Mercados em alerta: bolhas de ativos e otimismo da IA desafiam sinais tradicionais da economia global

Desde a disparada das ações impulsionadas pela inteligência artificial até o ouro atingindo recordes históricos, praticamente todas as classes de ativos parecem estar em transformação. O cenário atual desperta uma dúvida antiga em Wall Street: estaríamos diante de um novo ciclo de prosperidade ou à beira de uma bolha prestes a estourar

IA ajuda a Impulsionar a ações

O índice S&P 500 chegou aos 6.700 pontos, quase o dobro do registrado há cinco anos. A explicação está, em grande parte, nos chamados “sete gigantes da tecnologia” empresas que concentram cerca de 40% do índice e que investem trilhões de dólares em inteligência artificial (IA), tecnologia vista como a principal força motriz dessa valorização.


Um gráfico do S&P 500 (Foto: Reprodução/Michael Nagle/Bloomberg via Getty Images Embed)


Mas o fenômeno não se restringe às ações. O ouro opera próximo de suas máximas históricas, o café também registra valorização, e o bitcoin considerado o ativo de risco por excelência — já acumula alta superior a 130% desde que passou a integrar fundos negociados em bolsa (ETFs) no início de 2024.

No setor imobiliário, os preços residenciais seguem em ascensão, tornando-se cada vez mais inacessíveis para compradores comuns. Até mesmo os títulos de alto risco estão sendo negociados como se não existisse possibilidade de colapso. Esse comportamento generalizado de euforia reacende comparações com ciclos anteriores de bolhas financeiras.

O economista John Kenneth Galbraith já alertava

O economista John Kenneth Galbraith já alertava que as bolhas seguem um roteiro previsível: uma nova ideia encanta o mercado, o crédito se expande, os preços disparam e a confiança cresce até que a realidade se impõe. Para ele, o combustível essencial dessas euforias não é o crédito em si, mas a “esperança ilimitada e a memória curta” que fazem cada geração acreditar que “desta vez é diferente”.

Apesar dos sinais de alerta, muitos investidores ainda mantêm o otimismo. A curva de rendimento, que ficou invertida entre junho de 2022 e agosto de 2024,  um indicador tradicional de recessões, não se confirmou como prenúncio de crise. Segundo o Deutsche Bank, se não fosse pelos investimentos maciços em infraestrutura de IA, os Estados Unidos já estariam em recessão.

Essa coexistência de sinais contraditórios ajuda a explicar por que o ouro, símbolo de segurança, e as ações, termômetro de otimismo, sobem ao mesmo tempo. Enquanto alguns veem um mercado equilibrado e resiliente, outros enxergam investidores se protegendo de uma possível correção.

Trump nomeia Howard Lutnick, executivo de Wall Street, como chefe do Departamento de Comércio dos EUA

Donald Trump indicou Howard Lutnick, CEO da Cantor Fitzgerald, para liderar a Secretaria de Comércio dos EUA. Lutnick foi requisitado para implementar a política tarifária de Trump, que inclui taxas de 10% a 20% para a maioria das importações e 60% para produtos chineses. A medida promove o fortalecimento da indústria nacional, entretanto, especialistas alertam para possíveis impactos inflacionários e prejuízos à economia.

“Na sua função de co-presidente da equipe de transição Trump-Vance, Howard criou o processo e sistema mais sofisticado para nos ajudar a criar a melhor administração que a América já viu”, destacou Trump.


Trump indica Howard Lutnick (Foto: reprodução/
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Como ficam os países mais pobres

Recentemente o futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, fez um diagnóstico sobre os impactos da mudança na presidência dos Estados Unidos. No painel do G20 Talks no Rio de Janeiro, foi observado que a vitória de Donald Trump impactou diretamente os juros globais, complicando o financiamento em regiões como América Latina e África.

A mudança ocorre através de políticas protecionistas, como aumento de tarifas de importação e restrições à imigração. Essas medidas pressionariam os custos de mão de obra e elevariam os preços nos EUA. Dessa forma, os juros de curto prazo aumentam, influenciando o custo de crédito internacional e afetando negativamente economias emergentes.

Galípolo lembra que que o juro maior gera consequências sobre o custo de financiamento internacional:

“Geralmente, os juros que o mundo cobra para todos os outros países são os juros americanos mais alguma coisa. Logo, ao ter um juro americano mais alto, foi imposto a todos os países um custo financeiro mais alto para conseguir se financiar.”

A vitória de Trump

Donald Trump venceu as eleições presidenciais americanas de 2024 contra Kamala Harris, em uma das campanhas mais polarizadas da história recente dos Estados Unidos. A vitória foi impulsionada por sua forte presença em estados industrializados e estratégias para mobilizar jovens eleitores por meio de influenciadores digitais.

Ele também conseguiu atrair parte de minorias tradicionalmente democratas. Elon Musk apoiou abertamente a campanha, contribuindo com grandes recursos financeiros e promovendo Trump em sua plataforma de mídia social.

Disney mira crescimento de dois dígitos até 2027 com forte desempenho no entretenimento

No último trimestre, a Walt Disney alcançou lucros acima do esperado, impulsionada pelo sucesso dos seus serviços de streaming e pelos lançamentos de filmes desse ano. Com essas boas notícias para os próximos anos, o mercado ficou animado, levando as ações da empresa a subirem 10,2% nesta quinta-feira (14), alcançando a marca de US$ 113,17, o maior valor em seis meses.

