Bolsonaro teria apresentado documento com decreto golpista, segundo ex-comandante do Exército

Nesta sexta-feira (15), foram divulgadas as últimas informações sobre o depoimento do ex-comandante Marco Antônio Freire Gomes à Polícia Federal, em que ele confirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria lhe apresentado – e também a outros comandantes do Exército – um rascunho de decreto para instaurar um estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral.

O depoimento ocorreu no dia 1º de março, com a condição de testemunha, e durou aproximadamente 7 horas. De acordo com o relato de Freire Gomes, o documento foi apresentado por Bolsonaro às Forças Armadas em uma reunião no Palácio da Alvorada em dezembro de 2022, e se assemelhava à minuta descoberta pela PF durante as investigações.

No documento ficava explícito como objetivo a criação de uma “Comissão de Regularidade Eleitoral“, que serviria para que os militares pudessem “garantir a preservação ou o pronto restabelecimento da lisura e correção do processo eleitoral“.


Ex-comandante da Aeronáutica, Baptista Junior (Foto: reprodução/Agência Brasil/Marcelo Camargo/O Globo)

Freire Gomes

Filipe Martins (ex-assessor de Bolsonaro) leu o referido conteúdo aos presentes e depois se retirou do local, ficando apenas os militares, o então ministro da Defesa e o então Presidente da República, Jair Bolsonaro,” afirmou o ex-comandante Freire Gomes.

O caso do documento se desenvolveu, além desta reunião, em outras duas. No dia 14 de dezembro de 2022, foi apresentada uma outra versão do decreto, novamente no Palácio da Alvorada, com algumas edições no decreto. Em outra data não especificada, houve uma terceira reunião em que “o então presidente Jair Bolsonaro apresentou uma versão do documento com a decretação do estado de defesa e a criação da comissão de regularidade eleitoral para ‘apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral‘.”

Nesta última reunião, em que também estava presente o ex-comandante da Aeronáutica, Baptista Junior, os dois “afirmaram de forma contundente suas posições contrárias ao conteúdo exposto” e disseram que Bolsonaro “não teria suporte jurídico para tomar qualquer atitude.” A recusa de participar na ruptura constitucional foi confirmada por diferentes testemunhas, e poderá contribuir para o avanço nas investigações.

Tempus Veritatis

Desde o começo de fevereiro, a operação Tempus Veritatis tem, em colaboração com a Polícia Federal, utilizado prisões preventivas, confisco de passaportes, e coleta de depoimentos para investigar o caso das eleições de 2022, em que Bolsonaro poderia ter planejado um golpe de estado.

No dia 25 de fevereiro na Avenida Paulista, o ex-presidente chegou a reclamar que seus decretos estariam dentro dos limites constitucionais, e portanto não tratariam de golpe em si. Mas o testemunho do ex-comandante agora parece desmentir isso, uma vez que nas reuniões foram apresentadas como hipóteses algumas medidas inconstitucionais, e que passavam por cima do Tribunal Superior Eleitoral.

Após apresentar a possibilidade de realizar um golpe de Estado caso derrotado nas urnas por Lula, Freire Gomes chegou até a ameaçar prender Jair Bolsonaro, em evento que foi corroborado por Baptista Junior. Esta nova evidência pode acelerar as investigações, que tendem a incriminar o ex-presidente.

Bolsonaro pede anistia aos presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro

Durante ato na paulista, em manifestação convocada pelo mesmo, o ex-presidente negou a tentativa de golpe e defendeu seus apoiadores que foram presos.


Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em ato na Avenida Paulista, em São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão / Estadão

Durante o ato, que ocupou cerca de sete quarteirões na avenida paulista neste domingo, o ex-presidente Jair Bolsonaro defendeu a anistia aos presos após atos golpistas no dia 8 de janeiro.

