Câmara dos Deputados aprova projeto que dificulta aborto legal no caso de crianças vítimas de estupro

Nesta quarta-feira (5), na Câmara dos Deputados, reuniram-se os deputados para discutir um projeto que suspende uma resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) sobre o direito de menores ao aborto legal. Com a votação unânime por parte do partido do PL, e com apoio de partidos do centrão, o projeto foi aprovado e suspendeu a antiga resolução.

O PL orientou seus deputados a votar a favor da proposta e registrou 74 votos favoráveis, a totalidade dos deputados do partido na Câmara, dos 317 votos a favor. Já o PT teve 60 deputados votando contra e somente dois deputados do partido que votaram a favor: o deputado Marcon (RS) e Valmir Assunção (BA), dos 111 votos dos deputados contra. Tivemos uma abstenção do deputado AJ Albuquerque, do partido PP, do estado do Ceará. Ausentes foram 83 deputados na sessão.

O que significa essa suspensão pela câmara dos deputados

Ao suspender a resolução do Conanda, o projeto dificulta o acesso de crianças e adolescentes ao aborto legal. Atualmente, a legislação brasileira permite o procedimento do aborto em três casos: gravidez decorrente de violência sexual, risco de vida para a gestante e quando o feto é anencéfalo.


Deputados falando sobre a resolução (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)


Com a suspensão votada pelos deputados, a resolução deixaria de valer, mas isso não muda a lei do aborto no Brasil. O que muda é a organização e a garantia do atendimento que essa norma regulamentava. O que deixaria de existir é o protocolo específico de proteção a menores, que hoje é definido pela resolução do Conanda, sobre como o Estado deveria agir nesses casos com crianças e adolescentes envolvidos. O aborto continua valendo nos casos de gravidez decorrente de violência sexual, risco de vida para a gestante e quando o feto é anencéfalo.

Como os partidos votaram 

Os partidos que votaram a favor do projeto da suspensão do protocolo do Conanda foram todos os 74 deputados do PL. Também votaram a favor todos os deputados presentes do PSD (39 votos), do partido Podemos (15 votos), PRD (3 votos), Novo (4 votos) e Cidadania (1 voto). Já alguns dos outros partidos tiveram uma certa divisão de votos. A maioria dos deputados presentes do União Brasil votou a favor, com 46 votos e 4 contra. Do PP, 38 deputados votaram a favor e 9 contra. Os Republicanos tiveram 38 votos a favor e 1 contra. Do MDB, 32 votos a favor e 1 contra. Do PSDB, 9 a favor e 2 contra. O Avante teve 5 votos a favor e 2 contra. Já no PDT, os votos foram acirrados, mas a maioria votou a favor, com 4 votos e 3 contra, e o Solidariedade também foi muito próximo, com 2 votos a favor e 1 contra.

Já os partidos que votaram contra o projeto em maioria foram: deputados presentes do PT, com 60 votos contra e 2 votos a favor, dos deputados Marcon (RS) e Valmir Assunção (BA). Além disso, todos os deputados do PSOL (13 votos), PCdoB (9 votos) e Rede (2 votos) foram contra a suspensão. A maioria dos deputados presentes do PSB votou 9 contra e 4 a favor, e do PV, 3 votos contra e 1 a favor. Agora, o PDL 3/2025 será enviado ao Senado Federal para votação. No Senado, há três possibilidades de continuidade: aprovado o PDL pelo Senado como está, suspende-se a Resolução 258/2024 do Conanda; se o Senado rejeitar, a resolução continuará em vigor; e os senadores também podem fazer novas emendas ou alterações no texto, que retornariam à Câmara, exigindo uma nova apreciação.

Argentina: manifestantes pedem o fim da legalização do aborto

Neste sábado (29), manifestantes tomaram as ruas para exigir a criminalização do aborto na Argentina. O procedimento foi legalizado no país em 2020, há menos de quatro anos.

Com cartazes e símbolos, os participantes expressaram sua oposição à prática. Um deles segurava um cartaz com a mensagem “Ilegal, inseguro e caro”, enquanto outro exibia a imagem de médicos acompanhada da frase “Você estudou para curar, não caia na armadilha do aborto”. Além disso, muitos agitavam lenços azul-claro, símbolo do movimento antiaborto na América Latina.

A legalização do aborto na Argentina

A lei que legalizou o aborto foi sancionada em dezembro de 2020 pelo governo anterior, mas entrou em vigor somente no ano seguinte. Com a nova legislação, as mulheres podem interromper a gestação até a 14ª semana sem precisar justificar a decisão. O texto também garante o direito ao aborto em casos de estupro ou quando a gravidez representa risco à vida ou à saúde da gestante.


