Cientistas chineses conseguiram restaurar a visão em camundongos cegos através da edição do gene Crispr, segundo um estudo publicado na sexta-feira no Journal of Experimental Medicine. A pesquisa apresentou um avanço significativo e promissor para futuras aplicações em humanos, apesar das questões éticas levantadas pela tecnologia revolucionária.
A equipe de cientistas conseguiu reverter a perda de visão em camundongos com retinite pigmentosa, uma condição genética hereditária que causa a decomposição lenta das células da retina ao longo do tempo, sendo uma das principais causas de cegueira no mundo. Para isso, os pesquisadores desenvolveram uma nova ferramenta Crispr, que permitiu a reparação da mutação genética responsável pela perda da visão.
Cientistas conseguem fazer ratos cegos recuperarem a visão (Foto: Reprodução/Revista Galileu)
De acordo com os pesquisadores, os camundongos mantiveram a visão mesmo na velhice e foram submetidos a uma variedade de testes comportamentais, incluindo a capacidade de escapar de um labirinto aquático. O estudo apresentou uma ferramenta Crispr mais versátil e capaz de realizar qualquer tipo de edição em qualquer local do genoma, o que proporcionou evidências mais convincentes da diversidade de possíveis usos da edição de genes para o tratamento de doenças.
Apesar da ferramenta Crispr ter sido utilizada anteriormente para restaurar a visão de ratos cegos, a nova ferramenta desenvolvida pelos pesquisadores chineses é capaz de corrigir com mais eficiência muitas das causas genéticas de cegueira em humanos, inclusive para retinite pigmentosa. Os cientistas estão ansiosos para testar a ferramenta contra outros tipos de retinite pigmentosa, que podem ser desencadeados por mutações em mais de 100 genes diferentes.
No entanto, a aplicação da tecnologia Crispr em humanos ainda está longe de ser possível. É necessário muito trabalho para abordar questões de segurança e garantir a eficácia antes que o sistema possa ser usado com segurança e êxito em seres humanos.
Crispr é uma poderosa ferramenta de edição de genes que permite que os cientistas alterem com precisão o DNA em locais específicos. Desde sua descoberta, tem sido amplamente utilizado em campos como medicina e agricultura para curar, tratar e prevenir doenças, aumentar a produção e até ressuscitar animais extintos. Embora já esteja sendo testado em humanos, o uso da tecnologia para criar as primeiras crianças editadas geneticamente causou alvoroço internacional.
A retinite pigmentosa afeta cerca de 1 em cada 4.000 pessoas nos Estados Unidos e é conhecida como distrofia retiniana hereditária. A pesquisa apresenta um avanço significativo na luta contra essa e outras doenças genéticas, trazendo esperança para a possibilidade de uma cura no futuro.
Foto destaque: Rato de laboratório. Reprodução/EBC