Pedido de anistia

“O que eu busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado. É buscar maneira de nós vivermos em paz. É não continuarmos sobressaltados. É por parte do Parlamento brasileiro (…) uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos. A conciliação. Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridades no Brasil. Agora nós pedimos a todos 513 deputados, 81 senadores, um projeto de anistia para seja feita justiça em nosso Brasil”, disse o ex-presidente.

Os apoiadores do ex-presidente começaram a chegar pela manhã e os discursos tiveram início por volta das 14h30. Bolsonaro chegou por volta das 15h, acompanhado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nesse horário, segundo um levantamento de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), reunia cerca de 185 mil pessoas – o máximo da manifestação.

Em seu discurso, Bolsonaro negou ter tentado dar um golpe de estado. O ex-presidente, ex-ministro, assessores e militares são alvos de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga essa tentativa de golpe.

Personalidades presentes

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) tomé estava presente, mas não discursou. Além de Bolsonaro, discursaram o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto; a ex-primeira-dama, Michelle; o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o pastor Silas Malafaia e parlamentares apoiadores do ex-presidente.

Os discursos em geral foram em defesa do ex-presidente e seu governo. Valdemar disse que os dois estão proibidos de se encontrar por serem ambos investigados pela tentativa de golpe. O presidente do PL falou que, graças aos eleitores de Bolsonaro, a legenda se tornou o maior partido do Brasil”.

Defesa de Bolsonaro alega que ele não confessou ter conhecimento de minuta do golpe

A defesa de Bolsonaro argumentou que existe uma confusão na sequência temporal em relação à minuta do golpe e afirma que ele não admitiu. Para a Polícia Federal, o ex-presidente reconheceu ter conhecimento da existência do documento descoberto na residência de Anderson Torres, que propunha a imposição do Estado de sítio.

Confusão na ordem cronológica

Fontes ligadas à defesa de Jair Bolsonaro alegam que está havendo uma confusão cronológica e que o ex-presidente não confessou ter ciência de uma minuta de golpe durante seu mandato no evento realizado na Avenida Paulista.

A Polícia Federal planeja incluir partes do discurso de Bolsonaro sobre uma minuta encontrada na casa de Anderson Torres no inquérito. De acordo com investigadores, devido ao discurso deste domingo do ex-presidente, ele teria reconhecido que tinha conhecimento do documento.

Bolsonaro disse que o suposto golpe foi reconhecido por meio de uma minuta de um decreto de estado de defesa, e perguntou se golpe utiliza a Constituição. Ele se recusou a prestar depoimento na PF por não ter acesso a todo o inquérito


Bolsonaro e Michelle na Avenida Paulista (Foto: reprodução/Nelson Almeida)

Conforme fontes da defesa, Bolsonaro só teve conhecimento e leu as chamadas minutas golpistas após seu governo, sendo que o único texto que recebeu foi descoberto pela PF no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordem.

Uma captura de tela dessa minuta, que acabou sendo divulgada pela mídia, foi enviada pelo Whatsapp a Bolsonaro em 18 de outubro de 2023 por seus advogados e encontrada em seu escritório no PL em uma recente operação de busca e apreensão da PF. Uma fonte da defesa do ex-presidente disse que toda essa operação ocorreu muito tempo após Bolsonaro deixar o governo.

Veja o que Bolsonaro disse na Paulista

No evento na Paulista, entretanto, Bolsonaro afirma que não deu continuidade às etapas previstas na minuta. “Deixo claro que Estado de sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da defesa. Isso foi feito? Não”, disse o ex-presidente.

Em conversas privadas, aliados políticos de Bolsonaro defendem a tese de que o ex-presidente pode até ter recebido sugestões de minutas de Estado de sítio, mas que não as implementou. Além da minuta de Anderson Torres, Cid afirmou em sua delação que Bolsonaro recebeu de Felipe Martins, também seu assessor, outra minuta, que previa a detenção de ministros do STF, e que teria solicitado alterações. Martins nega a existência desse documento, que não foi encontrado.

