SaferNet afirma que sete em cada dez notificações estão relacionadas a abuso e exploração sexual infantil
Organização recebeu 76.997 denúncias de crimes digitais, sendo 64% relacionadas a abuso e exploração sexual infantil, com o aumento de uso de IA e deepfake
Entre 1º de janeiro e 31 de julho de 2025, a SaferNet, organização que promove a defesa dos Direitos Humanos na internet no Brasil, recebeu 76.997 denúncias de crimes digitais, sendo 49.336 relacionadas a abuso e exploração sexual infantil. Além disso, o levantamento aponta um avanço preocupante no uso da IA generativa para criar e disseminar material sexual envolvendo crianças e adolescentes.
Esses aplicativos permitem gerar imagens hiper-realistas, e também fotos manipuladas e animações — os famosos “deepfakes” — com vozes e rostos de pessoas comuns, famosos e principalmente de menores.
Desse modo, conteúdos como esses circulam em redes sociais, aplicativos de mensagens e sites de pornografia com pouca moderação, expondo as vítimas a assédio, bullying e traumas. Por ser uma ferramenta online de fácil acesso e usada de forma mal-intencionada, é rapidamente disseminada, aumentando seu alcance. Muitos casos ocorrem em ambiente escolar, entre adolescentes.
Casos no Brasil
Segundo levantamento da SaferNet, quatro casos de deepfakes sexuais envolvendo estudantes foram registrados em escolas de São Paulo. Em território nacional, o estudo identificou ocorrências em 10 estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Minas Gerais.
Além disso, a ONG identificou que sites de pornografia e conteúdo adulto, devido a grandes falhas ou, às vezes, ausência de mecanismos que possam moderar com eficácia, acabam armazenando materiais de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes criados por ferramentas de inteligência artificial. Do mesmo modo, em agosto houve um aumento nas denúncias — mais de 6.278 novas denúncias. Metade delas após o vídeo do influenciador Felca, que aborda o assunto “adultização” e atingiu 46 milhões de visualizações. Após esse vídeo, ele também fomentou um aumento nas denúncias.
Advertência antiga da SaferNet
A SaferNet já havia sinalizado esse problema no Brasil em 2024. As denúncias levaram à descoberta de um grupo com 46 mil membros que vendia deepfakes de celebridades brasileiras por valores entre R$ 19,90 e R$ 25, mostrando que essa indústria estava em expansão e poderia se tornar um problema ainda maior com o avanço da tecnologia. Na ocasião, foram identificadas 95 denúncias com a palavra-chave “inteligência artificial” em sites que hospedavam material de abuso infantil entre 2024 e 2025.
Foto ilustrativa de jovem sofrendo com deepfake (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Yuliya Taba)
Para Juliana Cunha, diretora da SaferNet responsável pela pesquisa, trata-se de um fenômeno recente e em rápida crescente. Esses números representam somente a ponta do iceberg; possivelmente ainda há muitas vítimas fora do radar das autoridades. A criação e divulgação desses conteúdos configuram crime previsto no Código Penal (art. 6°, II), com possibilidade de responsabilização civil e criminal. Seguem as investigações dos casos citados e, possivelmente, o quanto antes, os responsáveis serão presos e irão responder na Justiça pelos crimes cometidos.




