Na Praia do Futuro, em Fortaleza, o governo estadual entrou em conflito com as empresas telefônicas.Do lado do serviço público cearense, há um projeto de usina que iria converter a água do mar em potável para o fornecimento à população, enquanto que do lado das operadoras de banda larga, aponta-se o risco da construção poder desligar a internet ao país inteiro.
O embate ocorre porque na Praia do Futuro, local escolhido para a construção da usina dessalinizadora, é o local onde se encontram os cabos submarinos de fibra ótica, que conectam Fortaleza (e o resto do Brasil) à Europa e aos Estados Unidos, devido à maior proximidade geográfica da capital cearense. São um total de 17 cabos, que se extendem por seis mil quilômetros no solo do mar.
Mapa mostra a centralidade de Fortaleza no tráfego da internet. (Foto:Reprodução/submarinecablemap.com)
Recomendação das operadoras
“O Ceará, em especial a cidade de Fortaleza, é que garante a interconexão do Brasil com o resto do mundo“, afirmou nesta quarta-feira (27) o ministro das Comunicações, Juscelino Filho.
É frase que corrobora a análise da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) de que esses cabos são responsáveis por 99% do tráfego de dados, e que o rompimento deles poderia deixar o país inteiro offline ou com a conexão muito lenta. Por isso, a agência emitiu uma recomendação contra a instalação do projeto.
Com isso, a usina pode teve seu projeto paralisado, e as previsões iniciais de que a dessalinizadora ficaria pronta em 2025 agora conta com estimativa mínima de seis meses de atraso.
“A obra pode gerar apagão de internet no país porque não está se colocando uma usina onde tem um cabo, mas onde tem um hub todo!” afirmou também Luiz Henrique Barbosa, presidente executivo da TelComp, entidade que representa as operadoras e data centers nacionais. “Hoje, ninguém pensa em chegar com internet no Brasil por outro caminho que não seja o de Fortaleza.“
Usina de dessalinização, agora com atrasos, deve ficar pronta em 2026. (Foto:Reprodução/Cacege)
Ajustes no projeto
A construção liderada pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) deveria ampliar em 12% a oferta de água na região da Grande Fortaleza, e teve investimento previsto da ordem de R$ 3,2 bilhões.
Com os riscos apresentados pelas operadoras, foram necessárias por parte do governo certas mudanças ao projeto, como a ampliação da distância entre a infraestrura e os cabos de 40 para 500 metros, evitando os riscos de danificação.
“A nosso ver, isso está totalmente resolvido, não vamos trazer nenhum risco, buscamos a conciliação,” afirmou Neuri Freitas, diretor-presidente da companhia responsável. “A gente acha que não há esse risco já que no continente todos os cabos cruzam com alguma estrutura, como rede de gás, de energia e diversas outras estruturas.”
No total, as alterações custaram “na ordem de R$ 35 a 40 milhões“, segundo nota da empresa, e não deve mais apresentar riscos aos cabos submarinos localizados na Praia do Futuro.
Foto Destaque: Cabos submarinos são responsáveis por 99% da internet no Brasil. Reprodução/ABL Group