Liderança Indígena ganha prêmio nos EUA por mobilizar aldeia contra mineradora

Nathália Siqueira Por Nathália Siqueira
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A liderança indígena da região do Médio Tapajós, no oeste do Pará, Alessandra Munduruku, foi uma das ganhadoras do Prêmio Goldman de Meio Ambiente 2023. O prêmio é concedido anualmente desde 1989, à seis ativistas de diferentes regiões do globo: Américas, Ásia, Europa, África, Ilhas e Nações-Ilhas. Além de Alessandra, este ano os ganhadores foram: Chilekwa Mumba (da Zâmbia), Zafer Kizilkaya (Turquia), Tero Mustonen (Finlândia), Delima Silalahi (Indonésia) e Diane Wilson (Estados Unidos).

O principal motivo que levou a líder indígena a ganhar a premiação, se deve a mobilização que organizou, em 2021, a fim de evitar que a mineradora britânica de cobre, Anglo American, continuasse agindo no território indígena Sawré Muybu, no Pará. Na ocasião, ela contou com a ajuda de entidades, como a Articulação dos Povos Indígenas (Apib) e a ONG Amazon Watch.


Alessandra Munduruku, em sua terra natal, na região dos Tapajós, no Pará. (Reprodução/GOLDMAN ENVIRONMENTAL PRIZE via BBC)


A ação surtiu efeito, e a Anglo American, se comprometeu a retirar os 27 pedidos que havia realizado à Agência Nacional de Mineração (ANM), de extração em terras indígenas nos estados do Mato Grosso e Pará. “Quem tem direito ao território são sempre aqueles caras que usam gravata, assinam os papéis e têm a caneta — observou Alessandra. — Os não indígenas chegam fazendo um mapeamento e dizendo que a terra é deles, mesmo sabendo que não é. Só acreditam no papel deles, enquanto nós que vivemos lá há muito tempo não temos direito ao território. Sinto que os indígenas só têm direito a algo se não usarem roupa, não tiver acesso à internet nem educação.”

No mesmo ano da apelação contra a mineradora, Alessandra foi escolhida pelas 13 aldeias Munduruku do Médio Tapajós para ser coordenadora legítima da Associação que representa do povo Munduruku do Médio Tapajós-Pariri. “Tudo que faço na minha luta é feito com e para o coletivo. As lideranças Munduruku não agem individualmente nem buscam reconhecimento individual. Minha luta e minha voz fazem parte de processos coletivos de muita resistência, junto com os Caciques e outras lideranças que se levantaram pelos nossos direitos”, afirmou, ela.

Em 2018, Alessandra levou seu interesse em lutar por seu povo até uma universidade, a Ufopa, em Santarém, onde estuda direito. “Meu sonho é um dia poder defender os direitos do meu povo diante do Supremo Tribunal Federal”, conta, a ativista.

Alessandra afirma que seu desejo é voltar para as terras onde nasceu e cresceu, na Aldeia da Praia do Índio, onde poderá viver novamente com seus parentes. “Voltar é o que mais quero. Dá uma raiva de morar na cidade quando falta água, porque lá (na terra indígena) eu só preciso ir ao rio”, afirma.

 

Foto Destaque: Alessandra Munduruku, indígena que mobilizou sua aldeia contra mineradora, apresentou demandas pelos povos indígenas na COP26. (Reprodução/Alana Machineri/COIAB)

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