Exército prepara celas para possível prisão de Bolsonaro e militares 

À pedido do Supremo Tribunal Federal (STF), as Forças Armadas do Exército preparam novas celas no Quartel General (QG), em Brasília, para a eventual prisão do ex-presidente Bolsonaro e militares que prestarão depoimento nesta quinta-feira (22) à Polícia Federal. 

De acordo com a revista Veja, uma fonte do Exército confirmou que uma espécie de alojamento localizado no Comando Militar do Planalto, dentro do QG em Brasília, está recebendo melhorias para a possível prisão de generais do alto comando que estão sendo investigados pela PF por tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

“A gente precisa se preparar. Pela antiguidade da pessoa presa, é preciso que a gente tenha uma estrutura melhor, até porque sofremos inspeção do STF, logo após as prisões”, disse a fonte à revista Veja.

Quem prestará depoimento nesta quinta-feira

Ao todo 23 investigados terão que se apresentar à Polícia Federal nesta quinta-feira (22), desses, 13 prestarão depoimento na sede da PF em Brasília. Vale ressaltar que todos os investigados depõem simultaneamente às 14h30, no horário de Brasília. 


Jair Bolsonaro prestará depoimento à PF nesta quinta-feira (22). (Foto: Reprodução/Sergio Lima/AFP)

Entre esses, Jair Bolsonaro é um dos investigados que terá que falar à PF, no entanto, de acordo com a defesa, o ex-presidente ficará em silêncio durante todo o depoimento. Além dele, também compõe a lista de investigados que terão que prestar esclarecimentos à PF: Paulo Sérgio Nogueira, ex-comandante do Exército durante o governo Bolsonaro, o general Augusto Heleno, ex-chefe do GSI, Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha e o general Walter Braga Netto, ex- ministro da Casa Civil,  da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022. 

A investigação

De acordo com as apurações da Polícia Federal, o núcleo em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro organizava e projetava a disseminação de uma possível fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo do pleito, atuando assim, como uma organização criminosa que tentou viabilizar e legitimar a tomada do Estado Democrático de Direito. 

Além disso, as investigações também afirmam a existência de pelo menos três planos planejados pelos golpistas  contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes. 

Em entrevista ao Globo, Moraes revelou que, segundo as investigações, os planos planejados contra ele foram desde a pretensão de que as Forças Especiais do Exército o prenderiam e o levariam para Goiânia, até o seu enforcamento na Praça dos Três Poderes.

Alexandre de Moraes nega pedido de Bolsonaro para adiar depoimento à PF

Nesta segunda-feira (19), Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), negou mais um pedido de adiamento para o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Polícia Federal. Com isso, a data para essa etapa da investigação será mantida para esta quinta-feira (22).

De acordo com Moraes, a decisão é justificada pelo fato de que a defesa do ex-presidente já possui “acesso integral à todas as diligências e provas reunidas aos autos” e, portanto, “não há motivos para qualquer adiamento do depoimento marcado pela Polícia Federal para o dia 22 de fevereiro próximo“.

No mesmo dia, como parte da Operação Tempus Veritatis – que desde o 8 de fevereiro investiga pessoas que poderiam estar envolvidas em uma tentativa de golpe de Estado e abolição da democracia brasileira – também devem prestar depoimentos à PF outros investigados próximos de Bolsonaro, como seus ex-assessores. Outros suspeitos de conspiração incluem ex-ministros e militares do seu governo, muitos dos quais também devem prestar depoimentos, ou ter providências tomadas a seu respeito pela cúpula do Exército.


Bolsonaristas em Brasília durante atos golpistas do 8 de janeiro (Foto: reprodução/AFP/Sérgio Lima)


Investigação da PF

Entre as evidências descobertas até o momento pela Polícia Federal, as mais relevantes divulgadas envolvem dois arquivos: um texto encontrado no escritório de Bolsonaro com ensaio de discurso decretando o Estado de Sítio no Brasil, e um arquivo de vídeo retratando uma reunião ministerial de 15 de julho de 2022, em que o então presidente cobrava a participação dos presentes em uma campanha de desinformação.

