A um pouco mais de uma semana do início dos Jogos Olímpicos em Paris, a quantidade de conquistas inéditas alcançadas pelo Brasil vem chamando atenção dos torcedores. O desempenho de atletas em esportes como o Badmínton deu destaque àqueles antes pouco conhecidos, além de nutrir expectativas para a próxima Olimpíada, que será sediada em Los Angeles, em 2028.
Ginástica Artística
A Arena Bercy, na França, está sendo palco de grandes conquistas para a Ginástica Artística feminina.
Medalha por equipes
Liderada por Jade Barbosa, Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Lorrane Oliveira e Júlia Soares, a equipe brasileira conquistou a primeira medalha da história na modalidade da competição por equipes, na qual é feita uma somatória das notas das atletas em todos os aparelhos: salto, solo, barras assimétricas e trave. Com 164.497 pontos, o Brasil conquistou o bronze, superando a equipe da Grã-Bretanha (164.263) e ficando atrás da Itália (165.494) e dos Estados Unidos (171.296).
Tal feito emocionou a nação, tendo em vista a trajetória de luta dos ginastas anteriores, como Daiane dos Santos, que apesar de ter se consagrado um símbolo no esporte, ao ser a primeira mulher negra do mundo a vencer o Mundial de Ginástica, a atleta não conquistou medalha nas Olimpíadas.
Rebeca Andrade
A ginasta tornou-se a brasileira com mais medalhas olímpicas e a primeira a conquistar quatro medalhas em uma mesma Olimpíada. Além do bronze por equipes, Rebeca conquistou duas medalhas de prata, na competição individual geral e na disputa de salto, e a tão almejada medalha de ouro, na disputa do solo na manhã desta segunda-feira (5). Rebeca atingiu a nota 14,166 e superou Simone Biles, que tirou 14,133.
Com isso, ela ultrapassou os maiores medalhistas olímpicos do Brasil, os velejadores Torben Grael e Robert Scheidt, que têm cinco medalhas cada, e tornou-se a maior medalhista da história no Brasil, com seis medalhas.
Na competição do individual geral, na quinta-feira (1), Rebeca foi superada apenas pela bicampeã olímpica Simone Biles, dos Estados Unidos. As duas ginastas protagonizaram uma verdadeira disputa de estrelas, com pontuações muito próximas. O desempenho de Rebeca nos quatro aparelhos somou a nota de 57.932, atrás de Biles, com 59.131, e seguida de Sunisa Lee, com 56.465.
Já na final do salto feminino, neste sábado (3), Rebeca mais uma vez dividiu o pódio com duas estadunidenses, Biles, com a medalha de outro, e Jade Carey, com a de bronze.
Atletismo
Lançamento de dardo
Na manhã desta terça-feira (6), Luiz Maurício da Silva avançou à final do lançamento de dardo em Paris em grande estilo. Dono do recorde sul-americano, o brasileiro se superou e aumentou o próprio recorde de 85m57 para 85m91.
Além disso, há 92 anos, o Brasil não competia uma final na modalidade. A última vez ocorreu somente em 1932, com Heitor Medina em Los Angeles.
Marcha Atlética
Na quinta-feira (1), Caio Bonfim, atleta de 33 anos, fez história ao conquistar a primeira medalha do país na modalidade. O experiente atleta alcançou a medalha de prata em uma corrida emocionante, em que brigou pelo ouro até o fim, tendo concluído com o tempo de 1h19m09s, a melhor marca de sua carreira. Com apenas 14s de vantagem, o equatoriano Brian Daniel Pintado ganhou o ouro, com o tempo de 1h18m55s.
Caio também é o primeiro brasileiro da história a estrear no pódio na 4° Olimpíada. Ele já havia participado dos Jogos de Londres, em 2012, quando ficou em 39º. No Rio, em 2016, esteve muito próximo com a 4° colocação. Já em Tóquio 2021, terminou em 13º.
