Tragédia climática no Rio Grande do Sul: Fortes chuvas deixam o Estado inteiro em alerta

O Rio Grande do Sul vive um dos momentos mais desafiadores de sua história recente, com uma sucessão implacável de chuvas que já perdura por uma semana. O estado inteiro encontra-se em estado de calamidade, enquanto o número de vítimas fatais aumenta para 24 e dezenas de pessoas permanecem desaparecidas em meio às águas turvas das enchentes.

Meteorologistas apontam para a conjunção de múltiplos fenômenos climáticos como responsáveis por esta tragédia, agravada pelas mudanças climáticas. As previsões são sombrias, sugerindo que a intensidade das chuvas persistirá nos próximos dias, exacerbando ainda mais os danos já causados.

O alerta inicial foi emitido em 26 de abril pelo Instituto Nacional de Meteorologia, prevendo tempestades para o estado. Desde então, as precipitações têm aumentado gradativamente, desencadeando uma série de consequências devastadoras em toda a região.

Motivos para o agravamento da situação

A calamidade que assola a região é resultado de uma interação complexa entre diversos elementos, conforme apontam os especialistas. Primeiramente, um cavado combinado com uma corrente de vento intensa influenciou a área, gerando instabilidade climática. Esse cenário foi agravado pela presença de um corredor de umidade vindo da Amazônia, que intensificou as chuvas.

Além disso, um bloqueio atmosférico causado por uma onda de calor exacerbou a situação, concentrando as precipitações nos extremos e deixando o centro do país seco e quente.

Embora a região já estivesse enfrentando instabilidade climática nos dias anteriores, a combinação desses elementos intensificou a chuva. Várias frentes frias que normalmente se dissipariam para outras áreas foram impedidas devido ao bloqueio atmosférico, resultando em um impacto generalizado sobre o Rio Grande do Sul.

Mais motivos para o agravamento da situação do Estado

O aumento da temperatura da Terra e dos oceanos influencia a atmosfera, potencializando a ocorrência de fenômenos climáticos extremos.

Os especialistas explicam que o Sul do Brasil já possui condições propícias para tempestades nesta época do ano, porém, o que seria um evento isolado transformou-se em uma catástrofe devido à intensificação dos fenômenos climáticos.


Rio Grande do Sul é atingido por fortes chuvas (Fotografia: Reprodução/Força Aérea Brasileira)

Marcelo Seluchi, coordenador da equipe de monitoramento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), destaca que a soma dessas condições criou um cenário que pode resultar no maior volume de chuva já registrado na história do estado.

As previsões indicam que essa condição persistirá até sábado (4), com acumulações que podem alcançar até 400 milímetros, adicionando-se aos mais de 300 milímetros registrados nos últimos quatro dias.

Jogos de Grêmio, Internacional e Juventude são adiados devido às fortes chuvas

Na última quarta-feira (1), a CBF publicou uma nota dizendo que adiou as partidas do Campeonato Brasileiro dos times do Rio Grande do Sul, como mandantes e visitantes. Este adiamento ocorre pela situação de emergência vivida no estado depois dos temporais recentes. Mais de 100 cidades registraram transtornos, como por exemplo, inundações, quedas de barreiras e deslizamentos de terra. Até o momento, foram registradas 10 mortes.

Jogos cancelados

No próximo domingo (5), às 16h, o Grêmio iria receber o Criciúma, na Arena. Na segunda-feira, o Juventude tinha um jogo com o Atlético-GO, às 20h, no Alfredo Jaconi. Já o Internacional iria enfrentar o Cruzeiro, no sábado, às 21h, no Mineirão. O documento divulgado pela CBF ainda cita que os jogos foram adiados por fora maior.


CBF adia os jogos dos times do Rio Grande do Sul (foto:reprodução/site da CBF)

A CBF já tinha adiado o jogo da terceira fase da Copa do Brasil entre Internacional e Juventude, que seria disputado nesta quarta-feira (1), às 21h30, no Beira Rio. O time alviverde não conseguiu sair de Caxias do Sul devido aos bloqueios em estradas. Os jogos entre Inter e São Paulo pelo Brasileiro Feminino e Inter e Goiás pelo Brasileiro Feminino sub-20, que ocorreriam na quarta, também foi adiado.

A medida da CBF é válida para todas as divisões do futebol brasileiro que teriam jogos no Rio Grande do Sul. A Série C teria São José e Volta Redonda; e Ypiranga contra o Náutico em Recife. Na série D, Novo Hamburgo jogaria com o Barra. A Federação Gaúcha de Futebol já tinha adiado toda a rodada da Divisão de Acesso.

Situação do Rio Grande do Sul

Nesta quarta-feira, Eduardo Leite, o governador do Rio Grande do Sul, disse que o temporal que atinge a região desde segunda “será o maior desastre do estado”. O governador ainda comparou a situação com as tragédias de 2023, que mataram diversas pessoas, e admitiu a dificuldade de resgatar todas as pessoas afetadas.