No discurso encontrado – documento que a PF confirmou que Bolsonaro analisou e até ajustou – está declarada a intenção de impor no país o Estado de Sítio (suspendendo a autoridade dos poderes Legislativo e Judiciário), e a Garantia da Lei e da Ordem (uso do Chefe de Estado das Forças Armadas), que em conjunto bastam para realizar um golpe e impedir a continuidade do processo democrático.

O texto justifica tais ações a partir da “resistência” a leis injustas, e a “restauração” da ordem no Brasil. Tal discurso, a análise suspeita, combina com as estratégias discutida na reunião gravada, onde ele convocou os participantes para denunciarem supostas fraudes no sistema eleitoral, com argumentos sobre irregularidades em urnas eletrônicas. A campanha de desinformação contra a Justiça Eleitoral teria sido incentivada como forma de justificar medidas em reação.

Daqui pra frente, quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui,“ o ex-presidente afirmou no vídeo.

Severidade do caso

A justificativa utilizada pela defesa de Bolsonaro para adiar o depoimento seria de que ela não possui todos os arquivos e mídias sendo avaliados no caso, o que Alexandre de Moraes refutou. Atualmente, o ex-presidente não pode se reunir ou comunicar com outros investigados para discutir o que vai informar, e ele está privado de seu passaporte para garantir que não fuja do país, como a investigação afirma que ocorreu após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.

Ao todo, são várias medidas para combater quaisquer possíveis irregularidades e demonstrar a severidade do caso – ou seja, para garantir que não ocorram mais eventos como a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro de 2023. A ideia é traçar claros limites contra a interferência no processo democrático brasileiro.

No entanto, parte da oposição já se manifestou chamando as medidas que foram tomadas em relação ao caso de excessivas. O senador Flávio Bolsonaro (PL), por exemplo, já havia em setembro do ano passado, durante sessão da CPI do 8 de janeiro, comparado as prisões dos atuantes no ataque contra a Praça dos Três Poderes com detenções de judeus por nazistas, invocando o Holocausto.

Bolsonaro quer adiar depoimento à PF sobre tentativa de golpe

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro solicitou, nesta segunda-feira (19), o adiamento do depoimento à Polícia Federal. Bolsonaro e dois ex-assessores do presidente foram convocados pela PF por conta de uma investigação do suposto envolvimento em tramas golpistas envolvendo militares e membros do governo. O depoimento está marcado para quinta-feira (22).

Além de tentar adiar o depoimento à PF, a defesa de Bolsonaro pediu acesso à delação premiada feita por Mauro Cid, ex-ajudante de ordem da Presidência e braço direito do ex-presidente.

O que a defesa afirma

Os advogados do ex-presidente enviaram um documento ao Supremo Tribunal Federal (STF) em que Bolsonaro se nega a depor até que sua defesa consiga ter acesso integral aos celulares apreendidos. Um trecho retirado do documento afirma que Jair Bolsonaro “opta por não prestar depoimento ou fornecer declarações adicionais até que seja garantido o acesso à integralidade das mídias dos aparelhos celulares apreendidos, sem abrir mão, por óbvio, de ser ouvido em momento posterior e oportuno”.

Segundo a defesa de Bolsonaro, a operação que investiga a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2022contém excertos de supostas conversas presentes nos celulares apreendidos ao longo de todo este procedimento investigatório, mídias as quais a Defesa não teve acesso até hoje.”

Ainda no documento enviado ao STF, os advogados declaram que Jair Bolsonaro tem o interesse de cooperar com a investigação e comprovar sua inocência, porém, no momento, quer preservar seu direito à ampla defesa.

Bolsonaro na mira da PF

A investigação da Polícia Federal “Tempus Veritatis” veio a público no dia 8 de fevereiro e investiga Bolsonaro, ex-ministros e ex-assessores que estavam no cargo durante o mandato do ex-presidente. A operação está apurando o possível envolvimento de Jair e outros ex-membros do governo na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2022.