Ginástica de Trampolim feminino
O Brasil obteve uma participação inédita na ginástica de trampolim feminina em Jogos Olímpicos. Na disputa pela vaga em Paris, que foi feita no Mundial de ginástica de trampolim, em Birmingham, pela primeira vez o Brasil avançou à final, com Alice Gomes e Camilla Gomes. Com o resultado do ranking final, apenas Camilla garantiu a vaga olímpica.
Já na classificação na Olimpíada, a ginasta, de 30 anos, ficou em 15º lugar, de 16 posições. Cada atleta tem a chance a duas apresentações, na primeira Camilla acabou sofrendo uma queda e pontuou 42.920. Na segunda, ela conseguiu melhorar a nota para 50.580, mas não alcançou o mínimo necessário de 54.500 pontos para avançar na classificação.
Ginástica de Trampolim masculino
Rayan Castro, de 22 anos, assegurou ao Brasil uma vaga nos Jogos Olímpicos de Paris, por meio da sua pontuação no ranking da Copa do Mundo da modalidade. É a primeira vez que o país tem participação na ginástica de trampolim. Anteriormente, apenas Rafael Andrade havia competido, no Rio 2016, cuja vaga, no entanto, foi assegurada pela utilização da cota de país-sede.
Rayan alcançou a melhor posição de um brasileiro em Olimpíadas, com o 12º lugar geral, mantendo a melhor pontuação na primeira série, com a nota 56.370. Apesar de não ter sido suficiente para estar entre os oito primeiros e avançar na classificatória, o atleta quebrou barreiras na modalidade em questão.
Salto em altura
Valdileia Martins classificou-se para a final do salto em altura feminino, no primeiro dia de atletismo da Olimpíada. A atleta atingiu a marca de 1,92 m e igualou o recorde brasileiro feminino estabelecido em 1989 por Orlane Maria dos Santos, Bogotá, na Colômbia.
Ao realizar o salto, Valdileia sentiu dores no tornozelo esquerdo e iniciou tratamento para entorse, segundo a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Infelizmente, o tempo para recuperação não foi suficiente para a competição da final, que aconteceu neste domingo (4). A atual recordista não conseguiu completar a tentativa do salto, ao sentir dores novamente.
Triatlo
Miguel Hidalgo estreou sua participação nas Olimpíadas já garantindo o melhor resultado da história do triatlo brasileiro. O atleta, de apenas 23 anos, garantiu o primeiro top 10 do Brasil, ao fechar o triatlo na décima colocação, com o tempo de 1h42m33s.
Miguel Hidalgo, do Time Brasil, competindo pelo triatlo (Foto: reprodução/Getty Images embed)
Miguel chegou a estar apenas 3 segundos do terceiro colocado, mas perdeu força nos metros finais. Convicto de ter entregado tudo de si, Miguel declarou confiança de que ainda conquistará uma medalha.
“Antes da prova eu falei que independentemente de ganhar ou não queria terminar no meu máximo. Foi o suficiente para ser o décimo. Tirei tudo do meu corpo hoje. Não tinha como diminuir um segundo. Sei que vou ganhar um dia. Espero que seja daqui a quatro anos“.
Tênis de mesa
Em um esporte dominado por chineses e europeus, Hugo Calderano, mesa-tenista brasileiro, fez história ao ser o primeiro latino a disputar uma semifinal olímpica na modalidade. Calderano chegou muito próximo de ser o primeiro medalhista das Américas, no entanto, foi derrotado na manhã deste domingo (4) na disputa pelo bronze. Mesmo abrindo vantagem em diversos momentos, Hugo acabou perdendo para o francês Felix Lebrun por 4 a 0.
O craque brasileiro iniciou abrindo a classificação com uma vitória sobre o espanhol Álvaro Robles, por 4 sets a 2, e avançou às oitavas de final. Em seguida, o adversário foi o francês Alexis Lebrun, vencido por 4 sets a 1. Chegando às quartas, Hugo encontrou o adversário sul-coreano Woojin Jang, o qual venceu por 4 sets a 0. Já na semi, na disputa inédita pela final do torneio individual do tênis de mesa masculino nas Olimpíadas, o atleta não conseguiu vencer Truls Moregard, mesa-tenista sueco.
