instituição para saber quais documentos devem ser apresentados para sacar o valor esquecido.

O que fazer caso o prazo seja perdido

Em caso de perda de prazo, que se encerra hoje, a pessoa ainda terá duas chances de reaver o dinheiro. Esse vencimento se refere a uma lei sancionada pelo presidente Lula, estabelecendo o prazo de 30 dias após publicação da mesma para que os recursos esquecidos sejam resgatados. Se não requisitado ou sacado nestes 30 dias, o artigo 45 da lei estabelece que os valores serão incorporados ao Tesouro Nacional.

Depois desta quarta-feira, o Ministério da Fazenda irá publicar um edital contendo todos os valores recolhidos pela União, indicando a instituição financeira depositária e informando a agência e natureza do depósito. O cidadão ganha então mais 30 dias corridos para pedir o dinheiro esquecido novamente. Se o valor ainda não for requisitado após este período, os brasileiros ainda terão mais seis meses após a publicação deste edital para pedir os valores judicialmente. Apenas após este período, que se encerra em abril de 2025, o governo terá direito aos valores esquecidos de forma definitiva.