Avanço científico sem óvulos ou espermatozoides, o futuro da pesquisa com embriões

Cientistas de todo o mundo estão se dedicando à criação de modelos de embriões humanos a partir de células-tronco, sem o uso de óvulos ou espermatozoides. Esses modelos, embora ainda não sejam réplicas perfeitas, estão se tornando cada vez mais complexos e podem revolucionar a pesquisa sobre o desenvolvimento humano e as causas da infertilidade. […]

31 jul, 2025
Foto destaque:  estudo cientifico visa criar vida humana a partir de células tronco (Reprodução/spawns/Getty Images Embed)
Foto destaque: estudo cientifico visa criar vida humana a partir de células tronco (Reprodução/spawns/Getty Images Embed)
A imagem mostra um conjunto de células representadas como esferas translúcidas com bordas finas e transparentes. No centro de cada célula há um núcleo azul escuro, sólido e bem definido. As células estão parcialmente sobrepostas entre si, dispostas sobre um fundo claro, o que dá um aspecto tridimensional e dinâmico à composição

Cientistas de todo o mundo estão se dedicando à criação de modelos de embriões humanos a partir de células-tronco, sem o uso de óvulos ou espermatozoides. Esses modelos, embora ainda não sejam réplicas perfeitas, estão se tornando cada vez mais complexos e podem revolucionar a pesquisa sobre o desenvolvimento humano e as causas da infertilidade. No entanto, o rápido avanço da ciência nessa área levanta sérias questões éticas, legais e regulatórias.

A professora Amander Clark, da UCLA, copresidente do Grupo de Trabalho sobre Modelos de Embriões da Sociedade Internacional para Pesquisa com Células-Tronco (ISSCR), ressalta que é crucial que a pesquisa ocorra dentro de um quadro que equilibre o progresso científico com considerações éticas e sociais. A ISSCR está revisando suas diretrizes para abordar os novos desafios, sugerindo uma supervisão mais rigorosa para todas as pesquisas envolvendo modelos de embriões.

Limites Éticos e o Futuro da Pesquisa com Modelos de Embriões

Atualmente, nenhum modelo consegue imitar completamente o desenvolvimento de um embrião humano nem tem potencial para se tornar um feto. Contudo, modelos criados com células de camundongos já evoluíram para ter um cérebro e coração em formação. A meta principal é usar esses modelos como ferramentas de pesquisa para desvendar os mistérios da divisão celular e reprodução humana, não para criar vida viável.

O Grupo de Trabalho da ISSCR propôs duas “linhas vermelhas” claras. A primeira é a proibição da transferência de modelos de embriões humanos para um útero. A segunda é evitar o uso desses modelos para buscar a ectogênese, ou seja, o desenvolvimento de um embrião fora do corpo humano em úteros artificiais. A intenção é não criar vida do zero.


Matéria sobre embrião humano criado em laboratório (Vídeo: reprodução/YouTube/Olhar Digital)

O Desafio da Regulamentação Global

A regulamentação desses modelos varia globalmente. A Austrália, por exemplo, os trata da mesma forma que embriões humanos, enquanto outros países como os EUA ainda não têm uma estrutura legal específica. Essa lacuna faz com que as diretrizes voluntárias da ISSCR se tornem uma referência global para pesquisadores.

Em um relatório de 2024, o Nuffield Council on Bioethics destacou a importância de diretrizes internacionais para evitar pesquisas antiéticas. Os pesquisadores Naomi Moris e Jacob Hanna propuseram “testes de Turing” para determinar se um modelo de embrião se aproxima de um organismo humano viável. Um desses testes seria observar se modelos de embriões de macacos se tornam animais vivos e férteis, o que indicaria que o mesmo poderia ser possível com modelos humanos.

Benefícios e o Equilíbrio Delicado da Pesquisa

Defensores da pesquisa argumentam que os modelos de embriões oferecem uma alternativa mais ética e acessível aos embriões doados. Eles podem ser usados para testes de toxicidade de medicamentos e para estudar as causas da infertilidade. A professora Magdalena Zernicka-Goetz e sua equipe, por exemplo, conseguiram cultivar modelos até o estágio de 14 dias, um período crítico de implantação no útero, que é difícil de estudar em embriões humanos vivos.

O uso dos modelos de embriões abre uma janela de oportunidade para entender a “grande caixa preta” do desenvolvimento humano. No entanto, o desafio é encontrar o equilíbrio certo para que os modelos sejam parecidos o suficiente com embriões reais para fornecer conhecimento valioso, mas não tanto a ponto de confundir os limites entre a pesquisa em laboratório e a criação de vida.

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