Após dois anos de atraso, o Censo 2022 começou há 29 dias. Diante disso, vários estados do Brasil vêm registrando um grande número de contratempos e ocorrências na coleta dos dados. Recenseadores estão relatando dificuldades para serem atendidos pelos moradores, tentativas de estupro, agressões verbais e físicas, roubos de equipamentos e bens pessoais, e atrasos no pagamento da remuneração são alguns dos problemas.
Recenseadores ouvidos pela Rede Amazônica reclamam sobre o atraso para receberem o pagamento pelos serviços prestados. Isso acontece porque muitos moradores estão se recusando a participar da coleta, seja por medo ou falta de informação.
“A partir do momento que eu finalizei esse setor, com cinco dias a gente receberia. E já tem vários colegas com mais de 12 dias úteis que já finalizaram seus respectivos setores, e ainda não receberam. E a gente se preocupa, porque nós temos família, e contas que não esperam para serem pagas”, disse uma recenseadora, que preferiu não se identificar.
O IBGE informou que todos os casos estão sendo verificados e que o procedimento está dentro dos prazos legais.
Recenseadores do Censo IBGE. (Foto:Governo Municipal de Uberaba)
Recenseadores de Fortaleza receberam, com atraso, o pagamento da remuneração. Francisco Lopes, chefe do IBGE no Ceará, explicou que o sistema de pagamento do órgão começou a receber informação de recenseadores de todo país, que fez com que houvesse uma sobrecarga de informações. Diante disso, dias depois, o problema foi resolvido e os recenseadores receberam a remuneração, segundo o IBGE, e os próprios profissionais confirmaram o pagamento.
“A gente recebe por produção e aí, quando a gente entre é destinado a um setor, que é determinado um número de quadras, e a gente tem que fazer aquela quadra toda. A gente só recebe depois que entregar o setor inteiro. Então, o fato de ter que ficar voltando em casas ausentes, ou, de repente, a pessoa não atender acaba atrasando tanto o Censo, quanto o pagamento”, diz Amanda de Assis Barbosa, recenseadora em Poá (SP), que também relatou problemas.
Em Bauru, interior de São Paulo, o aparelho usado pelo Censo foi roubado das mãos de um recenseador e o criminoso conseguiu fugir.
Em Rio Branco, no Acre, recenseadores foram vítimas de um assalto durante as visitas. As equipes já sofreram cinco assaltos desde o início dos trabalhos. Em nenhum dos casos houve agressão, segundo a coordenação. Dois Dispositivos Móveis de Coleta (DMC) foram levados durante o crime.
Segundo o IBGE, quando há furto ou roubo desses equipamentos, o aparelho é “rastreado, apagado e inutilizado, sem prejuízo do sigilo e garantindo aos informantes ou moradores. Sobre a segurança dos dados coletados, ela é garantida com o uso da criptografia, os dados gravados nos dispositivos móveis de coleta são criptografados”.
Em Rondônia, na zona rural do Vale do Anari, uma recenseadora foi vítima de uma tentativa de estupro e ameaçada de morte durante seu trabalho.
A mulher, de 28 anos, foi até a casa de um morador na Linha PA 18 e foi recebida pelo homem no quintal. Após preencher todas as respostas do formulário, a vítima foi até sua motoneta e deu partida no veículo para ir embora. O morador então apareceu com uma faca e começou a correr atrás dela.
O agressor chegou a alcançar a vítima pela mão, mas a mulher conseguiu jogar a faca para longe após reagir e entrar em combate corporal. A mulher afirma que conseguiu correr e entrar no pasto do terreno, mas foi alcançada pelo suspeito.
“Ele novamente me agarrou, com a faca na mão, e conseguiu me levar para dentro da residência, tentando forçar uma relação sexual. Ele ainda ameaçou dizendo da seguinte forma: ‘para de gritar senão eu te mato’”, diz o relato da recenseadora no boletim.
Dentro de casa, o acusado ainda tentou enforcar a vítima, mas ela conseguiu empurrar o homem com um dos pés e saiu correndo para pedir socorro. Ela foi ajudada por alguns moradores. O homem está foragido.
Foto destaque: Dispositivo Móvel de Coleta do Censo 2022. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil