Cuca faz discurso sobre condenação na Suíça

Markus Gallo Por Markus Gallo
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Foto destaque: Cuca é o novo técnico do Athletico (Reprodução/Rede Furacão)

No último domingo (10), depois da vitória por 6 a 0 sobre o Londrina pela Campeonato Paranaense, o novo técnico da equipe, Cuca, fez um pronunciamento sobre o caso de coação e ato sexual com menor ocorrido na Suíça em 1987. Cuca foi condenado a 15 meses de prisão em 1989, pena que nunca cumpriu. O caso foi anulado em janeiro desse ano.


Foto: Pronunciamento marcou a estreia de Cuca (Reprodução/RPC)

Cuca abriu o pronunciamento afirmando que estava nervoso e que, “para não correr o risco de errar”, iria ler o que havia escrito previamente. Também afirmou que tomou a decisão de falar sobre o caso após conversar com sua esposa e filhas. “Escrevi esse texto com a ajuda delas”, disse o treinador. “Por elas e por todas eu escrevi e não quero errar”.

No discurso, Cuca fala sobre as mudanças no mundo do futebol e a cobrança sobre o chamado “Escândalo de Berna”. Vale lembrar que a condenação foi parcialmente esquecida depois de 1989 e apenas interferiu diretamente na sua carreira em 2023, quando o treinador pediu demissão do Corinthians após seis dias como técnico da equipe.

Sem quase nada falar sobre o ocorrido, Cuca dedicou a maior parte da fala para condenar a violência contra a mulher, além de afirmar que espera ver o mundo “um lugar mais seguro para as mulheres”. “Quero e me comprometo a fazer parte da transformação”, afirmou ele.

Eu enxergava os problemas, mas me calei porque a sociedade permitia que eu, como homem, me calasse. Hoje entendo que o silêncio soa como covardia.

Cuca em entrevista coletiva

Entenda o “Escândalo de Berna”

Em 28 de julho de 1987, durante uma excursão do Grêmio à Suíça, quatro jogadores do clube foram acusados de estuprar uma garota de 13 anos. Os jogadores Alexi Stival (Cuca), Henrique Etges, Fernando Gaúcho e Eduardo Hamester foram acusados de violentar a menor Sandra Pfäffli.

De acordo com a vítima, ela e mais dois amigos foram ao quarto de hotel onde se encontravam os jogadores para receber autógrafos. Os brasileiros teriam expulsado os amigos da garota e abusado sexualmente dela. Os quatro atletas foram presos no dia 30 de julho e soltos 28 dias depois, após pagamento de fiança.


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Foto: Henrique, Fernando, Eduardo e Cuca (Reprodução/Placar)

Em 1989, o julgamento foi concluído. Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados por ato sexual com menor e por coação, resultando em pena de 15 meses de prisão e pagamento de 8 mil dólares de multa. Fernando foi condenado apenas por coação, com três meses de prisão. De acordo com a legislação suíça, o crime de estupro ocorre apenas com o coito, a penetração. Já a coação seria o uso de violência física ou ameaça para fazer com que a vítima tolere atos sexuais. De acordo com a lei brasileira, ambas as práticas são consideradas estupro.

Narrativas e evidências

Os jogadores gremistas sempre negaram as acusações. Contudo, considerando diferentes entrevistas, matérias e o conteúdo do processo judicial, é possível notar a mudança de narrativa sobre o ocorrido. Cuca, por exemplo, afirmou em 2023 que não havia sido reconhecido pela vítima. Porém, no mesmo ano, o advogado da menor, Willi Egloff, afirmou que os quatro condenados foram reconhecidos dentre 17 atletas analisados.

Barbara Studer, diretora dos Arquivos do Estado do Cantão de Berna, capital da Suíça, afirma que, além de ter sido reconhecido, o sêmen de Alexi Stival, o Cuca, foi aferido por meio de exame de DNA. O processo está sob sigilo de 110 anos, porém Barbara permitiu que O Globo tivesse acesso a uma das páginas, na qual é possível confirmar o nome dos quatro acusados.


Foto: Barbara Studer com o processo dos jogadores brasileiros (Reprodução/ge.globo)

Cacalo, o advogado do caso

O caso foi recentemente anulado após os advogados de Cuca alegarem “julgamento à revelia”. Isso porque nenhum dos quatro atletas esteve presente no julgamento sumário, em Berna em 1989. Contudo, durante todo o processo, o Grêmio garantiu que o advogado Luiz Carlos Pereira Silveira Martins, mais conhecido como Cacalo, representasse a defesa dos jogadores.

Cacalo esteve no julgamento, assim como proferiu algumas declarações que destoam da narrativa de inocência proferida por Cuca. Ao jornal Zero Hora, Cacalo disse que “um dos jogadores manteve relação sexual completa, outro apenas sexo oral, enquanto um terceiro fez carícias e o quarto foi um “voyeur” conivente: apenas olhou”.  Ao Pioneiro, em 1987, Cuca disse: “Não fiz nada. Paguei 28 dias por ter visto”.

Já em 2023, Cacalo relembrou que a condenação foi considerada como uma vitória por parte da defesa. “Felizmente nós tivemos um resultado favorável, porque o pedido da Procuradoria foi uma pena muito maior. Eles foram condenados não por estupro”, disse o advogado à Folha de São Paulo. Ao Globo, Cacalo afirmou que houve ato sexual com a Sandra Pfäffli.

“Houve relação com a menina. Mas não houve estupro. Houve contato. E eles não foram condenados por estupro. Os elementos para a condenação foram: botaram uma menina para dentro do quarto. Um manteve relação, o outro não manteve, e a informação que obtive na época foi de que foi consensual. Mas depois a menina quis sair. E aí não saiu. Porque eu não sei”, disse o advogado.

Sandra Pfäffli faleuceu em 2002, aos 28 anos de idade. Não se sabe a causa da morte. Seu advogado na época, Willi Egloff, confirma que, pouco após o estupro coletivo, Sandra tentou suicídio.

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