Acidente Voepass: áudios inéditos revelam tranquilidade antes de queda em Vinhedo

Áudios divulgados nesta semana expõem detalhes das últimas conversas entre a tripulação do voo 2283 da companhia Voepass e o controle aéreo de São Paulo. A aeronave, um ATR 72-500, caiu em Vinhedo (SP) em 9 de agosto de 2024 e causou 62 mortes. A princípio, as gravações mostram diálogos protocolados, sem indicação de pane ou emergência iminente.

De início, os minutos finais dos áudios apresentam que as trocas de frequência entre os controladores seguiram procedimentos comuns de aproximação. Contudo, cruzamentos com dados das caixas-pretas apontam que, dentro da cabine, o acúmulo de gelo já comprometia o desempenho do avião. Além disso, alertas luminosos e sonoros surgiam enquanto os pilotos se comunicavam com a torre e repassavam informações aos passageiros.

Sinais de gelo e investigações em andamento

Todavia, relatos de outros voos na mesma rota reforçam as suspeitas. Portanto, pilotos de diferentes companhias reportaram a formação de gelo na região minutos antes e depois do acidente. Assim, o relatório preliminar do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) confirmou que o sistema de degelo foi acionado instantes antes da perda de controle da aeronave.


Imagens inéditas do acidente da Voepass (Vídeo: reprodução/YouTube/Domingo Espetacular)

Ao passo que especialistas acompanham o caso, fazem alerta sobre a formação de gelo ter sido o fator decisivo, mas ressaltam que há a necessidade de analisar possíveis falhas de manutenção, bem como as rotinas da tripulação. Por outro lado, a Polícia Federal investiga uma possível negligência no registro e tratamento de panes anteriores ao voo. Ainda assim, depoimentos apontam indícios de que um problema no sistema de degelo foi identificado horas antes da decolagem, contudo, não houve o registro do evento no diário de bordo.

Cronologia do acidente

11h58min05s – Decolagem do voo 2283 de Cascavel.

13h14min21s – Controle orienta mudança para frequência 135,75 MHz.

13h14min28s – Tripulação confirma mensagem.

13h14min36s – Já na nova frequência, voo informa recebimento do chamado.

13h14min40s – Controle pergunta sobre recepção; tripulação relata eco.

13h14min49s – Controle orienta voltar para 120,925 MHz; tripulação confirma.

13h15min02s – Controle pede manutenção do nível de voo 170 (5 mil metros).

±13h15min – Outro piloto informa gelo moderado na região.

13h15min08s – Voepass 2283 confirma manutenção do nível.

13h18min21s – Tripulação informa estar no ponto ideal para iniciar descida.

13h18min25s – Controle reforça manutenção do nível 170; tripulação confirma.

13h18min53s – Controle orienta contato com São Paulo na frequência 123,25 MHz.

13h19min01s – Tripulação responde que fará o contato (última comunicação obtida pelo g1).

13h19min07s – Voo faz primeira chamada na nova frequência, sem resposta.

13h19min16s – Aeronave repete a chamada.

13h19min19s – Controle pede manutenção do nível 170 devido ao tráfego.

13h19min23s – Voo confirma manutenção e informa estar pronto para descida.

13h19min30s – Controle confirma e orienta aguardar autorização.

13h19min31s – Voo confirma espera e agradece (última comunicação externa da tripulação).

13h21min09s – Pilotos perdem controle da aeronave; queda inicia.

13h22min30s – Aeronave colide com o solo.

±13h26min – Outros dois pilotos relatam formação de gelo na região.


Vista aérea dos destroços do voo 2283 (Foto: reprodução/Miguel Schincariol/AFP/Getty Images Embed)


Contexto da tragédia e resposta da Voepass

Um ano após o acidente, a Voepass mantém apoio psicológico às famílias e colabora com as investigações. A companhia reforça que cumpre padrões internacionais de segurança e que sua frota sempre esteve certificada para operar.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), no entanto, determinou a suspensão provisória das operações até que todas as irregularidades sejam sanadas. Agora, o relatório final do Cenipa é aguardado para o fim deste ano e deve esclarecer fatores técnicos e humanos envolvidos na tragédia.

Saiba quais são os desafios da perícia para encontrar vítimas da queda do voo 2283

Em acidentes de avião como no caso do Voo 2283 na cidade de Vinhedo, interior de SP, nesta última sexta-feira (9), o trabalho de identificação dos corpos das vítimas é um grande desafio. Mas segundo a perícia, o reconhecimento dos corpos das 62 pessoas que estavam a bordo do avião da Voepass já começaram a ser feitas horas após a tragédia.

Conforme afirma Vladimir Alves dos Reis, diretor do instituto medico legal (IML) de São Paulo, o mais importante e que as famílias da vítima reconheçam seus parentes falecidos, para receberem o documento de declaração de óbito e conseguirem viver o luto de seus entes queridos.

O que mais especialistas dizem

O diretor do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, Carlos Eduardo Palhares Machado, afirma que a posição em que a pessoa estava no avião também pode ajudar na identificação dos corpos.


Equipes do Corpo de Bombeiros e da Polícia Federal no trabalho de perícia após desastre aéreo com 62 mortes em Vinhedo, SP (Foto: reprodução/Policia Federal)

Há também situações em que os passageiros decidem mudar de lugar na última hora. Por exemplo, casais que querem ficar juntos ou pais que viajam com filhos.
No local do acidente, um scanner é usado para replicar exatamente a aparência do ambiente. Assim, imagens são registradas
e as autoridades têm acesso a detalhes de onde estavam os corpos e de certas partes do avião. Os profissionais que trabalham na identificação de corpos também têm acesso à lista de passageiros e aos documentos de cada pessoa.

Com o RG e do CPF de cada vítima, a perícia consegue identificar a qual estado essa pessoa pertence, podendo então acessar o banco de dados de cada estado para conseguir obter mais informações sobre as vítimas.

Mauricio José Lemos Freire, diretor do Instituto de Identificação de São Paulo, diz que a maioria dos estados hoje em dia já possui o sistema chamado AFIS, que é um sistema automatizado de identificação de impressões digitais, que funciona para fazer buscas de bancos de dados. Ele ainda complementa afirmando que a papiloscopista vai determinar se aquela impressão digital colhida de fato pertence realmente à pessoa e se está de acordo com a ficha datiloscópica, podendo também existir casos que essa identificação é feita visualmente.

Os peritos também afirmam conseguir identificar as vítimas por roupas, sinais particulares, tatuagens e próteses, além do próprio reconhecimento facial, por fotos sorridentes que incluam dentes, características dos dentes e pontos de identificação de características físicas de cada pessoa, explica Vladimir dos Reis, do IML de São Paulo.

Reconhecimento por DNA e previsão de respostas

Os testes de DNA só são feitos como último recurso, quando os especialistas já tentaram todos os outros métodos e não obtiveram sucesso.

Não há estimativa de quanto tempo levará para identificar todas as vítimas do voo 2283, mas será mais rápido do que em 2007, quando ocorreu a tragédia do voo da TAM no aeroporto de Congonhas, deixando 199 mortos. Com a tecnologia evoluindo e a adoção de grandes protocolos internacionais para desastres no Brasil, sabe-se que respostas e o trabalho de identificação de pessoas serão feitas em menor tempo.