Imagem de reunião ministerial do dia 15 de julho de 2022 que embasou operação da PF (foto: reprodução/ vídeo/ O Tempo)

A PF investiga uma reunião ministerial, realizada em 15 de julho de 2022, em que Bolsonaro afirmou aos ministros que eles não poderiam esperar o resultado para agir. O vídeo da reunião foi encontrado no computador de Mauro Cid. Os advogados de defesa do ex-presidente declaram, contudo, que Bolsonaro nunca cogitou realizar um golpe de estado.

Polícia Federal convoca Bolsonaro para depoimento

A Polícia Federal convocou Bolsonaro para testemunhar sobre a tentativa de subversão, estima-se que o ex-presidente será interrogado na quinta-feira (22). Essa informação foi confirmada pelo grupo jurídico de Bolsonaro.

Veja o dia do interrogatório

A Polícia Federal convocou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para dar seu depoimento no contexto da investigação que examina as conspirações golpistas envolvendo membros do governo e das Forças Armadas. Segundo as descobertas, a expectativa é de que o interrogatório aconteça no próximo dia 22.

O advogado Paulo Cunha Bueno, representante de Bolsonaro, ratificou essa informação. A PF encontrou, entre outras evidências, um vídeo de uma reunião na qual Bolsonaro instrui ministros a não esperarem pelo resultado das eleições para agir.

A defesa, contudo, afirma  que o ex-presidente nunca considerou a possibilidade de golpe. Além da gravação, apreendida no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a PF coletou outras evidências que colocam o ex-presidente no cerne da suposta conspiração golpista.


Jair Bolsonaro. (Foto: reprodução/thepolitica.uai)

A PF descobriu a gravação de uma reunião em julho de 2022, na qual Bolsonaro convoca seus ministros para discutir estratégias que evitem uma derrota nas eleições. Naquela época, Bolsonaro antevê a possibilidade de perder a eleição e pede aos ministros que acionem o “plano B”.

Na mesma reunião, um de seus assessores mais próximos, o general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), argumenta que é necessário mudar de rumo logo, antes mesmo do resultado das eleições. A PF ainda encontrou, no escritório de Bolsonaro na sede do PL, um documento com teor golpista que mencionava a possibilidade de decretar um estado de sítio e impor a garantia da lei e da ordem no país.

Veja o que disse a defesa e os aliados de Bolsonaro

Os aliados do ex-presidente, no entanto, alegam que ele não especificou explicitamente sua intenção de golpe. Logo após a operação, a defesa do ex-presidente afirmou que Jair Bolsonaro não teria participado de qualquer movimento que tivesse como objetivo desestabilizar o Estado Democrático de Direito.

Jair Bolsonaro transferiu R$ 800 mil para os EUA antes de viagem, revela investigação da PF

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi alvo de investigação da Polícia Federal (PF) após uma transferência bancária de R$ 800 mil para os Estados Unidos em dezembro de 2022, antes de viajar ao país, segundo revelações da Operação Tempus Veritatis.

A ação da PF resultou na apreensão do passaporte de Bolsonaro e de outros investigados, evidenciando o cenário de incertezas e movimentações suspeitas após a tentativa de golpe de Estado no Brasil.

Conforme documentos obtidos pelo blog, a PF identificou a transferência de recursos para uma conta bancária nos EUA, realizada por Bolsonaro pouco antes de sua viagem. A operação de câmbio, no valor de R$ 800.000, ocorreu em 27 de dezembro de 2022, coincidindo com o período de tensão política no Brasil. A investigação sugere que tal movimentação visava resguardar o ex-presidente de possíveis implicações legais relacionadas aos atos ilícitos investigados.

