“O Agente Secreto” tem première marcada por política e emoção no Festival de Toronto

Estreando em clima simbólico, “O Agente Secreto” teve sua primeira exibição no Festival de Toronto. O longa, dirigido por Kleber Mendonça Filho e estrelado por Wagner Moura, conquistou o público com sua força narrativa. A produção conecta passado e presente ao abordar as memórias da ditadura em diálogo com o cenário político atual. Aplaudido de pé, o filme reforça o papel do cinema nacional como voz ativa na reflexão histórica e social.

Estreia em clima de Independência e resistência

No último domingo (7), dia em que o Brasil celebrou sua Independência, o Festival de Cinema de Toronto foi palco da première de “O Agente Secreto”, novo longa de Kleber Mendonça Filho. O evento ocorreu no Royal Alexandra Theatre e reuniu brasileiros e cinéfilos estrangeiros, em uma exibição que foi além do cinema: carregou discursos políticos, lembranças históricas e reflexões sobre democracia.

A entrada do diretor Kleber Mendonça Filho, acompanhado da produtora Emilie Lesclaux e do protagonista Wagner Moura, foi marcada por gritos de “sem anistia” vindos da plateia, evidenciando a conexão direta entre o filme e o momento político do Brasil. Durante a apresentação, o cineasta ressaltou a simbologia da data, lembrando o período da ditadura militar e refletindo sobre a importância de preservar a democracia.


Discurso de Kleber Mendonça Filho durante o TIFF 2025 (Vídeo: reprodução/Instagram/@omelete)


A parceria entre Kleber Mendonça e Wagner Moura

Após a exibição, marcada por longos aplausos, diretor e ator retornaram ao palco para conversar com a plateia e responder perguntas sobre o processo criativo. O diretor destacou que escreveu o papel principal pensando exclusivamente no ator: “Wagner sempre foi a minha primeira escolha, não havia plano B”, disse em tom bem-humorado.

Wagner, por sua vez, contou episódios divertidos dos bastidores, como quando precisou assistir a Barry Lyndon, de Stanley Kubrick, indicado por Kleber. O relato arrancou risadas do público e mostrou a cumplicidade entre os dois, refletida também na performance intensa que conquistou os críticos presentes.


Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura falam sobre o processo criativo do filme (Vídeo: reprodução/Instagram/@omelete)


Ditadura, memória e futuro

Entre reflexões sobre cinema e política, Mendonça reforçou que O Agente Secreto é uma obra atravessada pelo afeto, mesmo ao abordar períodos de violência e censura no Brasil. Para ele, o processo de anistia após a ditadura criou um “apagamento coletivo” que ainda marca a sociedade.

Discutir um passado traumático nunca é fácil, mas o silêncio também é destrutivo. A memória precisa ser preservada para que os erros não se repitam”

Keleber Mendonça Filho

O diretor ainda relacionou a trama com os recentes debates sobre responsabilização de crimes cometidos pela extrema-direita no país.

Orgulho brasileiro em Toronto

Encerrando a noite, Moura fez um discurso de esperança sobre o futuro político do Brasil, reforçando o orgulho de representar o país no festival. “Estou muito orgulhoso das instituições brasileiras neste momento. O Brasil está se tornando um exemplo do que uma democracia deveria ser, e isso é muito importante nesse 7 de setembro”, disse, sendo ovacionado pela plateia.

Com forte carga política e estética, “O Agente Secreto” mostrou em Toronto que não é apenas um thriller de suspense, mas também uma reflexão sobre memória, resistência e a importância de preservar a democracia.

“O Último Azul”: filme brasileiro participará do Festival de Toronto

O longa-metragem, O Último Azul, com a produção comandada por Gabriel Mascaro e estrelada por Rodrigo Santoro e Denise Weinberg, acaba de ser confirmado no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF). 

Sobre o filme

“O Útimo Azul” é protagonizado por Denise Weinberg, juntamente com Rodrigo Santoro, Andanilo e a atriz cubana Miriam Socarrás no elenco. Assim, o longa se passa na Amazônia, representando um Brasil quase distópico, onde o governo transfere idosos para uma colônia habitacional onde poderão “desfrutar” seus últimos anos de vida.


Post feito pelo perfil do Festival de Cinema de Toronto confirmando participação de produção brasileira (Foto: reprodução/X/@TIFF_NET)


Antes de seu exílio compulsório, Tereza (interpretada por Denise) uma mulher de 77 anos de idade, embarca em uma jornada para realizar seu último sonho. Uma trama sobre resistência, amadurecimento e sonhos ao longo dos rios amazônicos. O filme tem previsão de chegada aos cinemas para o dia 28 de agosto.

Premiações e participações em festivais

Dirigido por Gabriel Mascaro, também diretor de outras obras como “Boi Neon” e “Divino Amor”, “O Último Azul” será o filme de abertura do Festival de Cinema de Gramado deste ano. Já em sua 53º edição, o festival acontecerá entre os dias 13 e 23 de agosto. 


“O útimo Azul” será o filme de abertura do evento (Foto: reprodução/Instagram/@vitrine_filmes)


Quando fazemos filme brasileiro, o que mais queremos é mostrá-lo para o Brasil. E finalmente, depois de uma linda trajetória em festivais, a gente vai poder estrear no Brasil no Festival de Gramado, e logo em seguida entrar em cartaz”, diz o diretor, Gabriel Mascaro. “Tem sido muito bonito ver um personagem que, de maneira muito universal, fala tanto sobre várias culturas – uma personagem idosa em busca do seu sonho, encontrando o seu desejo. É muito lindo ver um longa filmado na Amazônia, no Brasil, encontrar ressonância com tantas culturas diferentes”, concluiu. 

“O Último Azul” já foi premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim deste ano, e exibido em  mais 13 festivais espalhados em diferentes países pelo mundo, incluindo China, República Tcheca, Islândia, México, Polônia, Taiwan, Reino Unido e Uruguai.