Rocío Bonacci, deputada argentina que assinou um projeto para revogar a Interrupção Voluntária da Gravidez (Foto: reprodução/CNN Brasil)

Projeto de lei para anular a legalização do aborto

Em 2024, deputados do partido do atual presidente, Javier Milei, encaminharam ao Congresso um projeto de lei visando revogar a legalização do aborto. O conteúdo enviado propunha o fim da interrupção voluntária da gestação e a prisão das mulheres que optassem por abortar. O texto sugeria que a pena para essas mulheres fosse de um a três anos de prisão, mas afirmava que, dependendo das circunstâncias, o Judiciário poderia decidir pela liberação das gestantes, levando em consideração os motivos que as levaram a interromper a gravidez.

Além disso, o documento propunha a prisão de indivíduos que realizassem abortos, mesmo com o consentimento da gestante. Esses profissionais poderiam enfrentar penas de um a quatro anos de prisão, com a possibilidade de aumento para até seis anos caso houvesse a morte da mulher. Médicos, cirurgiões, parteiras ou farmacêuticos que utilizassem seu conhecimento ou habilidades para realizar o aborto ou auxiliassem na prática ficariam proibidos de exercer suas funções, com a pena de prisão dobrada.

O projeto, assinado pela deputada Rocío Bonacci e apoiado por outros legisladores, busca descriminalizar o aborto apenas em casos onde haja ““evitar um perigo iminente para a vida da mãe, desde que o perigo não possa ser evitado por outros meios”.

O partido do atual presidente também retirou o financiamento para educação sexual, contracepção e pílulas abortivas. Segundo ele, as políticas relacionadas aos direitos reprodutivos eram “ridículas”, considerando a queda na taxa de natalidade nos países ocidentais.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, entre 5% e 13% das mortes maternas globalmente são causadas por abortos inseguros, e três em cada quatro abortos na América Latina acontecem de maneira insegura.

Kamala Harris promete acabar com proibições extremas ao aborto

Após Joe Biden se retirar da campanha de reeleição para a presidência dos Estados Unidos da América, Kamala Harris, sua vice-presidente, tem liderado a nomeação do partido democrata. Nesta terça-feira (23), em comício no estado de Wisconsin, Kamala fez duras críticas ao governo de Trump em relação às políticas voltadas para o aborto, dizendo: “E nós, que acreditamos na liberdade reprodutiva, impediremos as proibições extremas do aborto impostas por Donald Trump, porque confiamos que as mulheres tomarão decisões sobre o seu próprio corpo e não deixaremos que o seu governo lhes diga o que fazer. E quando o Congresso aprovar uma lei para restaurar as liberdades reprodutivas como presidente dos Estados Unidos, vou sancioná-la”.


Kamala Harris discursa em Wisconsin nesta terça-feira (23) (Foto: REUTERS/Vincent Alban)

Em outro momento do discurso, Kamala Harris voltou a mencionar Donald Trump, com quem provavelmente disputará as eleições no dia 05 de novembro, quando disse: “Predadores que abusavam de mulheres, fraudadores que roubavam consumidores, trapaceiros que quebravam as regras para seu próprio ganho. Então, ouça-me quando digo: eu conheço o tipo de Donald Trump. E nesta campanha, eu prometo a vocês: orgulhosamente colocarei meu histórico contra o dele em qualquer dia da semana”.

Nomeação democrata e arrecadação

Em discurso no comício de Wisconsin, Kamalla Harris disse que recebeu o apoio de delegados suficientes para a sua nomeação. “Estou muito honrada e prometo a vocês que passarei as próximas semanas continuando a unir nosso partido para que estejamos prontos para vencer em novembro”, comentou.

Além disso, a campanha presidencial de Harris anunciou que arrecadou cerca de US$ 81 milhões nas primeiras 24h em que anunciou que buscaria a nomeação de seu partido. A vice-presidente comentou o feito histórico em seu discurso: “Estamos realizando uma campanha movida pelas pessoas. E acabamos de receber algumas notícias de última hora, acabamos de ter as melhores 24 horas de arrecadação de fundos de base na história da campanha presidencial e porque somos uma campanha movida pelo povo, é assim que você sabe que seremos uma presidência que prioriza o povo”.

Biden desiste de concorrer à presidência

Em carta publicada no último domingo (21), Joe Biden anunciou que abandonou a corrida presidencial. A decisão vem depois de longas semanas em que o presidente atual teve sua capacidade física e intelectual postas em cheque. “Tem sido a maior honra da minha vida servir como seu Presidente. E, embora minha intenção tenha sido buscar a reeleição, acredito que é do melhor interesse do meu partido e do país que eu me retire e me concentre exclusivamente em cumprir meus deveres como Presidente pelo restante do meu mandato”, disse na carta.


Joe Biden desiste de concorrer à presidência (Foto: Reprodução/x/@potus)

Com a decisão, Kamala Harris se tornou o principal nome para substituir Biden como candidato do Partido Democrata.