Badmínton
Juliana Viana, piauiense de 19 anos, conquistou a primeira vitória de uma brasileira em Olimpíadas nesta modalidade.
Na Arena La Chapelle, Juliana perdeu a primeira rodada para a tailandesa Supanida Kathetong, por 2 sets a 0. Na segunda rodada, a atleta se recuperou e venceu Lo Sin Yan Happy, de Hong Kong, por 2 sets a 0, fazendo história no esporte.
Com classificação única por grupos na fase inicial, a atleta brasileira de badmínton precisava que Katethong perdesse por 2 sets a 0. Porém, Katethong seguiu vitoriosa contra Happy e avançou de fase no Grupo D. Juliana acabou sendo desclassificada.
Ciclismo BMX
Gustavo Bala Loka, como é conhecido, obteve a melhor nota registrada por um brasileiro nas modalidades de ciclismo nas Olimpíadas. No ciclismo BMX freestyle, os competidores têm direito a realizar duas apresentações, de 60 segundos cada, com manobras utilizando rampas e obstáculos. Apesar de ter feito as duas sem erros, Bala Loka se apresentou com um menor nível de dificuldade que os rivais, o que o levou a ficar em sexto lugar, com as notas 90.20 e 88.88, valendo a maior delas.
Em entrevista ao Sportv, Gustavo reconheceu o feito histórico e disse que o próximo passo é conseguir a medalha para o Brasil. O ouro ficou com o argentino Jose Torres Gil (94.82), primeira medalha sul-americana na categoria.
Natação
400 metros livres masculino
3min42s76 é o novo melhor tempo das Américas na história dos 400m livre. O novo recorde pan-americano foi atingido pelo brasileiro Guilherme Costa na disputa pela medalha em Paris. Cachorrão, como é conhecido, ficou a 26 centésimos de segundos do terceiro colocado e conquistou a quinta colocação.
Reação de Guilherme Costa após competição pelos 400m livres em Paris (Foto: reprodução/Getty Images embed)
O forte do nadador costuma ser crescer nos últimos 50 metros, e realmente chegou a estar na quarta posição, no entanto, “faltou alguma coisa“, segundo ele, e ficou em quinto por uma diferença mínima. “Faltou alguma coisa nos últimos 50 metros, que são meu ponto forte. (…) Acabei não conseguindo fechar da forma como eu sempre fecho. Só sei que não quero sentir isso nunca mais“, disse Cachorrão em entrevista à TV Globo. Confira o tempo dos nadadores:
- L. Maertens (Alemanha) – 3:41.78
- E. Winnington (Austrália) – 3:42.21
- W.M. Kim (Coreia do Sul) – 3:42.50
- S.Short (Austrália) – 3:42.64
- G. Costa (Brasil) – 3:42.76
1500 metros livres feminino
Beatriz Dizotti tornou-se a primeira brasileira a disputar uma final olímpica dos 1500 metros livres de natação. A nadadora conseguiu a sétima colocação nas eliminatórias, com o tempo de 16min05s40, sua quinta melhor marca.
Na decisão final, a brasileira novamente ficou em sétimo, apesar de ter completado a prova em menor tempo, 16min02s86, marca próxima ao recorde brasileiro, o qual é dela: 16min01s95. O ouro ficou com Katie Ledecky, nadadora dos Estados Unidos, com o recorde de 15min30s02, o melhor das Olimpíadas.
Com apenas 24 anos, Beatriz tornou-se um símbolo de superação, devido ao diagnóstico de tumor no ovário em 2022, dois anos após ter estreado nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Ela conseguiu evoluir no tratamento a tempo de competir no Mundial de Natação de Doha, onde conseguiu a vaga para Paris.
