Tensão global no setor automotivo: crise de chips gera incerteza e paralisações

Crise de Chips ameaça montadoras, disputa geopolítica com a Nexperia gera incerteza global e pressão por negociação imediata com a China

30 out, 2025
Chips semicondutores | Reprodução/NurPhoto/Getty Images Embed
Chips semicondutores | Reprodução/NurPhoto/Getty Images Embed

A indústria automobilística mundial enfrenta um novo e grave revés em sua já frágil cadeia de suprimentos. Uma escalada nas tensões geopolíticas, centrada na empresa holandesa de semicondutores Nexperia, acendeu um alerta vermelho entre as gigantes do setor. Com a proibição de exportações de componentes da Nexperia a partir da China, montadoras globais, como a Nissan e a Mercedes-Benz, correm contra o tempo para garantir estoques e explorar rotas de fornecimento alternativas.

A situação se tornou crítica após o governo holandês assumir o controle operacional da Nexperia, citando preocupações relativas à transferência de tecnologia para sua controladora chinesa, a Wingtech, um movimento que Washington classificou como um potencial risco à segurança nacional. Em retaliação, Pequim impôs a restrição de exportação, mergulhando o setor automotivo em um mar de incerteza.

Crise de semicondutores expõe vulnerabilidade das montadoras

A Nissan, uma das afetadas, admitiu estar em uma posição delicada. Guillaume Cartier, diretor de Desempenho da empresa, em declarações no Japan Mobility Show, afirmou que a montadora possuía suprimento garantido apenas “até a primeira semana de novembro”, um prazo apertado que sublinha a urgência do momento. Cartier ressaltou que, mesmo após aprenderem com a escassez da pandemia de Covid-19 e buscarem estocar componentes, as fabricantes permanecem reféns da saúde de seus fornecedores, especialmente os de escalões inferiores na complexa pirâmide de suprimentos. A dificuldade em mapear a disponibilidade de chips avança conforme se desce na cadeia, além dos fornecedores de “nível 1”.


Matéria sobre o governo da Holanda assumir o controle da fabricante Nexperia (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil)


Na prática, os impactos já são tangíveis. A Honda suspendeu a produção em uma de suas fábricas no México na terça-feira e já iniciou ajustes fabris nos Estados Unidos e Canadá. No Brasil, a preocupação é palpável: um funcionário do governo local advertiu que, se a crise persistir, algumas plantas fabris podem ser forçadas a interromper as operações em um horizonte de duas a três semanas.

Os semicondutores da Nexperia são cruciais para diversos componentes automotivos, e esta crise se soma aos desafios pré-existentes do setor, como tarifas americanas e restrições chinesas sobre terras raras.

Crise nas cadeias globais exige soluções diplomáticas

O CEO da Mercedes-Benz, Ola Källenius, confirmou que a busca por soluções está em pleno andamento: “É evidente que estamos vasculhando o mundo em busca de alternativas”, disse, embora a empresa alemã esteja “preparada” para o curto prazo. Källenius diferenciou claramente este cenário da última crise de chips, enfatizando que a nova ameaça possui raízes políticas e, portanto, demandará uma solução diplomática.

A vulnerabilidade das cadeias de suprimentos globais diante de atritos comerciais ficou mais uma vez exposta. Como pontuou Källenius, “em um carro moderno de alta tecnologia, você tem praticamente os cinco continentes dentro dele”. Especialistas avaliam que, embora paralisações e o uso de peças alternativas sejam medidas de curto prazo, a solução definitiva passará, inevitavelmente, por negociações diretas entre empresas e governos, especialmente com a China. Klaus Schmitz, sócio da consultoria Arthur D. Little, prevê que o impacto real ainda está por vir, mas aponta para uma “situação bastante crítica”.

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