Crise no São Paulo: Casares assume erros, antecipa mudanças e projeta reconstrução para 2026
Presidente fala após goleada histórica, comenta saída de dirigentes, reforça apoio da diretoria e garante que reestruturação já estava planejada
O São Paulo vive um de seus momentos mais turbulentos dos últimos anos após a derrota por 6 a 0 para o Fluminense, no Maracanã, pela 36ª rodada do Campeonato Brasileiro. Abalado pelo resultado e pressionado interna e externamente, o presidente Julio Casares concedeu entrevista coletiva nesta sexta-feira e admitiu falhas no planejamento da temporada, além de anunciar mudanças profundas no departamento de futebol. A goleada precipitou a saída do diretor de futebol, Carlos Belmonte, e dos adjuntos Nelson Marques Ferreira e Fernando Bracalle Ambrogi, abrindo espaço para uma reformulação que, segundo ele, já estava desenhada para ocorrer ao fim do ano.
Nos dois primeiros momentos da coletiva, o presidente adotou tom de responsabilidade compartilhada. Para Casares, a crise que tomou conta do clube não é fruto de decisões isoladas, mas sim de um conjunto de escolhas equivocadas. Ele destacou que, apesar da pressão por impeachment vinda de parte da oposição, recebeu apoio da coalizão que o sustenta politicamente e disse confiar na capacidade de entregar um balanço financeiro positivo, que serviria de base para um 2026 mais competitivo. “Me sinto parte integrante deste momento. A responsabilidade é coletiva. Do presidente, da diretoria, da comissão técnica e dos atletas”, afirmou.
Mudanças antecipadas e novo modelo de gestão
A derrota no Rio de Janeiro acelerou um processo de transição que, de acordo com Casares, aconteceria após o término do Brasileirão. A saída de Belmonte e dos demais membros da diretoria de futebol abriu espaço para que Rui Costa, executivo contratado anteriormente, assumisse a liderança do setor ao lado de Muricy Ramalho, que permanecerá como coordenador.
O presidente também explicou a participação crescente de Marcio Carlomagno, superintendente que ele define como “CEO” do clube. Segundo Casares, Carlomagno não assume o papel de diretor de futebol, mas estará presente para auxiliar na consolidação da profissionalização do clube, assim como já faz em outros departamentos. Ele reforçou que, com a nova estrutura, nenhum conselheiro atuará diretamente no futebol, que será comandado exclusivamente por profissionais contratados.
Visivelmente abalado com o momento, o presidente voltou a admitir frustrações. Disse que o clube viveu um “momento desastroso” diante do Fluminense e que não havia alternativa senão antecipar o processo de mudança estrutural. A ideia, segundo ele, é preparar o São Paulo para ter uma temporada mais sólida em 2026, corrigindo as falhas de gestão que se acumularam no ano atual.
Melhores momentos da goleada sofrida do tricolor paulista (Vídeo: reprodução/YouTube/geTV)
Crespo nos planos e repercussão de críticas internas
Durante a coletiva, Casares tratou da situação do técnico Hernán Crespo, considerado peça central no planejamento traçado para o futuro. O presidente afirmou acreditar na permanência do treinador, que participa das decisões voltadas para o próximo ano. A expectativa da diretoria é que Crespo continue no comando e ajude a implementar o novo ciclo.
Casares também respondeu sobre as declarações recentes de Luiz Gustavo, que expôs frustrações após a goleada. O presidente minimizou a fala do volante, dizendo que interpreta seu desabafo como reflexo do sentimento coletivo. Ele observou que o jogador não culpou indivíduos, mas destacou a necessidade de correções amplas. Em vários momentos, Casares ressaltou que o elenco enfrentou problemas sérios ao longo da temporada, como um número elevado de lesões — 15 ao total, o que, segundo ele, prejudicou substancialmente o nível de competitividade da equipe.
Outro ponto discutido foi a conversa realizada entre Rui Costa e Luiz Gustavo. Para Casares, a situação foi conduzida internamente e serviu para reforçar que o clube precisa encarar seus erros de forma conjunta, sem apontar culpados individuais. O presidente voltou a frisar que, apesar das críticas, mantém confiança na comissão técnica e nos profissionais responsáveis pela preparação física e médica.
Hérnan Crespo sendo anúnciado pelo Julio Cazares (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Ricardo Moreira)
Erros, temporada frustrante e papel do “CEO” no futuro
Ao falar sobre os erros cometidos, Casares evitou listar falhas específicas, mas reconheceu que delegou demais e que o planejamento esportivo não foi bem executado. Ele mencionou reforços que sofreram lesões graves e comprometeram a estratégia inicial, além de lamentar o impacto do calendário apertado, que dificultou ajustes ao longo do ano. Segundo o presidente, 2024 já havia sido difícil, e a goleada sofrida apenas acentuou um cenário que já exigia mudanças profundas.
Casares também voltou a comentar o papel de Marcio Carlomagno no processo de reestruturação. Ele afirmou que o superintendente possui sólida experiência em gestão e orçamento, atributos essenciais para o plano de médio prazo do clube. O presidente destacou que, em instituições associativas como o São Paulo, a capacidade de combinar gestão de pessoas com conhecimento técnico é fundamental — algo que, segundo ele, Carlomagno reúne.
Com a temporada chegando ao fim e o São Paulo acumulando decepções, Casares decidiu fazer um “mea culpa” público. Ele reconheceu que a equipe teve momentos de reação, mas ficou aquém das expectativas. Ainda assim, disse acreditar na união interna e garantiu que já conversa com dirigentes e profissionais para consolidar o novo caminho.
O São Paulo agora tenta se reorganizar antes de concluir o Brasileirão, ao mesmo tempo em que inicia, de forma antecipada, sua preparação para 2026. A crise escancarou falhas, mas também forçou decisões que, segundo a diretoria, serão fundamentais para um processo de reconstrução mais sólido. O futuro imediato continua repleto de questionamentos, mas o clube aposta que a reestruturação pode recolocar o time no caminho da competitividade.