Possível ligação com desvio de bens e saldo negativo no Brasil


Investigação diz que o ex-presidente viajou para a Flórida no final de seu mandato e transferiu recursos para financiar suas despesas no exterior (reprodução/UOL NOTÍCIAS)

A PF levanta a hipótese de que o montante transferido para os EUA possa incluir recursos provenientes de desvios de bens patrimoniais de alto valor, como no caso da venda de joias oferecidas pela Arábia Saudita ao governo brasileiro.

Além disso, após a transferência, Bolsonaro teria registrado um saldo negativo em sua poupança no Brasil, no valor de R$ 111 mil, posteriormente coberto por recursos de um fundo de investimentos.

Desdobramentos da investigação

A Operação Tempus Veritatis resultou na apreensão dos passaportes de Bolsonaro e de outros investigados, incluindo o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. A PF sustenta que a não consumação do golpe de Estado levou diversos investigados a deixarem o país, sob justificativas como férias ou descanso, destacando a preocupação com a possibilidade de condenação criminal e a facilidade de saída do país com passaportes oficiais.

Até o momento, a defesa de Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre as revelações da investigação da PF.

Defesa de Bolsonaro aciona o STF para que Moraes seja impedido de conduzir julgamento sobre tentativa de golpe de Estado 

Nesta quarta-feira (14), a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando o impedimento do ministro Alexandre de Moraes como relator das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. 

O recurso utilizado pelos advogados do ex-presidente foi endereçado ao presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso. No entanto, pedidos similares já foram negados pelo presidente da Corte anteriormente. 


Defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro pede afastamento de Moraes como relator do caso sobre tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (foto: Reprodução/Valter Campanato/Agência Brasil)

O que pede a defesa

O recurso, nomeado de “arguição de impedimento”, pede para que o presidente do STF impeça o ministro Alexandre de Moraes de realizar qualquer ato processual, visto que “seria nítido o interesse” do magistrado no caso. Isso porque, segundo a defesa de Bolsonaro, Moraes não poderia atuar como relator de uma investigação que, segundo a Polícia Federal, teria como finalidade “a prisão do próprio Ministro Alexandre de Moraes, na oportunidade já Presidente do Tribunal Superior Eleitoral”.

Nesse contexto, o documento enviado pela defesa do ex-presidente afirma que decisões tomadas por Moraes em toda investigação, como a autorização de mandados de busca e apreensão na última quinta-feira (8), revelam uma “narrativa” do magistrado de se colocar “no papel de vítima central das supostas ações que estariam sendo objeto da investigação, destacando diversos planos de ação que visavam diretamente sua pessoa”. Dessa forma, para a defesa, o atual relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, não tomaria decisões de maneira imparcial e, por isso, deveria ser impedido de atuar como relator do caso. 

“Não se ignora e nem poderia se ignorar o notório saber jurídico do il. Ministro Alexandre de Moraes, sendo um jurista academicamente qualificado e experiente, contudo é inescapável que, como todo ser humano, possa ser influenciado em seu íntimo, comprometendo a imparcialidade necessária para desempenhar suas funções”. 

“Ao longo das 135 laudas da decisão, mais de 20 (vinte) menções à pessoa do Relator são feitas, bem como são delineados episódios que expõem a vulnerabilidade do magistrado frente a suposto monitoramento e plano elaborado pelos investigados, delineando um contexto que torna evidente e fortemente questionada a sua imparcialidade objetiva e subjetiva para decidir nestes autos, dada sua posição de vítima”.

Explicam os advogados de Bolsonaro em documento enviado ao STF nesta quarta-feira (14)..

A investigação

De acordo com as apurações da Polícia Federal, o núcleo em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro organizava e projetava a disseminação de uma possível fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo do pleito, atuando assim, como uma organização criminosa que tentou viabilizar e legitimar a tomada do Estado Democrático de Direito. 

Além disso, as investigações também afirmam a existência de pelo menos três planos organizados pelos golpistas contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes. 