Microexplosões atmosférica podem causar aumento de chuvas na Região Sul

Segundo meteorologistas, a Região Sul deve enfrentar um fenômeno chamado de microexplosão atmosférica e fortes tempestades nesta quinta-feira (02). O Sul do país vem sofrendo com temporais desde a segunda-feira (29) que já causaram mortes e estragos em algumas cidades, mas isso pode aumentar muito com o fenômeno. 

Microexplosões

As microexplosões são casos onde uma alta corrente de vento se desprende das nuvens de tempestade e atinge o solo, elas costumam ocorrer quando existe uma divergência envolvendo a temperatura e a mudança na direção dos ventos de uma região. Os estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul serão os mais afetados pelo fenômeno natural, podendo apresentar prejuízos e perigos grandes. 


Corpo de bombeiros salvando vítimas do temporal (Foto: reprodução/Instagram/@cbmrsoficial)


O meteorologista Marcelo Schneider do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informou ao Jornal Nacional que uma microexplosão aconteceu na cidade de Santa Cruz do Sul (RS), no último sábado (26). O município é um dos mais atingidos pelos fortes temporais da região, com diversos pontos de inundação, casas ilhadas e ruas bloqueadas pelos destroços da chuva, até agora três mortes já foram confirmadas pela cidade. 

A previsão para a quinta é de chuvas acima de 100 milímetros, podendo chegar a 200 milímetros. As rajadas de vento serão de até 100 km/h, com alta probabilidade de raios, granizos e outras inundações, além de transbordamento de rios e deslizamentos. Essas mudanças podem ser mais fortes devido à chegada de uma frente fria em Santa Catarina.

O tempo em outras regiões

Outras regiões do Brasil também enfrentam chuvas, mas com menos intensidade das apresentadas no Sul. O Norte do país tem previsão para 25 milímetros de chuva que deverá atingir os estados do Macapá, Boa Vista, Manaus e Belém.


Alagamento ocasionado pelas chuvas (Foto: reprodução/Instagram/@governo_rs)

As chuvas também aparecerão no Nordeste, mais especificamente em Fortaleza, Maceió, Aracaju e São Luís, o Centro-Oeste e Sudeste devem apresentar tempo ensolarado com calor, resultado de um bloqueio atmosférico que dificulta a passagem da frente fria, fazendo com que elas fiquem no Sul. 

Para o mês de maio, é previsto que o calor domine o país, o frio deverá iniciar na última semana do mês no Rio Grande do Sul e no leste de São Paulo. 

Tragédia em Dubai: chuvas desproporcionais causam inundações

Nessa terça-feira (16) ocorreu uma tragédia, causada por fortes chuvas em Dubai, que faz fronteira ao sul e ao oeste com a Arábia Saudita, ao noroeste com o Qatar, e ao norte com o Golfo Pérsico.

O acontecimento chamou a atenção porque a região predominantemente quente e seca a maioria do ano, e também por ser um deserto, agora sofre com grandes e desproporcionais inundações, que podem ter sido causadas pelo cálculo desmedido da “semeadura de nuvens” ou “cloud seeding”.

A técnica consiste na intervenção humana de bombardear nuvens com produtos químicos específicos, como iodeto de prata ou gelo seco.

O governo de Dubai aplica a técnica regularmente

Para provocar chuvas e aumentar a disponibilidade de água na região de deserto, a prática é comumente reconhecida pelos habitantes da região, pois os Emirados Árabes são dependentes da maior parte das usinas de dessalinização para obter água potável, que é processo caro e que demanda muita energia.

Desse modo, de tempos em tempo o país necessita utilizar a semeadura de nuvens para aumentar o nível de água no subsolo.

Investigando os fatos

Conforme a AP, meteorologistas locais relataram que o Centro Nacional de Meteorologia realizou seis ou sete voos de “semeadura de chuvas” antes das tempestades que ocorreram na cidade, e a agência de notícias identificou registros de monitoramento de aviões de pelo menos um desses voos.

Já um jornal conectado ao governo, reportou as autoridades, relatando que não houve voos do tipo na terça-feira, e não citou a ocorrência nos dias anteriores. A Associated Press averiguou com o Centro Nacional de Meteorologia, contudo, não obteve resposta.

Motoristas dirigem em rua inundada após fortes chuvas em Dubai (reprodução/GettyImages/GIUSEPPE CACACE)


Submersos em menos de 48 horas

Dubai registrou no período de quase dois dias, 142 milímetros de chuva, enquanto o volume previsto para um ano é de 94,7 milímetros. Os números somados foram os maiores, em pelo menos 75 anos, resultando na tempestade mais intensa dos últimos tempos.

Ainda na quarta-feira (17) era possível presenciar diversos carros abandonados nas grandes avenidas da cidade, ainda cobertos pelas enchentes. A tragédia também afetou o funcionamento do aeroporto internacional de Dubai, inundado pelas águas das fortes chuvas.

