Cade recomenda condenação da Apple por práticas anticompetitivas no iOS

A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recomendou, nesta segunda-feira (30), a condenação da Apple por supostas práticas anticompetitivas no ecossistema iOS. A investigação teve início em 2022, após uma denúncia protocolada pela Ebazar.com.br e pelo Mercado Livre, que acusaram a gigante de tecnologia de abusar de sua posição dominante no mercado de distribuição de aplicativos para dispositivos da marca.

Empresa é acusada de impor restrições

Segundo o órgão, a Apple impõe uma série de restrições aos desenvolvedores que comercializam conteúdos digitais dentro da App Store, como a exigência de utilização exclusiva do sistema de pagamento da própria empresa nas transações que envolvem bens e serviços digitais. Além disso, a empresa também restringiria a comercialização de serviços digitais de terceiros, limitando a concorrência dentro de sua plataforma.

Cade sugere multa e mudanças

Para a Superintendência-Geral, essas condutas caracterizam infrações à ordem econômica, uma vez que criam barreiras artificiais à entrada de concorrentes e prejudicam o ambiente competitivo. A recomendação é que a Apple seja penalizada com a aplicação de multa e a adoção de remédios comportamentais que visem eliminar os efeitos anticompetitivos das práticas. Entre as medidas sugeridas estão o fim das exigências exclusivas de pagamento e a flexibilização das regras impostas a desenvolvedores.


Apple vs CADE(Foto: reprodução/blogdoiphone/João Pedro Costa)

Em nota, a Apple declarou estar preocupada com o impacto das medidas propostas sobre a experiência dos usuários, além de alertar para “novos riscos à privacidade e à segurança” dos consumidores. A empresa afirmou ainda que continuará dialogando com o Cade para defender os interesses tanto dos usuários quanto dos desenvolvedores que utilizam sua plataforma.

O processo segue agora para julgamento pelo Tribunal do Cade, responsável pela decisão final sobre o caso. Até o momento, o Mercado Livre não comentou a recomendação do órgão regulador.

A investigação do Cade segue uma tendência internacional de maior escrutínio sobre o modelo de negócios da Apple e suas práticas em torno da App Store. Diversos órgãos reguladores em países como Estados Unidos, União Europeia e Japão já abriram investigações semelhantes, questionando a obrigatoriedade do uso do sistema de pagamento da Apple e a cobrança de comissões consideradas elevadas — que podem chegar a 30% sobre cada transação. As críticas se concentram no fato de que essas políticas reduzem a margem de lucro dos desenvolvedores e encarecem os serviços para os consumidores finais.

Especialistas em direito concorrencial apontam que o posicionamento da Superintendência-Geral do Cade é um marco relevante para a regulação do setor de tecnologia no Brasil. A recomendação sinaliza que práticas consideradas padrão por grandes empresas de tecnologia não serão mais toleradas sem análise crítica por parte das autoridades. Caso o Tribunal do Cade acompanhe a decisão, a Apple poderá ser forçada a abrir seu sistema a métodos de pagamento alternativos e revisar suas políticas de operação na App Store brasileira, o que teria implicações diretas para o mercado local de aplicativos e serviços digitais.

Cade exige abertura do ecossistema da Apple no Brasil

Desde 2022, a Apple vem enfrentando pressão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no Brasil para permitir práticas como o sideloading, que consiste em instalar aplicativos de fontes externas, e a liberação de pagamentos de terceiros na App Store. A decisão do Cade foi motivada por uma queixa do Mercado Livre, prevê multa diária de R$ 250 mil caso a empresa não abra seu ecossistema.

Decisões semelhantes em outros mercados

O embate se alinha a decisões semelhantes na Europa, onde a União Europeia aprovou a Lei de Mercados Digitais, exigindo mudanças no sistema fechado da Apple.

De acordo com os reguladores, a prática da empresa é considerada anticompetitiva, uma vez que limita a concorrência no mercado de aplicativos e serviços digitais.

Na última semana, representantes da App Store vieram ao Brasil para discutir o tema com agentes do setor. A Apple, no entanto, argumenta que a abertura do ecossistema traria riscos significativos, como aumento de ciberataques e prejuízos à segurança dos usuários. “O sideloading expandiria o universo de ataques, tornando o iPhone mais vulnerável e incentivando cibercriminosos”, declarou a empresa em comunicado emitido recentemente.


Gigante da tecnologia enfrenta desafios com regulamentadoras (Foto:reprodução/The Image Bank Unreleased/Paul Souders/Getty Images Embed)


Outro ponto levantado pela gigante da tecnologia é que mesmo usuários que preferem não realizar o sideload poderiam ser prejudicados. “Eles podem ser forçados a transferir aplicativos essenciais para trabalho ou escola caso esses não estejam disponíveis na App Store. Além disso, hackers poderiam imitar a aparência da loja oficial para enganar os usuários”, alertou a Apple, justificando a importância das atuais políticas para os seus produtos.

Impacto econômico

A empresa também destacou o impacto econômico do seu ecossistema no Brasil, responsável por mais de 275 mil empregos e um crescimento de 56% nos últimos anos. Contudo, a pressão regulatória vem aumentando, com questionamentos sobre como equilibrar segurança digital e competitividade no mercado. A decisão final pode moldar o futuro da relação entre empresas de tecnologia e reguladores no Brasil, assim como aumentar a já grande tensão da empresa com outros reguladores mundo afora.