Em entrevista ao Globo, Moraes revelou que, segundo as investigações, os planos traçados contra ele foram desde a pretensão de que as Forças Especiais do Exército o prenderiam e o levariam para Goiânia, até o seu enforcamento na Praça dos Três Poderes.

Documento com discurso golpista é encontrado no escritório de Bolsonaro

Nesta quinta-feira (8), durante a execução da Operação Tempus Veritatis, que investiga o planejamento de um golpe de Estado que havia sido planejado por Jair Bolsonaro e seus aliados em 2022, a Polícia Federal encontrou um documento que aparenta ser o rascunho de um discurso defendendo e anunciando a decretação de um Estado de Sítio no Brasil.

Defesa de Bolsonaro

De acordo com a defesa do ex-presidente, o documento só se encontrava em sua sala, na sede do Partido Liberal (PL), porque este foi enviado por celular e impresso com o intuito de tornar Bolsonaro ciente dele, de modo que ele “pudesse tomar conhecimento do material dos referidos arquivos.”

Supostamente, Bolsonaro apenas tomou conhecimento desta minuta no dia 18 de outubro de 2023, quando o seu advogado, Paulo Amador da Cunha Bueno, realizou esse envio. O documento contém um discurso detalhado de forma a justificar um golpe de Estado, com base na Garantia da Lei e da Ordem (GLO – uma ação militar em que o presidente da República ordena as Forças Armadas) brasileira.


Documento encontrado pela PF argumenta em favor da decretação do Estado de Sítio (Foto: reprodução/g1)


O ex-Presidente — desconhecendo o conteúdo de tais minutas — solicitou ao seu advogado criminalista, Dr. Paulo Amador da Cunha Bueno, que as encaminhasse em seu aplicativo de mensagens, para que pudesse tomar conhecimento do material dos referidos arquivos,” comentou a defesa de Bolsonaro em nota. “A impressão provavelmente permaneceu no local da diligência de busca e apreensão havida na data de hoje, que alcançou inclusive o gabinete do ex-Presidente.

De acordo com a defesa, o documento, não-assinado, não era do conhecimento de Bolsonaro durante as eleições de 2022, e alegou a sua “distância de qualquer empreitada ilegal”, negando o envolvimento do ex-presidente em qualquer suposto plano para realizar um golpe e evitar a eleição, do atual presidente, Lula (PT).

No entanto, a operação desta quinta que investiga o plano de ruptura – que incluía, segundo a PF, a prisão de inimigos políticos como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, e Rodrigo Pacheco – já é fundamentada em vários casos registrados de falas antidemocráticas entre aliados de Bolsonaro.

Por exemplo, além dos ministros e assessores investigados, entre os militares há Augusto Heleno, que afirmou em julho de 2022 que antes da disputa eleitoral era necessária uma “virada de mesa, um soco na mesa,” e Braga Netto, que a PF captou chamando outro general, Freire Gomes, de “cagão” por não ter aderido ao plano golpista.

Documento

Logo, ainda não pode ser desconsiderada a hipótese de que o documento foi de fato criado de forma a integrar um suposto golpe de Estado. Tendo essa possibilidade em mente, cabe ainda analisar o discurso encontrado pela operação, e aguardar a finalização das investigações, que devem informar um parecer prévio.

Afinal, diante de todo o exposto, e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o estado de Sítio e, como ato contínuo, decreto operação de garantia da lei e da ordem,” diz o parágrafo final da minuta encontrada no escritório de Bolsonaro.

O texto cita Aristóteles, e afirma que a resistência a “leis injustas” é um “princípio do iluminismo.” Em conjunto com a declaração de Estado de Sítio (temporariamente suspendendo a autoridade dos poderes Legislativo e Judiciário) e a Garantia da Lei e da Ordem (uso do Chefe de Estado das Forças Armadas), tudo indica que o documento anuncia um golpe militar em discurso. Apenas resta, para comprovar o planejamento de um plano golpista, verificar a autenticidade do documento, em que as investigações devem brevemente focalizar seus esforços.