400 metros livres feminino
Em 76 anos, Mafê Costa é a primeira brasileira a alcançar a final nos 400 metros livres em Jogos Olímpicos. Tal conquista havia sido realizada somente em 1948, nos Jogos Olímpicos de Verão em Londres, pela nadadora Piedade Coutinho.
Mafê obteve a sétima colocação, com 4min03s53. Aos 21 anos, afirmou em entrevista à Globo que contiuará a busca pela medalha.
Tênis
Há nove Olimpíadas, o Brasil não vencia uma partida olímpica de tênis no simples. Bia Haddad Maia quebrou a barreira e tornou-se a primeira brasileira a vencer desde Gisele Miró, em Seul em 1988.
Bia Haddad, principal nome do tênis brasileiro, derrotou a russa Varvara Gracheva por 2 sets a 1. Na rodada seguinte, acabou perdendo para a eslovaca Anna Schmiedlova por 2 sets a 0 e deu adeus à competição.
Judô
O Time Brasil conquistou a primeira medalha na modalidade do judô por equipes. Formada por Rafaela Silva, Bia Souza, Ketleyn Quadros, Larissa Pimenta, Daniel Cargnin, Willian Lima, Guilherme Schimidt, Rafael Macedo, Leonardo Gonçalves e Rafael Silva, a equipe levou a medalha de bronze. Em um embate sofrido, a vitória veio no desempate contra a equipe da Itália, por 4 a 3. A luta de Rafaela Silva e Veronica Toniolo foi decisiva e decidida no var, em que foi constatada a pontuação da brasileira com um waza-ari.
Medalha de bronze inédita na modalidade por equipes (Foto: reprodução/Getty Images embed)
Tal feito, juntamente ao ouro de Bia Souza, à prata de Willian Lima e ao bronze de Larissa Pimentel, consagraram o Brasil como o quinto melhor país do mundo no judô, com 28 medalhas e atrás somente dos países Japão, França, Coreia do Sul e Cuba.
Além disso, o judoca Rafael Silva, de 37 anos, é o mais velho da história a ir ao pódio, superando o alemão Arthur Schnabel, que subiu com 36 anos em 1984.
Skate
A mais jovem atleta do mundo a conquistar medalhas em edições diferentes de Jogos Olímpicos é brasileira, do Maranhão. Aos 16 anos e seis meses, Rayssa Leal bateu a marca que perdurava há quase um século, desde 1932, da nadadora americana Dorothy Poynton-Hill, que conseguiu as duas medalhas com 17 anos.
A Fadinha, como é conhecida, já subiu ao pódio na estreia olímpica em Tóquio, em 2020, quando conquistou a medalha de prata aos 13 anos. Já nos Jogos de Paris, a skatista foi medalha de bronze, com a nota 253,37.
Surfe
Esta segunda-feira (6) ficará marcada para a modalidade do surfe brasileiro. Disputado em Teahupo’o, pela primeira vez na história o Brasil consegue duas medalhas na modalidade. Tatiana Weston-Webb garantiu a primeira medalha olímpica do surfe feminino brasileiro.
Melhores momentos da conquista da medalha de prata de Tatiana Weston-Webb (Vídeo: reprodução/YouTube/ge)
Gabriel Medina também subiu ao pódio com a medalha de bronze. Grande promessa de ouro, o surfista acabou enfrentando um mar com poucas ondas, e não pôde entregar todo o potencial.
O desempenho do time brasileiro vem garantindo resultados nunca vistos na história, o que, de um certo ponto de vista, é tão empolgante e digno de reconhecimento quanto ganhar o ouro. Diante de um vasto território e população, a existência de tantos potenciais trazem à tona a questão social e de valorização do esporte no país.
Foto destaque: Rebeca Andrade (Reprodução/@wander_imagem | Wander Roberto/COB) e Rayssa Leal (Reprodução/Julian Finney/Getty Images embed)