Desde o início do ano, vários países europeus, como a Polônia, a Hungria e a Eslováquia, impuseram proibições sobre as importações de cereais ucranianos por questões econômicas. Na sexta-feira passada (15), a União Europeia (UE) anunciou que iria contestar essa proibição, e nesta quarta-feira (20), a Polônia respondeu, em meio à disputa, que então irá interromper o fornecimento de armas à Ucrânia na guerra contra a Rússia.
Tal disputa ocorre porque os grãos ucranianos estão tão baratos que podem concorrer com e ameaçar as produções nacionais – e os agricultores – de cada país. Proibir a importação por parte da Polônia, por exemplo, seria uma medida protecionista com fins de deixar a indústria nacional com menor concorrência e mais segura, sem ter de abaixar os preços, de modo precarizante, só para conseguir competir.
O que separa tal medida do cotidiano internacional é o contexto da guerra e invasão russa à Ucrânia, evento no qual voltar a importar do país o ajudaria em meio à crise histórica.
Estão ainda proibidas as importações de trigo, milho, canola, e sementes de girassóis ucranianos. (Foto:Reprodução/Jorge Adorno/Reuters)
União Europeia e a Polônia
Com isso, a decisão da UE foi a de seletivamente suspender tal proibição sobre a importação de commodities ucrânianas. Mas o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, logo afirmou a discordância.
“Prorrogaremos esta proibição apesar do desacordo com a União Europeia,” Morawiecki disse, e ainda nomeou os líderes do bloco europeu. “Não ouviremos Berlim, von der Leyen, Tusk ou Weber. Faremos isso porque é do interesse do agricultor polonês.”
Isso consequentemente levou a protestos ucraniânos, e até ações judiciais contra o país, mais a Hungria e a Eslováquia, que também se recusaram a suspender a proibição.
Enfim, a Polônia, próxima da Ucrânia, foi por grande tempo uma aliada contra a invasão russa, junta de vários outros países do antigo bloco Leste, mas nesta quarta-feira (20), menos de uma semana após essa disputa sobre importações, o primeiro-ministro polonês afirmou em redes sociais que, “Já não transferimos armas para a Ucrânia porque agora estamos armando a Polônia.”
Zelensky se pronuncia na assembleia geral da ONU. (Foto:Reprodução/Spencer Platt/Getty Images/AFP)
Resposta de Zelensky
Na assembleia geral da ONU, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, respondeu à crise que se desenvolveu a partir deste assunto.
“É alarmante ver como alguns na Europa, alguns dos nossos amigos na Europa, representam a solidariedade num teatro político — fazendo um thriller a partir dos grãos,” Zelensky disse, e adicionou que os países envolvidos, “podem parecer desempenhar o seu próprio papel, mas na verdade estão ajudando a preparar o cenário para uma ação moscovita”.
Em resposta, o Ministro dos Negócios Estrangeiros polonês, Pawel Jablonski, negou as afirmações do presidente ucraniano, ressaltando que a Polônia tinha “apoiado a Ucrânia desde os primeiros dias da guerra”.
No entanto, isso não refuta que a atual posição polonesa é uma quebra definitiva com essa aliança anterior. Segundo a agência estatal polonesa PAP, Morawiecki chegou a acusar “oligarcas ucranianos” de terem “empurrado os seus cereais para o mercado polonês” sem a preocupação com os agricultores locais, e ainda afirmou que a Polônia passará a se concentrar em fornecer “as armas mais modernas” para os seus próprios fins.
Foto Destaque: Instrutores poloneses e soldados ucranianos treinam em Swietoszow, na Polônia. Reprodução/Kacper Pempel/Reuters