A estrutura do poder por trás das acusações de assédio na Caixa

Jardes Johnson Pessoa Por Jardes Johnson Pessoa
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Medo e desconfiança foram os principais motivos alegados pelas funcionárias para não denunciar o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães por assédio sexual.

Pedro Guimarães se demitiu do cargo após diversas denúncias. Durante três anos e meio, enquanto comandava o banco, sua gestão era classificada por ele mesmo como meritocrática, para promover aos principais cargos aqueles que se destacavam no trabalho.

Com apenas dois meses ocupando o cargo de presidente, Guimarães substituiu 105 dos 120 principais executivos do banco, entre vice-presidentes, diretores e superintendentes e se cercou de pessoas de sua confiança dos quais era cobrado fidelidade.


Pedro Guimarães circulando no Palácio do Planalto. (Foto: Reprodução/Cristiano Mariz/Agência O Globo)


Segundo relatos de vítimas, o assédio era também moral, pois o executivo criou uma espécie de pacto para saber quem era seu aliado em uma dinâmica de demonstração de poder. Quem o questionasse ou fosse contra seus interesses era rebaixado ou até demitido.

Quando o Ministério Público Federal iniciou uma investigação sigilosa sobre a conduta de Guimarães e depoimentos de vítimas vieram à tona através do site Metrópoles no fim de junho, aquelas quem estavam em silêncio finalmente o denunciaram.

As vítimas alegam que o próprio organograma da Caixa parecia proteger Guimarães, uma vez que o canal de denúncias é ligado à vice-presidência e a Corregedoria responde à presidência e não ao Conselho de Administração.

A Caixa admite ter recebido uma denúncia em maio e aberto uma investigação, até o momento sem resposta, mas nega que o organograma funcione para proteger o executivo. Daniella Marques, atual presidente, prometeu apuração rigorosa e afastou os auxiliares de Guimarães.

Muitas funcionárias ainda sentem medo de falar, temem não crescer profissionalmente ou serem transferidas, temem a falta de apoio. A maioria pede para não ser identificada.

“Ele foi muito esperto, colocou no poder apenas pessoas de sua extrema confiança, que abafavam os casos, faziam vista grossa e, em algumas situações, até participavam”.

Carolina Lacerda foi uma das poucas que decidiu mostrar o rosto. Funcionária da Caixa em licença não remunerada e morando no Canadá, ela confirma os relatos e a dificuldade em denunciar.

“Ninguém denunciava por medo de sofrer algum tipo de perseguição. Ninguém sabia se o canal de denúncias era confiável”.

Carolina lembra que ao trabalhar no mesmo andar da presidência, viu muitas vezes Guimarães tirar mulheres de suas mesas com o pretexto de tirar fotos.

“Ao se aproximar, ele colocava a mão bem na lateral do seio, algo estranho e desconcertante. A partir daí, ao escutar a voz dele no corredor, gargalhando ou falando bem alto, ia para o banheiro e esperava a comitiva dele passar para evitar novas fotos ou abraços constrangedores”.

Em uma carta aberta publicada em suas redes sociais, Pedro Guimarães negou todas as acusações. “É uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade”.


Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa, nega as acusações de assédio sexual. (Foto: Reprodução/EBC)


A Controladoria-Geral da União (CGU) está acompanhando a apuração das denúncias, mas diz que falta um detalhamento mais preciso do que configura assédio sexual no Código Penal, onde e determinado até dois anos de prisão para o crime, já a legislação trabalhista prevê demissão por justa causa.

Segundo um técnico do órgão, devido a dificuldade de comprovar a prática de assédio sexual, serão aplicadas provas indiciárias, adjacentes ao assédio em si, como o comportamento da vítima depois do ocorrido e o que dizem as pessoas próximas. A mudança na lei de improbidade administrativa, aprovada pelo Congresso em novembro de 2021, dificulta a penalização de detentores de cargos públicos. A CGU precisa enquadrar os infratores na lei 8.112/1990, que trata do regime dos servidores públicos, por uso do poder em proveito próprio.

De acordo com a CGU, foram 465 registros de abuso sexual desde 2015. Só entre 2019 e 2022, foram 378 denúncias.

Foto destaque: Mulheres protestam contra assédio em frente à sede da Caixa em Brasília. (Reprodução/Agência O Globo)

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