Reservas subterrâneas de água estão se esgotando, aponta pesquisa

Nesta quarta-feira (24), uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia (em Santa Bárbara, Estados Unidos) apontou que em diversas partes do mundo foi registrado o esgotamento de reservas subterrâneas de água. Essa afirmação vem da pesquisa que efetuou a análise dos medidores de nível d’água de 170 mil poços em mais de 40 países.

Pesquisa movida pela curiosidade

A professora associada do Programa de Estudos Ambientais da Universidade da Califórnia e coautora do estudo, Debra Perrone, afirma que o estudo foi realizado por conta da curiosidade e também com a intenção de compreender melhor a situação em que se encontram as águas subterrâneas, que factualmente têm suma importância na vida de diversas pessoas em diversos aspectos de uso, como por exemplo, para irrigação e hidratação.

Estes aquíferos são extremamente importantes para pessoas que vivem em partes do mundo como o noroeste da Índia e o sudoeste dos Estados Unidos, onde as chuvas e a água superficial não são frequentes. “Este estudo foi movido pela curiosidade. Queríamos compreender melhor o estado das águas subterrâneas globais, analisando milhares de medições do nível das águas subterrâneas” – explica Debra Perrone.


Reservatório subterrâneo (foto: reprodução/mundogeo)

A ação executada pelos pesquisadores é importante tanto por evidenciar a situação em que se encontram as águas subterrâneas, quanto para ajudar outros cientistas e pesquisadores a entender melhor qual é o impacto do ser humano neste atual cenário, que podem variar do uso excessivo da água até a mudança climática causada pelo próprio ser humano que, dessa forma, pode ter alterado as chuvas de determinados locais e assim prejudicado as reservas d’água.

Dados coletados através do estudo

Foi descoberto pelos autores da pesquisa que, entre os anos de 2000 e 2022, o nível das águas subterrâneas diminuíram. Foi observado que essa diminuição foi de 71% em 1.693 sistemas aquífero analisados, tendo em 36% dos casos uma média de diminuição de 0,1 m por ano, indicando 617 dos locais analisados.

A taxa de declínio mais veloz dentre as analisadas, foi a do Aquífero Ascoy-Soplamo (localizado na Espanha), que corresponde a uma redução média de 2,95 m por ano. Scott Jasechko, professor associado da Escola Bren de Ciência e Gestão Ambiental, da Universidade da Califórnia, informou através de e-mail que diversos lugares desenvolveram estratégias para lidar com esta condição, mas pontuou também que estes casos são raros.

Chuvas intensas mostram deficiências nos sistemas de drenagem das cidades

As chuvas intensas ocorridas em janeiro evidenciam a deficiência do sistema de drenagem nas cidades brasileiras. O perigo representado por chuvas cada vez mais intensas, tem assustado a população, especialmente diante do aumento frequente dos alertas de chuvas intensas. Isso leva algumas pessoas a monitorarem constantemente o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, 24 horas por dia, buscando se preparar para uma possível situação de emergência.

Sistemas atuais não conseguem lidar com chuvas atuais

“A verdade é que estamos vivenciando um novo normal, e, sob essa perspectiva, essas chuvas não podem mais ser consideradas extremas, pois não são tão raras”, destaca o pesquisador do Cemaden, Pedro Ivo Camarinha, ao G1. Ele também explica que as imagens se tornaram mais frequentes devido aos sistemas não conseguirem mais lidar com a intensidade das chuvas, uma vez que não foram projetados para suportar os grandes volumes observados atualmente.

“Volumes muito além do que os sistemas foram projetados para suportar são atingidos, ou do que as encostas têm capacidade de suportar. Portanto, é mais provável que tenhamos situações em que essas capacidades sejam ultrapassadas, resultando nos transtornos materializados nessas áreas”

Pedro Ivo Camarinha

Enchentes causadas pelas chuvas tem como uma das consequências a paralização de vias de grande movimento de carros (Foto: reprodução/X/@ProfAdelino_)

O professor da USP, José Carlos Mierzwa, explica que a engenharia busca soluções para ganhar tempo, sendo os tanques de armazenagem uma das opções usadas em sistemas mais modernos. “É retardar o escoamento da água da chuva. Se em cada local você acumular um pouco, consegue liberar de forma controlada. Isso minimiza os efeitos da inundação, como no caso dos piscinões, que funcionam mais ou menos dessa forma. Eles retêm a enchente e depois liberam em uma vazão controlada”, detalha Mierzwa.

Áreas verdes podem ser vistas como solução

Outra solução encontrada, de fácil adaptação, é a criação de áreas verdes. Elas podem ser estabelecidas rompendo o asfalto em espaços que não necessitam ser extensos, muitas vezes passando despercebidas pela maioria das pessoas. No entanto, ao final do dia, essas áreas verdes contribuem significativamente para o processo de drenagem das chuvas.

Atualmente, muitas cidades trabalham contra o tempo em busca de soluções, devido à promessa de aumento na intensidade das chuvas em um futuro próximo. A urgência em lidar com essa situação é evidente diante dos desafios apresentados pelo cenário climático em transformação.