Em discurso proferido na Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom contra o que chamou de crescente desrespeito à soberania dos países, especialmente manifestado por meio de sanções unilaterais e intervenções arbitrárias. Para Lula, tais medidas não são exceção, mas vêm se tornando uma “regra” no cenário internacional.
“Desordem internacional” e a importância das instituições democráticas
O presidente afirmou que os princípios que regem a criação da ONU estão sob ameaça. Criticando o uso do poder em escala global como instrumento de imposição, ele disse que atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais se intensificaram, corroendo a ordem internacional.
Lula também defendeu o julgamento de Jair Bolsonaro — condenado por tentativa de golpe após perder a eleição de 2022 — ressaltando que todo o processo respeitou o direito ao contraditório e à ampla defesa. Esse ponto aparece como central para mostrar que a democracia brasileira funciona, inclusive nos momentos em que determinados atores externos buscam questionar decisões judiciais ou interferir politicamente.
Rejeição a sanções externas e apelo por autonomia
Sem citar nomes específicos, o presidente criticou medidas adotadas por outros países, especialmente sanções econômicas, restrições de vistos e tarifas comerciais voltadas ao Brasil. Ele classificou essas ações como arbitrárias — uma forma de intimidação diplomática que ameaça a integridade institucional do país.
Uma das mensagens mais fortes do discurso foi a afirmação de que “nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”. Essa declaração sinaliza que o Brasil, sob seu governo, não aceitará interferências externas que busquem fragilizar ou condicionar sua atuação institucional.
Contexto diplomático
O discurso de Lula ocorre em meio a tensões recentes entre Brasil e Estados Unidos, provocadas por sanções impostas por Washington, que incluem a revogação de vistos e restrições a autoridades brasileiras. O governo americano justifica essas medidas como resposta a decisões judiciais envolvendo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No mesmo palco internacional, Donald Trump relatou ter se encontrado rapidamente com Lula nos bastidores da ONU. Segundo ele, os dois se cumprimentaram com um abraço e combinaram uma reunião para a semana seguinte, ocasião em que Trump elogiou o brasileiro, descrevendo-o como “um homem muito simpático”.
Já a diplomacia brasileira insiste que as sanções ferem princípios fundamentais do direito internacional e da soberania nacional, enquadrando a disputa como parte de uma narrativa de defesa do respeito mútuo entre Estados e do fortalecimento das instituições democráticas.
Reformas internacionais, ação climática e critica ao genocídio em Gaza
Além da defesa da autonomia brasileira, Lula também voltou a cobrar reformas profundas nas instituições multilaterais, apontando que organismos como a ONU e o Conselho de Segurança precisam refletir a realidade geopolítica atual, dando mais espaço ao Sul Global e reduzindo as assimetrias de poder entre nações. Para ele, não é mais aceitável que estruturas criadas no pós-guerra continuem a determinar unilateralmente os rumos da política internacional.
A pauta ambiental também esteve no centro do discurso. Lula ressaltou a urgência em enfrentar a crise climática, defendendo a aceleração da transição energética e maior apoio financeiro e tecnológico aos países mais vulneráveis.
Ele frisou que florestas tropicais e comunidades tradicionais devem estar no centro das políticas ambientais e cobrou que os compromissos já assumidos pelas nações desenvolvidas saiam do papel. O presidente ainda propôs a criação de um balanço ético global das ações climáticas, que leve em conta não apenas números técnicos, mas também justiça, equidade e solidariedade entre os povos.
Um dos trechos mais contundentes do discurso foi dedicado ao conflito no Oriente Médio. Lula condenou o que chamou de genocídio em curso na Faixa de Gaza, afirmando que “nenhum atentado terrorista, por mais grave que seja, justifica o genocídio em andamento”.
Ele acusou países com poder de influência de serem “cúmplices” ao não agir para frear a escalada da violência e criticou o uso da fome como arma de guerra e o deslocamento forçado da população civil. Para o presidente, o massacre em Gaza não representa apenas a morte de milhares de inocentes, mas também a tentativa de anular o sonho de um Estado palestino.
Compromisso do Brasil com justiça, paz e sustentabilidade
O discurso de Lula reforça a postura do Brasil como um ator que busca equilíbrio entre soberania, justiça social e responsabilidade global. Ao combinar críticas à ordem internacional atual, apelos por ação climática e defesa de direitos humanos, o presidente projeta a imagem de um país ativo, que não se limita a reagir a eventos externos, mas propõe soluções e reformas estruturais.
Ao encerrar sua fala, Lula destacou que o respeito à vida, à democracia e à dignidade humana deve ser o alicerce de qualquer política internacional. Ele concluiu afirmando que o Brasil continuará a lutar por um mundo mais justo, sustentável e solidário, onde conflitos sejam resolvidos pelo diálogo e pela cooperação, e não pela imposição ou violência.