Streaming e cinema lideram os ganhos

Os serviços de streaming da empresa, o Disney+, Hulu e ESPN tiveram um lucro juntos de US$ 321 milhões no trimestre, marcando o segundo período seguido que o streaming tem resultados positivos. Além disso, o número de assinantes também subiu 4%, mostrando como os streamings da Disney se tornaram uma das peças-chave da empresa. A receita da área de streaming aumentou 15%, alcançando US$ 5,783 bilhões e representando quase um quarto de todo o dinheiro que a Disney ganha.

No cinema, o cenário foi ainda mais animador. Eles saíram de um prejuízo de US$ 149 milhões no mesmo período do ano passado para um lucro de US$ 316 milhões. Filmes como Divertida Mente 2 e Deadpool & Wolverine foram grandes responsáveis para essa reviravolta, com bilheterias enormes e críticas favoráveis, e o lucro pode aumentar ainda mais com o lançamento próximo de Moana 2.

O CEO da Disney, Bob Iger, falou que esses resultados mostram os esforços da empresa para superar os problemas dos últimos anos, dizendo que a Disney está começando a entrar em uma fase de crescimento mais estável e que estão se alinhando com as tendências do mercado daqui para frente.

Projeções otimistas para os próximos anos

A Disney está bastante confiante sobre os próximos anos, o que deixou os investidores super animados. A empresa anunciou que planeja recomprar ações no valor de US$ 3 bilhões, uma estratégia que costuma aumentar o valor das ações que continuam no mercado.

Para 2025, a Disney espera que os lucros continuem crescendo, mesmo com os altos investimentos, que devem chegar a US$ 8 bilhões. Para os anos seguintes, 2026 e 2027, a empresa aguarda um crescimento ainda maior, com os lucros subindo em dois dígitos. Isso deve acontecer por conta de projetos em parques temáticos, cruzeiros e pela expansão das plataformas de streaming.


O sucesso estrondoso de “Divertida Mente 2” e “Deadpool e Wolverine” impulsionou o lucro da empresa (Foto: reprodução/Disney)

Dificuldades nos parques e na TV tradicional

Nem todos os segmentos da Disney apresentaram resultados tão positivos. A divisão de parques internacionais registrou uma queda de 32% no lucro operacional, afetada pelos altos custos de construção e pela concorrência de eventos como as Olimpíadas de Paris. Nos Estados Unidos, no entanto, os parques conseguiram manter relativa estabilidade, graças a iniciativas para modernizar atrações e melhorar a experiência dos visitantes.

A televisão tradicional foi outro ponto de pressão, com uma queda de 38% no lucro operacional, prejudicada por custos elevados e pela redução da audiência. Apesar disso, os esforços para transformar o modelo de negócios, com maior foco no digital, têm ajudado a reduzir as perdas.

Recepção do mercado

Os resultados divulgados e a perspectiva otimista até 2027 foram bem recebidos por investidores e analistas. O relatório foi apontado como uma demonstração de que a Disney está consolidando um modelo de negócios mais previsível e menos dependente das redes de televisão a cabo.

A empresa segue reforçando sua posição como líder no mercado global de entretenimento, apesar de dificuldades pontuais, como alguns fracassos de bilheteria anteriores. Os avanços no streaming, cinema e parques temáticos indicam que a Disney está preparada para enfrentar os desafios do setor e continuar entregando valor aos acionistas nos próximos anos.

Ações do grupo Meta despencam em 15% e afetam ativos financeiros do mercado

Nesta quinta-feira (25), as ações da Meta atingiram baixa de 15% no mercado financeiro. O declínio da empresa de Mark Zuckerberg repercutiu principalmente em organizações com viés tecnológico. O aumento da venda de ativos surge em decorrência da instabilidade da inteligência artificial, vertente na qual a Meta atua. Conforme o grupo, a investida, iniciada no início de 2023, não deve ser rentável a curto prazo. 

Outras gigantes da tecnologia como a Microsoft, Alphabet e Snap foram afetadas. Estima-se a queda de  2% a 5% ao nível de ação. A meta, por sua vez, perdeu US$ 180 bilhões em valor de mercado.

Aposta em realidade aumentada preocupa investidores

No ano passado, Mark Zuckerberg surpreendeu Wall Street com posicionamento a favor do corte de custos.  Em seguida, recorreu aos analistas e explicou que investimento em inteligência artificial deve ser rentável em anos vindouros. Tal posicionamento criou dúvidas em investidores quanto à rentabilidade deste tipo de serviço, uma vez que tanto realidade aumentada quanto virtual são sinônimos de prejuízo. 


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Mark Zuckberg em apresentação da Meta em 2023 (Foto: reprodução/Bloomberg/Getty Images Embed)


Para analistas de ações da Baird Equity, as ações perdidas estão sendo computadas como penalidades pela empresa. “Os investidores foram pegos de surpresa pelo aumento dos investimentos, exacerbado por previsão de receita ligeiramente mais suave no segundo trimestre”, informaram. 

De acordo com Mark Schmulik, analista da Bernstein, o posicionamento dos investidores é plausível, dado que a internet não é um campo favorável para medir quando o retorno ou até mesmo quando.

Meta aumenta gasto para 2024 e prevê receita baixa nos próximos meses

O grupo estima que os meses de abril e junho devem ser desvantajosos, com uma estimativa de gastos total para 2024 aumentado em US$ 2 bilhões. Apesar disso, os analistas olham para investimentos por parte da Meta como acertado, muito por conta da recepção da Meta AI e ferramenta similar presente no Instagram.

O preço médio das ações da Meta constam na casa de US$ 525 dólares.