A assinatura do acordo comercial entre o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União Europeia (UE) foi adiada e não ocorrerá neste sábado (19), de acordo com a informação confirmada por fontes diplomáticas europeias.
Ainda assim, segundo as agências AFP e Reuters, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comunicou o adiamento a líderes do bloco. A previsão do acordo Mercosul-UE agora aponta para janeiro de 2026.
Pressões políticas mudam o calendário do acordo
Inicialmente, a Comissão Europeia planejava concluir o pacto nesta semana, criando a maior zona de livre comércio do mundo. No entanto, o cenário político mudou. Logo, a Itália passou a defender o adiamento após alinhar-se à França. Assim, ambos os países exigem garantias adicionais ao setor agrícola europeu.
Por isso, o anúncio ocorreu durante as reuniões do Conselho Europeu, em Bruxelas. O encontro reúne chefes de Estado até esta sexta-feira (18). De forma geral, o acordo prevê redução gradual de tarifas e, além disso, estabelece regras comuns para comércio, investimentos e padrões regulatórios.
Negociações com o Mercosul estavam paralisadas durante Cúpula da UE (Foto: reprodução/Thierry Monasse/Getty Images Embed)
França lidera resistência dentro da União Europeia
Em foco, a França mantém a principal oposição ao tratado no bloco europeu. O presidente Emmanuel Macron condicionou o apoio a novas salvaguardas agrícolas e afirmou que o texto atual não protege adequadamente os produtores franceses. Por isso, Paris rejeita qualquer tentativa de acelerar a assinatura.
Macron ainda afirmou que o acordo ameaça agricultores locais. Consequentemente, eles temem concorrência com produtos sul-americanos mais baratos. Além disso, produtores franceses criticam diferenças ambientais entre os blocos. Segundo eles, as regras não garantem competição equilibrada.
Alemanha e Espanha defendem avanço imediato
Em contrapartida, Alemanha e Espanha pressionam pela ratificação do acordo firmado politicamente no ano passado. Assim, ambos defendem decisões rápidas. O chanceler alemão afirmou que a União Europeia precisa preservar a credibilidade internacional. Para ele, atrasos prejudicam a política comercial.
Países nórdicos compartilham dessa visão. Eles avaliam que o acordo reduz a dependência da China e amplia o acesso a minerais estratégicos. Além disso, os governos veem o tratado como resposta às tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos europeus.
Itália sinaliza apoio condicionado
Em outro cenário, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, adotou posição cautelosa ao afirmar que o país pode apoiar o acordo, contudo, mediante ajustes. Segundo Meloni, o governo aguarda respostas às preocupações dos agricultores italianos. As decisões dependem da Comissão Europeia.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, conversou com Meloni por telefone. Segundo ele, a premiê não rejeita o tratado. Lula afirmou que a resistência italiana é política. Ele acredita que o setor agrícola pode ser convencido nas próximas semanas.
Bruxelas registra protestos enquanto acordo enfrenta barreiras
Enquanto líderes negociavam, milhares de agricultores protestaram em Bruxelas contra o acordo com o Mercosul. A mobilização foi intensa e houve manifestantes que usaram tratores e bloquearam vias próximas ao Parlamento Europeu. Também houve confrontos com a polícia local. Além disso, durante o ato, pneus foram incendiados e objetos lançados. Autoridades confirmaram ao menos um ferido. O acordo precisa de autorização formal do Conselho Europeu. Para isso, são necessários 15 dos 27 países do bloco.
Protestos em Bruxelas contra o acordo de livre comércio Mercosul (Foto: reprodução/Dursun Aydemir/Anadolu/Getty Images Embed)
Esses países devem representar, juntos, 65% da população europeia. Esse requisito concentra o principal risco político. Apesar do foco no agronegócio, o tratado é amplo e inclui indústria, serviços, investimentos e propriedade intelectual. A expectativa era que von der Leyen viajasse ao Brasil para ratificação. Contudo, a agenda não deve avançar ainda este ano.
